quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Tony Curtis no Recife


TONY CURTIS NO RECIFE

Clóvis Campêlo

A história já nos havia sido contada nos anos 90, a mim e ao poeta José Rodrigues Correia Filho, por Mário Lanza, na Praça do Sebo. Evidentemente que não se tratava do tenor americano, que na verdade se chamava Alfred Arnold Cocozza, mas de um recifense seu fiel admirador e possuidor de um acervo fabuloso sobre ele, adquirido no próprio sebo ao longo de vários anos de pesquisa.
Um dia de sábado, pela manhã, como sempre fazíamos naqueles tempos, ficamos sabendo, no Sebo, da morte de Lanza, o admirador. O seu acervo fabuloso nos interessava, principalmente ao poeta Rodrigues, colecionador compulsivo. Corremos para a praia da Boa Viagem, onde ele morava no Edifício Holliday. Chegamos tarde. Alguém mais apressado do que nós já havia adquirido a coleção, vendida por um dos seus filhos. Como dizia Liêdo Maranhão, os maiores inimigos de um acervo arduamente construído ao longo de uma vida, não são as traças. Mas sim a família do falecido, quando não se identifica com tudo aquilo.
Mas, deixando a digressão de lado e voltando ao nosso assunto principal, através de Lanza, naquele dia, tomamos conhecimento da visita que o ator americano Tony Curtis e sua esposa na época, a atriz Janet Leigh, fizeram ao Recife, em 1961. Segundo o nosso interlocutor, os dois, de mãos dadas, atravessaram a ponte Duarte Coelho, no centro da cidade, posando para fotografias.
No entanto, segundo a fotografia publicada no Diario de Pernambuco do dia 26 de setembro de 1961, acompanhados por amigos e familiares, os atores teriam passeado pela cidade em uma caminhonete escoltada por guardas da Delegacia de Trânsito, antes de seguirem viagem áerea.
Uma outra versão, consta no livro Estudo de Cinema Socine, segunda a qual, os atores, acompanhados das filhas Kelly e James Lee Curtis, com apenas dois anos, passearam pela cidade por conta de uma parada no Recife do navio em que viajavam. Ainda segundo o livro, os repórteres Fernando Spencer e Selênio Homem de Siqueira acompanharam o casal nas visitas em que fizeram a vários pontos turísticos recifenses, finalizado com um passeio descontraído de Janet e das filha pelas areias mornas da praia da Boa Viagem.
Segundo a fotografia em preto e branco publicada pelo Diario de Pernambuco, como era comum na época, Tony Curtis trajava calça branca e um paletó pardo, além de sapatos e cinto pretos. Janet, bem descontraída, uma sandália escura aberta, pulseiras, um vestido também pardo e uma bolsa branca. Ambos se mostraram simpáticos e solícitos. Os dois guardas da Delegacia de Trânsito, como não poderia deixar de ser, vestiam seus trajes de gala, o que nos leva a supor que a visita fora previamente anunciada.
Tony Curtis morreu em Las Vegas, em 29 de setembro de 2010. Janet Leigh, em 3 de outubro de 2004. O repórter Fernando Spencer, que depois se transformaria em um dos destaques do ciclo do cinema super-8 no Recife, também já faleceu. Selênio Homem de Siqueira faleceu no Recife, no ano passado.
Assim, a história mesmo confirmada por mais de uma fonte, faz parte do passado glorioso da cidade do Recife.

Recife, fevereiro 2016

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Yes, nós temos bananas!


YES, NÓS TEMOS BANANAS!

Clóvis Campêlo

No quintal da casa em que morávamos, no Pina, havia, entre outras fruteiras, três pés de banana. Dois de banana prata, e um de banana maçã. Os pés de banana prata ficavam na parte posterior do quintal, perto de um terraço que havia na cozinha. O local, sempre úmido, devido a água utilizada que escorria pelo quintal, era adequado para os pés de banana prata. Segundo o meu pai, eles gostavam mais da umidade. O pé de banana maçã ficava numa área mais afastada e arenosa.
Como as frutas eram utilizadas apenas para o consumo doméstico, podíamos esperar que os passarinhos, geralmente sanhaçus e guriatãs que frequentavam o nosso quintal, dessem a primeira bicada em uma das bananas do cacho. Era o sinal de que já estavam adequadas para serem utilizadas. As bananas pratas, grandes e doces. As bananas maçãs, menores e com um sabor mais diferenciado. Elas faziam a nossa festa.
Hoje, que as casas com quintais praticamente desapareceram do Recife, fazemos a colheita das bananas nos supermercados. E, embora ainda possam ser encontradas as bananas pratas e as bananas maçãs, proliferam nas prateleiras as bananas pacovan. Não me lembro de ter referências desse tipo de banana até alguns anos atrás. Como sempre faço em caso de dúvidas, vou ao google em busca de explicações e descubro, no site da Ceplac o seguinte esclarecimento: “banana pacovan - resultante de uma mutação da banana prata, é atualmente a bananais plantada no Norte e Nordeste do país. Possui porte alto (6 a 7 m). Os cachos são cônicos, com peso de 16 Kg e 7,5 pencas, em média. Os frutos são grandes, com quinas salientes (mesmo quando maduros) e casca grossa. Pesam 122 gramas em média, e apresentam sabor menos intenso que a prata. É susceptível àsigatoka amarela e negra e ao moko, moderadamente susceptível ao mal-do-panamá, medianamente resistente aos nematóides e brocas. É sujeita ao tombamento pela ação dos ventos”.
Muito prazer, banana pacovan. Acabo de conhecer a tua história. O teu sabor, já conhecia e o sabia menos agradável do que o gosto da banana prata normal. Eu e os morcegos que invadiam a nossa cozinha, à noite, no bairro do Cordeiro, em dia de bananas prata na fruteira. Comiam as bananas e sujavam tudo com as suas fezes frenéticas. De vez em quando, colocavam Cida, minha cara metade, para correr. As bananas pacovan, porém, nunca os interessou. Amadureciam intactas. Isso sempre me chamou a atenção.
Como diria Braguinha na sua marcha carnavalesca famosa dos anos 30 do século passado, em parceria com Alberto Ribeiro, “Yes, nós temos bananas!”. A música, gravada originalmente por Almirante, em 1937, catapultou a carreira de Carmem Miranda nos States e foi regravada por um monte de gente, inclusive Caetano Veloso.
Mas é com os versos bucólicos do compositor pernambucano Aristides Guimarães, meu amigo, que nos anos 70 agitou o panorama musical recifense, que encerro estas mal traçadas linhas. Não lembro o nome da música, mas os versos eram assim:

A lua tem quintal e bananeira,
A lua tem estrelas.
A lua tem quintal e bananeira
e quem mais queira
”.

Recife, fevereiro 2016

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Sônia Braga, quem diria, acabou no Oceania!


Fotografia de Clóvis Campêlo (18/01/2016)

SÔNIA BRAGA, QUEM DIRIA, ACABOU NO OCEANIA

Clóvis Campêlo

Sônia Braga, quem diria, é paranaense da cidade de Maringá, onde nasceu no dia 8 de julho de 1950. Consta que começou a sua carreira de atriz aos 14 anos. Em 1968, aos 18 anos, participou da montagem brasileira da peça Hair, causando escândalo ao aparecer nua em cena. Ainda em 1968, participaria do filme O Bandido da Luz Vermelha, dirigido por Rogério Sganzerla, e considerado hoje um clássico do cinema marginal brasileiro. Em 1975, representaria o papel título da novela Gabriela, baseada no livro homônimo do escritor baiano Jorge Amado. A novela atingiria recordes de audiência para a sua época, com cerca de 25 milhões de pessoas, tornando a atriz definitivamente famosa no Brasil e no mundo.
O Edifício Oceania foi construído na praia do Pina, nos anos 50 do século passado, quando o bairro eminentemente ocupado por pescadores e operários, começou a despertar a atenção da classe média e da pequena burguesia. Assim, a atriz e o prédio são contemporâneos, de uma época em que tanto o bairro do Pina, quanto a cidade e o país mostravam um perfil social e econômico que os tempos modernos trataram de modificar.
Kleber Mendonça Filho nasceu no Recife, em 1968. Formado em jornalismo pela Universidade Federal de Pernambuco, trabalhou na imprensa pernambucana como crítico de cinema, antes de enveredar na sétima arte como diretor. Em 2013, dirigiu seu primeiro filme, O Som ao Redor, o qual foi aclamado por diversas fontes como o melhor, ou um dos melhores lançamentos do ano. Entre eles, o crítico americano de cinema A. O. Scott, do jornal The New York Times, e o compositor brasileiro Caetano Veloso, que na sua coluna do jornal O Globo, o classificou como “um dos melhores filmes feitos recentemente no mundo”. Era a glória.
Em agosto do ano passado, Sônia Braga cegou ao Recife para participar das filmagens de “Aquarius”, o novo filme de Kleber, com cenas filmadas em diversos locais da nossa cidade.
Segundo o Diario de Pernambuco do dia 7 de julho, “A atriz Sônia Braga, um dos ícones da dramaturgia brasileira e internacional, sobretudo pela atuação em Gabriela, vai protagonizar o próximo filme do cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho, batizado de Aquarius. Ela dará vida a uma escritora viúva, de meia-idade, crítica de música aposentada e mãe de três filhos, com o poder de "viajar no tempo". A participação dela na produção do cineasta do estado com mais projeção no exterior (O som ao redor, de autoria dele, foi o indicado brasileiro à disputa do Oscar e listado entre os dez melhores filmes de 2012 pelo New York Times) ocorreu durante meses”.
Por seu lado, a atriz declarou: “Quando li Aquarius, tive que parar para respirar. Sim, respirar e entender que era real. Que era um roteiro do Kleber Mendonça e que ele estava me oferecendo para participar. Pareceu de cara um sonho: uma personagem íntegra, da minha idade, com meus sonhos, com os meus sonhados filhos e família. Quis logo viver esta mulher. As palavras do roteiro pareciam que ja tinham andado na minha boca”.
Pronto, estavam firmados os fundamentos para a grande realização. As filmagens aconteceram os vários locais da cidade do Recife, inclusive no famoso Restaurante Leite, no bairro histórico de São José. No entanto, as principais cenas foram gravadas no Edifício Oceania, na orla do Pina. Ainda segundo o Diario de Pernambuco, a curiosidade em torno das gravações gerou até problemas de trânsito na Avenida Boa Viagem, nos primeiros dias das gravações.

Recife, fevereiro 2016

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Escultura do Galo da Madrugada






ESCULTURA DO GALO DA MADRUGADA
Recife, 09/02/2016
Fotografias de Clóvis Campêlo

Ferreirinha


FERREIRINHA
Recife, 18/01/2016
Fotografia de Clóvis Campêlo

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

A perna


A PERNA
Paredes
Recife, 24/01/2016
Fotografia de Clóvis Campêlo

Praia da Boa Viagem


PRAIA DA BOA VIAGEM
Recife, 27/12/2015
Fotografia de Clóvis Campêlo


segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Antigo posto salva-vidas


ANTIGO POSTO SALVA-VIDAS
Praia da Boa Viagem
Recife, 17/01/2016
Fotografia de Clóvis Campêlo

Praia da Boa Viagem


PRAIA DA BOA VIAGEM
Recife, 30/12/2015
Fotografia de Clóvis Campêlo


domingo, 7 de fevereiro de 2016

Praia da Boa Viagem


PRAIA DA BOA VIAGEM
Recife, 31/12/2015
Fotografia de Clóvis Campêlo


O pescador


O PESCADOR
Recife, 17/01/2016
Fotografia de Clóvis Campêlo

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Jangadas da Boa Viagem





 


JANGADAS DA BOA VIAGEM
Praia da Boa Viagem
Recife, 17/01/2016
Fotografias de Clóvis Campêlo

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Praia da Boa Viagem


PRAIA DA BOA VIAGEM
Recife, 15/01/2016
Fotografia de Clóvis Campêlo

Praia da Boa Viagem


PRAIA DA BOA VIAGEM
Recife, 31/12/2015
Fotografia de Clóvis Campêlo


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

A ponte estaiada


A PONTE ESTAIADA
Bairro do Pina
Recife, 15/01/2016
Fotografia de Clóvis Campêlo

Sobre as águas


SOBRE AS ÁGUAS
Praia da Boa Viagem,
Recife, 27/12/2015
Fotografia de Clóvis Campêlo


terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Chico Science transformou-se numa longínqua lembrança


CHICO SCIENCE TRANSFORMOU-SE NUMA LONGÍNQUA LEMBRANÇA

Clóvis Campêlo

A criatividade da banda Nação Zumbi não sobreviveu à morte de Chico Science. É fácil perceber isso. Chico, aliás, era o cérebro da banda e todos aqueles caranguejos com cérebros. O catalisador. A catarse.
A banda ainda insiste e existe, mas institucionalizou-se. Pratica o continuísmo sem evoluções. Ultimamente, anda até se dividindo, desentendendo-se. Depois de 30 anos de estrada, descobriram que um dos companheiros não tinha mais (ou nunca teve) profissionalismo e espírito de grupo. Escondia-se atrás da alfaia que deveria tocar, muito embora o som da banda tenha sumido. Consumido-se. Convenhamos: além dos Beatles, ninguém mais resiste a trinta anos de revoluções. E nunca mais a estrovenga girou, passando perto do meu pescoço.
Hoje, escuta-se fácil a trovoada dos tambores ocupando as esquinas do Recife. Em mais uma apropriação indébita, a classe média e a gringalhada tomou conta dos maracatus. Essa mesma classe média que alimentou e viabilizou a revolução dos mangues boys, sufoca o maracatu legítimo, o maracatu de raiz. Acelera o seu ritmo e o desassocia do fundo religioso que sempre nele existiu. Deus nos salve do dinheiro importante e necessário da classe média. O maracatu embranqueceu. Dói-nos até dizer que esse embranquecimento pode ter se iniciado com o mangue-beat (ou bit).
Deus me livre, também, de querer exercitar algum sentimento de culpa se a ordem sempre foi misturar tudo (Are you experience?). Nem mesmo alcancei dona Santa correndo da polícia no Pátio do Terço ou na Rua das Calçadas. Figura carismática e sintetizadora, como Chico também o foi. O que os diferenciava era a bagagem que cada um trazia. Os tempos também eram outros. E o produssumo ainda não queimava a bagagem.
Mas, que sou eu, um típico exemplar da classe média usurpadora, para querer exercitar o saudosismo? Reis mortos, reis postos! Quem imaginaria que aquele poste em frente a Escola dos Aprendizes Marinheiros, no caminho de Olinda, encerraria de forma abrupta e absurda uma revolução sonora? Ainda hoje quando passo por ali me arrepio de emoção e escuto o silêncio medonho e dramático da catástrofe. Bem ali, na beira do mangue, o sangue estancou na lama.
Chico Science morreu no dia 2 de fevereiro de 1997, uma sexta-feira, nos limites dos municípios de Olinda e Recife, às vésperas do carnaval e do Galo da Madrugada. No Recife, Lenine propôs que não houvesse mais carnaval nas cidades naquele ano. Impossível. Milhões de gritos primais represados em gargantas profundas aguardavam a sua liberação. O espetáculo não deveria e não poderia parar. Assim foi feito.
Em vida Chico gravou dois discos com a banda Nação Zumbi: Da Lama ao Caos e Afrociberdelia, ambos incluídos pela revista Rolling Stones entre os cem melhores discos da MPB em todos os tempos. Posteriormente, Chico seria colocado pela mesma revista entre os cem maiores artistas da música brasileira. Para mim, mais do que justo.
Dona Santa faleceu no Recife, em 1962, aos 85 anos. Filha e neta de africanos, nasceu no Pátio da Santa Cruz, no dia 25 de março de 1877. Foi rainha do Maracatu Nação Elefante por dezesseis anos, de 1947 até a sua morte.
Vida eterna ao rei e à rainha!

Recife, fevereiro 2016