Fotografias cedidas por Apeles Duarte e Brasilina Teimosina
O CANO DO PINA
Clóvis Campêlo
Há quarenta nos atrás, amigos, era difícil imaginar a paisagem da praia do Pina sem aquele cano. Em torno dele, cresceram várias gerações de pinenses. Ali, nas peladas de futebol realizadas quando a maré estava baixa, formaram-se vários craques que depois despontariam no futebol pernambucano e no futebol brasileiro. Ali, também, por conta dos excrementos expelidos pelo cano, a alimentação farta atraia peixes e pescadores. Assim, o cano nos parecia eterno.
Mas, não era. Em março de 2004, quando a Prefeitura da Cidade do Recife fez um trabalho de revitalização da praia naquela área, o cano, que estava encoberta pela areia, foi redescoberto. Segundo matéria publicada no Diário de Pernambuco do dia 10 de março de 2004, entendeu a CPRH, hoje chamada de Agência Estadual de Meio Ambiente, que o cano, mesmo em desuso, funcionava como um elemento de poluição da praia. Ordenou, então, à Prefeitura que o retirasse.
Na verdade, não foi levada em consideração por nenhum daqueles técnicos a importância histórica daquela construção. Instalado em 1915, funcionava como um emissário submarino que trazia os dejetos tratados desde a estação de saneamento do bairro da Cabanga, do outro lado da bacia do Rio Pina, integrando o primeiro sistema de tratamento sanitário da cidade do Recife. Assim, o artefato com aproximadamente um metro de diâmetro, na época da sua demolição pertencente à Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), e que durante muito tempo foi usado como saneamento e esgoto da zona sul da cidade, foi retirado da paisagem da praia permanecendo apenas na memória dos seus antigos frequentadores.
Portanto, construído e instalado antes mesmo da ponte do bonde, de 1920, a primeira a interligar o Pina com a Cabanga, e antes da construção da Avenida Herculano Bandeira, que só ocorreria em 1926, o antigo cano fazia parte da história e crescimento do bairro, e deveria ter merecido por parte dos poderes constituídos uma maior atenção para a preservação da sua memória e importância histórica.
Confesso que para escrever esse pequeno artigo, vasculhei o google, com o seu acervo maravilhoso de informações disponibilizadas para todos, indiscriminadamente, e pouco encontrei sobre a história do cano do Pina. No que se refere a fotografias ou qualquer outro registro iconográfico, nada foi encontrado para ilustrar esse texto memorialista.
O Pina hoje é um bairro moderno, recortado por largas avenidas, e que vem perdendo de forma galopante a sua identidade cultural e histórica. Alguns culpam a especulação imobiliária por essa mudança. Prefiro dizer que é o preço do progresso e contra isso toda luta será inglória. Às pessoas, como eu, que viveram essa e outras épocas, talvez caiba o papel de tentar fazer esse resgate, embora não seja um trabalho fácil.
Recife, agosto 2014
8 comentários:
A história do Pina pode ser dividida em antes e depois do cano. A sua construção e instalação foi um marco na entrada do Recife na modernidade. Sua derrubada, embora possa ter marcado afetivamente muitos, abriu-nos a porta do futuro.
"Um belo texto de Clóvis Campêlo que retrata o simbolismo do nosso "Cano do Pina" que identifica várias gerações que tiveram o privilégio de conviver em nosso bairro, ressaltamos ainda está fotografia, como mesmo revela o autor do texto, uma verdadeira raridade e que nos foi disponibilizada por José Roberto Porciuncula irmão do autor (João Olímpio Porciúncula), de um livro sobre o Pina, eles são filhos de D. Cacilda Porciúncula, professora e dona do Instituto Santa Rita de Cássia e que era situado à Rua Carlos Lira Filho (Pátio da feira do Pina);"
Onde exatamente ficava no pina?
Extraordinário! Minha infância foi marcada pelas aventuras inúmeras que teve participação direita deste preciso artefato! O cano do Pina foi o senário de muitas alegrias, a perigosa aventura de andar por cima de sua estrutura escorregadia o mais distante possível... Os lindos peixes coloridos ao redor... Os mergulhos de cima dele... E para os mais ousados a travessia por baixo do cano... Meu Deus ainda posso sentir o cheirinho da maresia empreguinado em sua estrutura... Ao seu lado esquerdo o trapeó e os pequenos barcos de pesca... A direita as aventuras de uma pelada que parecia não ter fim... Memórias ainda guardadas na lembrança de dias inesquecíveis que não teriam tanto brilho sem a presença deste ilustre e memorável artefato...
Extraordinário! Minha infância foi marcada pelas aventuras inúmeras que teve participação direita deste preciso artefato! O cano do Pina foi o senário de muitas alegrias, a perigosa aventura de andar por cima de sua estrutura escorregadia o mais distante possível... Os lindos peixes coloridos ao redor... Os mergulhos de cima dele... E para os mais ousados a travessia por baixo do cano... Meu Deus ainda posso sentir o cheirinho da maresia empreguinado em sua estrutura... Ao seu lado esquerdo o trapeó e os pequenos barcos de pesca... A direita as aventuras de uma pelada que parecia não ter fim... Memórias ainda guardadas na lembrança de dias inesquecíveis que não teriam tanto brilho sem a presença deste ilustre e memorável artefato...
Próximo ao Cassino Americano. Acho que depois um pouco.
Eita coisa Boa essa imagem gentem 👏👏👏meu marido é pinense ele fica todo bobo quando vê essas memórias ele morava na Rua A e a mãe dele era dina de barco de pesca e conhecida como Juju, 👏👏👏recordar é viver 😘bom dia aos pinenses.
CONHEÇO MUITO BEM ESSE LUGAR, MEUS PAIS FOI MORAR LÁ NO PINA EM 1959 EU TINHA 8 ANOS DE IDADE E TOMEI MUITO BANHO NA PRAIA DO PINA E MERGULHEI MUITO DESSE CANO PESQUEI MUITO, ME FEZ VOLTAR AO TEMPO DE CRIANÇA QUE SAUDADE, MOREI NA 1ª TRAVESSA DE SÃO PEDRO A CASA AINDA ESTÁ LÁ Nº 14, HOJE MORO NA CAXANGÁ.
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