quinta-feira, 25 de junho de 2015

Quando a história é mal contada!











Fotografias de Clóvis Campêlo/2015

QUANDO A HISTÓRIA É MAL CONTADA!

Clóvis Campêlo

Como diz o escritor Urariano Mota, muito pouca gente sabe que o que está ruim ainda pode ficar pior. É o caso, por exemplo, do Forte de Nossa Senhora do Pau Amarelo, na praia do Pau Amarelo, na cidade do Paulista, no litoral norte de Pernambuco.
Segundo a Wikipédia, o monumento, de propriedade da prefeitura do município, foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 24 de maio de 1938, sob o número 84 no Livro das Belas Artes. Mesmo assim, encontra-se atualmente em condição inadequada de conservação, com as paredes da parte superior da edificação pichadas, e o que é pior, repleto de lixo e excrementos humanos e animais. Visto de fora, conforme as fotografias acima, ainda apresenta um aspecto imponente e belo, mas, não se pode dizer o mesmo da parte superior.
Ainda segundo a Wikipédia, na sua parte inferior, que estava fechada quando da nossa visita, de acordo com o convênio assinado em 2001, entre a Prefeitura do Paulista e o Instituto de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico e Científico (IPAD) para restauração do forte, estava incluído o disciplinamento do comércio local, a instalação de um posto do Banco do Brasil e um outro da Polícia Militar, além da transformação de uma quadra já existente na frente do Forte em uma praça para grandes eventos. Além disso, nas salas existentes no andar térreo, que já chegaram a ser invadidas por famílias de baixa renda, iriam ser instaladas lojas de artesanato, um centro de informações turísticas e um museu histórico da cidade. Pelo estado de conservação do monumento hoje, porém, não acreditamos que isso tenha acontecido. A quadra em frente ao Forte continua ociosa e ocupada por vendedores de comidas típicas.
De positivo, porém, observamos que as construções irregulares que haviam no entorno do Forte (bares e barracas) foram demolidas. Ao mesmo tempo as ruas que cercam o patrimônio histórico foram calçadas, facilitando o acesso ao prédio. O avanço do mar na área, obrigou as autoridades competentes a construírem um pequeno muro para a contenção das águas marinhas. Desse modo, a praia que existia no local ficou prejudicada, principalmente quando a maré está alta. A grande quantidade de coqueiros que havia na praia, a alguns anos atrás, também foi derrubada pelo avanço da maré.
Segundo o site da Fundação Joaquim Nabuco, existe ainda no local uma capela, cuja padroeira é Nossa Senhora dos Prazeres, salientando que o início da povoação de Pau Amarelo data da construção do Forte, no século XVIII.
Lamentamos, portanto, que o monumento hoje ainda não esteja numa condição que faça jus ao seu valor de patrimônio histórico de Pernambuco. O Forte do Pau Amarelo, ao lado dos outros fortes que ocupam espaços na cidade do Recife e em outras cidades do nosso litoral, integra um sistema de defesa concebido pelos nossos colonizadores portugueses para a sua proteção. Interessante seria que esse circuito histórico fosse valorizado e sistematicamente utilizado como forma de incremento turístico em nosso Estado.
A nossa história precisa ser melhor contada!

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Frank Sinatra e a Grande Nação Pesqueirense


FRANK SINATRA E A GRANDE NAÇÃO PESQUEIRENSE

Clóvis Campêlo

O que teria o cantor americano Frank Sinatra a ver com a cidade de Pesqueira? Aparentemente nada!
Situada no sertão de Pernambuco, no Planalto da Borborema, a uma altitude de 615 metros e a 215 quilômetros do Recife, segundo o Censo 2014, possui pouco mais de 65 mil habitantes. Para muito mais gente, cantou Frank Sinatra no Brasil, em janeiro de 1980, quando colocou para assisti-lo e escutá-lo, no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, cerca de 170 mil pessoas. Ou seja, quase o triplo da população atual de Pesqueira.
Não sei se Sinatra chegou a vir outras vezes ao Brasil. Afinal, naquela época, ainda não estávamos inseridos no roteiro dos grandes shows internacionais, como hoje. Mas, a voz e o carisma de Sinatra, com certeza, no bojo dos grandes meios da comunicação moderna, o levaram até a cidade interiorana, onde fomentou um fã-clube respeitável nos cidadãos nascidos no pós-guerra, senhoras e senhores hoje ostentando 70 ou mais anos.
Uma outra verdade inquestionável: hoje, no Recife, existe um grande número de pesqueirenses que para aqui vieram em busca de melhores condições de estudo e de trabalho. Afinal, a vinte ou trinta anos atrás, Pesqueira ainda não apresentava a estrutura de cidade que hoje apresenta. Esse pessoal forma um grupo chamado de Grande Nação Pesqueirense que se reúne todo segundo sábado de cada mês, na sede do Círculo Militar do Recife. O encontro começa por volta do meio dia e se estende até as quatro horas da tarde. É tão animado e bem frequentado, que até pessoas nascidas em outras cidades pernambucanas, como Tabira, começaram a prestigiá-lo, formando um outro grupo especial dentro do grande grupo.
Foi lá que reencontrei, por exemplo, Carlos Celso Cordeiro, grande pesquisador do futebol pernambucano, com vários livros lançados, tabirense de nascimento, que conheci no Arquivo Público Jordão Emerenciano, nos anos 90, ao lado do jornalista Givanildo Alves, já falecido, um pioneiro nesse resgate.
No Círculo Militar, os encontros da Grande Nação Pesqueirense são animados por Nem dos Teclados, músico competente, também pesqueirense, e com um vasto e eclético repertório, que vai da música popular brasileira de todos os tempos aos grandes nomes da música internacional, entre eles Frank Sinatra.
Curiosamente, Sinatra e Pesqueira são contemporâneos, haja visto que o primeiro nasceu em 1915 e a segunda, com a configuração geo-política que tem hoje, surgiu em 1913.
Mas, os encontros mensais do Círculo Militar são sempre encerrados por Valdo, outro um autêntico filho de Pesqueira, cantando a música New York, New York, segundo a crônica musical especializada uma das três principais músicas da carreira de Sinatra, ao lado de My Way e Fly Me To The Monn. Com sua voz rasgada que mais se aproxima de Louis Amstrong, Valdo sempre encerra a festa em grande estilo para delírio de todos os pesqueirenses presentes. E de bônus ainda canta o Zé da Conceição, com o suínge sincopado de um Miltinho.
A festa sempre termina assim. E todos se despedem com o copo na mão.

sábado, 20 de junho de 2015

Um machado afiado?


UM MACHADO AFIADO?

Clóvis Campêlo

Um dos ícone da literatura de língua portuguesa em todo o mundo, Machado de Assis, amanhã, estaria completando 176 anos de vida.
Nascido no Rio de Janeiro, em 21 de junho de 1839, e falecido nesta mesma cidade em 29 de setembro de 1908. Segundo a Wikipédia, nasceu no Morro do Livramento, de uma família pobre, mal estudou em escolas públicas e nunca frequentou uma universidade. Seu pai era um mulato que pintava paredes, filho de escravos alforriados, e sua mãe era uma lavadeira portuguesa da Ilha dos Açores. Os biógrafos notam que, interessado pela boemia e pela corte, lutou para subir socialmente abastecendo-se de superioridade intelectual. Para isso, assumiu diversos cargos públicos, passando pelo Ministério da Agricultura, do Comércio e das Obras Públicas, e conseguindo precoce notoriedade em jornais onde publicava suas primeiras poesias e crônicas. Em sua maturidade, reunido a colegas próximos, fundou e foi o primeiro presidente unânime da Academia Brasileira de Letras.
Ou seja, podemos definir Machado de Assis como o "branco mulato" ou o "preto doutor" de que nos fala Dorival Caymmi nas suas músicas. Sem dúvida alguma, o que alguns outros classificariam de um "alpinista social".
 Através do Facebook, entre os nossos amigos virtuais, lançamos uma pequena pesquisa com o intuito de captar como o escritor é visto hoje por seus leitores e admiradores. De imediato, percebemos que voluntariamente ou não, Machado de Assis foi lido pela grande maioria dos que nos responderam. Alguns, por questões disciplinares. Outros, por curiosidade juvenil, e que nem sempre ficou uma boa impressão da leitura.
Alguém chegou a considerá-lo um crítico da burguesia daquela época, enquanto Lima Barreto, um seu contemporâneo, hoje pouco falado, encarregou-se de traçar o retrato do "resto" social que pouco interessou a Machado.
Outro alguém, o classificou como "o pai da língua brasileira, no atacado e no varejo, do romance (Dom Casmurro, Memórias Póstumas...) ao conto (Missa do Galo, O Alienista...), sem falar na poesia... Na dimensão psicológica, eu o acho equivalente a Dostoievski, sem a visão trágica dos eslavos...".
Ou seja, Machado de Assis, na ironia e na ludicidade dos seus textos, permite-nos a dúvida, enquanto em Dostoievski, a dívida é paga com a tragédia. Será que Machado no alto da sua brasilidade mestiça já exercitava literariamente o chamado jeitinho brasileiro?
Mas, se a dúvida foi um dos ingredientes dos textos machadianos, como em Dom Casmurro, onde chegamos ao final do texto sem saber se realmente Bentinho foi traído por Capitú ou por sua imaginação, não se pode dizer o mesmo do mistério, quase ausente. Um outro amigo, porém, conta que estavam ele a esposa lendo na cama As Memória Póstumas de Brás Cubas, quando adormeceram. Ao acordarem, perceberam, que o livro havia sumido. Apesar das buscas intensas, nunca mais foi encontrado. Um verdadeiro mistério machadiano!
Mas afinal, quem seria o menino Joaquim Maria, que caminhos trilhara antes de chegar a ser o maior escritor brasileiro de todos os tempos (pompa contestada por algumas das respostas que recebemos...). Segundo o site Releituras, "de saúde frágil, epilético, gago, sabe-se pouco de sua infância e início da juventude. Criado no morro do Livramento, consta que ajudava a missa na igreja da Lampadosa. Com a morte do pai, em 1851, Maria Inês, à época morando em São Cristóvão, emprega-se como doceira num colégio do bairro, e Machadinho, como era chamado, torna-se vendedor de doces. No colégio tem contato com professores e alunos e é até provável que assistisse às aulas nas ocasiões em que não estava trabalhando".
No final da vida, ainda segundo o site Releituras, "era urbano, aristocrata, cosmopolita, reservado e cínico, ignorou questões sociais como a independência do Brasil e a abolição da escravatura. Passou ao longe do nacionalismo, tendo ambientado suas histórias sempre no Rio, como se não houvesse outro lugar. ... A galeria de tipos e personagens que criou revela o autor como um mestre da observação psicológica. ... Sua obra divide-se em duas fases, uma romântica e outra parnasiano-realista, quando desenvolveu inconfundível estilo desiludido, sarcástico e amargo. O domínio da linguagem é sutil e o estilo é preciso, reticente. O humor pessimista e a complexidade do pensamento, além da desconfiança na razão (no seu sentido cartesiano e iluminista), fazem com que se afaste de seus contemporâneos."
Afinal, cabe a um grande escritor a obrigação de reescrever o mundo com uma proposição mais justa e mais humana, ou o seu papel literário não passa obrigatoriamente por essa função? O que acha disso?

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Grávidos


GRÁVIDOS

Clóvis Campêlo

Fotografia feita no ano de 1978, no prédio em que morávamos, no bairro da Boa Vista, no Recife. Pode ser que não pareça, mas Cida estava grávida de Tatiana. Não lembro quem fez a fotografia. Na dúvida, divido-me entre Zenóbio, um amigo que também morava no bairro e que, na época, frequentava a nossa casa, e meu irmão Carlinhos. Contra Carlinhos, porém, pesa o fato de que, na época, dividia-se entre o Recife e a cidade de Riachão, no Maranhão, onde trabalhou um certo tempo.
Mas, o fato mais importante é que Cida estava grávida do nosso primeiro filho. Não tínhamos como saber, então, qual o sexo da criança. Por isso, a chamávamos de Roberval, numa alusão ao personagem Roberval Taylor, de Chico Anysio, que fazia muito sucesso na televisão, no programa Chico City.
O sucesso desse programa humorístico, inclusive, era tão grande que terminou por batizar até hoje o Conjunto Residencial Brigadeiro Francisco Correia de Melo, no bairro da Vila do Ipsep, na zona sul do Recife. Assim, íamos na onda e no bom humor de brincar afetuosamente com a criança que nasceria alguns meses depois, em janeiro de 1979. Combinamos, então, que se a criança fosse menino teria o nome escolhido por mim. Caso contrário, Cida escolheria seu nome.
Fico pensando aqui comigo, como até poucos anos atrás a tecnologia disponível era precária. No máximo, ouvia-se o coração do bebê batendo, numa zoada que parecia uma lâmina de flandre sendo balançada. Era um sucesso, isso. A audição do batimento cardíaco de Tatiana (na época, Roberval) se deu em uma das visitas feitas no consultório da dra. Aspásia Pires, a obstetra que acompanhou Cida nos seus dois partos (Tatiana e Gabriel). Hoje, já se sabe com quase absoluta certeza do sexo do bebê, da sua posição na bolsa e até do seu sofrimento, nos casos em que a gravidez caminha para um lado indesejado.
Tatiana (na época, Roberval), porém, parecia não ter pressa de vir ao mundo, e no dia 20 de janeiro de 1979, Ano Internacional da Criança, foi marcada a data da cesariana.
Chegamos cedo na maternidade do Hospital Português, mas a dra. Aspásia preferiu o uso dos fórceps, já que a criança estava atravessada e laçada. Até hoje, Tatiana tem na testa as marcas desse procedimento. Mas, apesar do nervosismo do momento, tudo correu bem e veio ao mundo uma menina linda e perfeita.
Vivi esse momento especial da minha vida ao lado dos meus pais, seu Clóvis e dona Tereza, e da minha avó materna, dona Carmelita. Na porta da sala de parto haviam dois bonecos, um masculino, de azul, e outro feminino, de vermelho. Quando o boneco feminino acendeu é que ficamos sabendo do sexo da criança nascida naquele momento. Roberval passava, assim, a ser definitivamente Tatiana, nome escolhido pela mãe, conforme combinado anteriormente.
Começava a ser formada, naquele momento, a família Machado Campêlo, com origens que iam desde a cidade de Carolina, no Maranhão, a Jaboatão dos Guararapes e Ipojuca, cidades na zona da mata pernambucana.
Um ano e dois meses depois, no dia 12 de março de 1980, dia dos aniversários das cidades de Olinda e Recife, nascia Gabriel, o nosso segundo descendente em linha direta. Mas essa já é outra história e outra fotografia.


sexta-feira, 5 de junho de 2015

Cavalo velho, capim novo?


CAVALO VELHO, CAPIM NOVO?

Clóvis Campêlo

Não sei o que é que tem mulher jovem pra mexer com o imaginário de homens maduros (ou nem tanto) quanto eu.
Lembro que alguns anos atrás, nos tempos do Pasquim, Erasmo Carlos dizia que era preciso se policiar para não dar em cima das amigas dos filhos ainda adolescentes. De vez em quando, era preciso se tocar que, ali, ele já era o pai, o mantenedor, e que existiam regras e convenções sociais explícitas a serem obedecidas. O instinto masculino animal e de preservação da espécie leva-nos a escolher fêmeas novas e ainda com capacidade reprodutora. As convenções sociais, porém, regulam isso. No âmbito das outras espécies animais, porém, é a força do macho jovem que repele os mais velhos e os colocam no seu devido lugar. Assim, garante-se uma boa linhagem genética e filhotes de boa qualidade. Aliás, entre diversas espécies animais os machos mais velhos são colocados na periferia ou nas extremidades dos grupos para serem os primeiros caçados pelos predadores da espécie. Entre os babuínos, por exemplo, é assim. Quem for velho que se segure!
Entre os humanos, porém, existem as regulações sociais para preservar-nos os direitos. E quando isso não funciona, tem a força do poder econômico para contornar a situação. Hoje, os velhos ricos não sofrem. São um bom mercado, e quando se trata de aferir lucros o capitalismo não costuma alimentar puritanismos bobos. Assim, se o camarada for velho mas tiver dinheiro, estará garantido. Que o diga Hugh Hefner, o dono da Playboy, cuja fortuna em 2011 foi avaliada em 43 milhões de dólares.
Uma das mais famosas é Kendra Wilkinson, que já não namora mais com o ricaço. A modelo participa de um reality show e fez revelações sobre sua relação com Hefner durante uma conversa. Kendra Wilkinson, uma das suas namoradas mais jovens e recentes, relatou em um site de entretenimentos, como se deu a sua relação com o velhinho todo poderoso:
- Hef me perguntou se eu queria ser uma de suas namoradas e morar na mansão e eu fiquei tipo "Não sei o que isso significa, mas caramba! Quero ir!". Eu morava em um apartamento feio e pequeno e só rezava para alguma coisa acontecer e me tirar de lá.
— Então, eu me mudei para a mansão e passaram várias semanas, mas eu não sabia que tinha sexo envolvido. Ele perguntava se você queria ir até o segundo andar com ele e era isso. Você não era obrigada, era sua escolha [fazer sexo com Hefner]. Ele realmente vê suas coelhinhas como relacionamentos, Hef realmente ama suas mulheres. Eu tinha 18 anos e ele 78”.
Como se pode ver, uma diferença de 60 anos de idade nunca é escandalosa quando praticada por celebridades endinheiradas. Essa, por sinal, é uma das hipocrisias do sistema em que vivemos. Renato Boca-de-Caçapa, o filósofo do povo, que não tem papas na língua, prefere chamar de prostituição de luxo, E eu, no alto da minha pobreza visceral, não tenho por que não concordar com ele...

Recife, junho 2015