sábado, 30 de julho de 2016

Beira de mar






 


BEIRA DE MAR
Praia da Boa Viagem
Recife, julho 2016
Fotografias de Clóvis Campêlo

sexta-feira, 29 de julho de 2016

Malandramente


MALANDRAMENTE

Clóvis Campêlo

Segundo Renato Boca-de-Caçapa, o desaparecido filósofo do povo, o que move o mundo é o sexo e não o dinheiro, como pensam alguns. Para se chegar a ele, valem todos os artifícios. Admito que talvez ele tenha razão. Talvez seja mesmo necessário reformularmos os nossos conceitos e os nossos códigos de ética em função disso. Talvez a mentira e a esperteza não sejam de todo más e se justifiquem por aí. Sei lá!
Confesso, porém, que já não me causa calafrios pensar dessa maneira. Talvez, como disse o poeta em outras eras, estejamos mesmo jogando na lata do lixo o ponto de exclamação que acompanha todas as indignações. Afinal, no que ou em quem acreditarmos?
O mundo move-se e muda e nem sempre a lógica cartesiana acompanha essas mudanças. Malandramente, surgem novos mecanismos de raciocínio e de encaminhamento de ações e decisões que em outros momentos nos causariam urticária e espanto. A aceitação pela maioria desses novos valores obrigam os coroas, como eu, a repensarem a vida e as voltas redondas que a vida dá. Já não dependemos apenas da linha reta do pensamento convencional para justificar atos e decisões, sejam nas instâncias mais primárias ou nos patamares superiores, onde acreditávamos deveria prevalecer os nobres sentimentos ou as ações dignificantes da espécie humana. Nada disso. Os meios justificam-se por si próprios. E aí de quem não perceber ou se contrapor a isso.
A mim, não interessa mais nadar contra a corrente, mesmo que seja só para se exercitar, como acreditava um outro poeta. Isso exige um esforço demasiado e, em muitas das vezes, inútil. Talvez valha mais a pena, experimentarmos a mudança pela não-ação dos pacifistas, pelo olhar descritivo dos romances realistas, pela vagarosidade insuficientemente transformadora da nouvelle vague. Mudar pra que? Pra que lado, pra que rumo?
A mensagem, hoje, embora continue no seu topo endereçada unilateralmente e potentemente influenciadora, fragmenta-se também muitas vezes em pequenas partículas que transgridem tanto no que se refere a forma quanto ao conteúdo. Ou seja, viralizam nas redes sociais e nas cabeças periféricas do homem urbano. Sua força torna-se imensa e imune aos questionamentos fúteis que se baseiam na moral, na ética e nas ideias de antigamente, mesmo que antigamente tenha sido ontem.
Admito mesmo que talvez tenha me perdido dentro de mim mesmo e que, com certeza, nunca mais chegarei ao éden ou ao nirvana. Não me importo mais com isso, porém. Como dizia um outro poeta, o novo sempre vem. Nem que seja a bordo do anteriormente inaceitável.
Ainda bem?

Recife, julho 2016

quarta-feira, 13 de julho de 2016

O Mercado Público de Casa Amarela


Fotografia de Sol Pulquério / PCR

O MERCADO PÚBLICO DE CASA AMARELA

Clóvis Campêlo

Segundo a Wikipédia, o Mercado Público de Casa Amarela foi inaugurado em 9 de novembro de 1930 e situa-se no bairro que lhe deu o nome. Fica localizado no início da feira livre de Casa Amarela, segundo alguns, a maior feira livre do Recife, na esquina da Rua Padre Lemos com a Estrada do Arraial. Na sua parte externa existem compartimentos que servem alimentação (bares e restaurantes populares) e são suas principais atrações, funcionando as 24 horas do dia. Além disso, a oferta de produtos é diversificada, com a venda de carne de charque e queijo de coalho vindos do sertão, além de carnes diversas, frios, peixes e crustáceos, armarinhos, ervas, flores e artesanato em palha e barro.
Ainda segundo a Wikipédia, o mercado foi construído em estrutura totalmente de ferro, com cobertura de telhas francesas. O material para sua construção foi remanescente do Mercado da Caxangá, que havia sido desmontado em 1928. Em 1982 foi construído um anexo, para comportar comerciantes que já não encontravam compartimentos no mercado original e estavam ocupando áreas externas do mesmo.
Segundo o site da Prefeitura da Cidade do Recife, o Mercado de Casa Amarela, um dos mais antigos e simbólicos da cidade, foi inaugurado em novembro de 1930. As estruturas que sustentam a construção foram trazidas de bonde pela empresa Borrione, em 1928. Presume-se que o terreno onde o mercado foi erguido tenha sido doado pelo proprietário, senhor Allain Teixeira, naquele mesmo ano. A área originalmente construída é de 817 metros quadrados. Abriga 100 boxes.
Ainda segundo o site da PCR, o primeiro anexo do mercado foi construído em terreno público e inaugurado em abril de 1982. No local funcionava um sanitário público e parte da Feira de Casa Amarela. A área construída, de 640 metros quadrados, abriga 34 boxes, ocupados basicamente por bares. Inicialmente, ali se instalaram os locatários desalojados do prédio principal do mercado. Ocuparam compartimentos adaptados às paredes das fachadas principal e posterior. Com a construção do anexo, eles foram transferidos e os compartimentos demolidos, e o velho mercado resgatou sua arquitetura original. Posteriormente, ainda foi construído o segundo anexo, da Cobal, que abriga 14 boxes para venda de cereais e alimentos não perecíveis; e o Sempre Viva, na rua de mesmo nome, s/n, que vende confecções, calçados e acessórios. Hoje, o mercado possui 60 boxes internos, 50 externos e 11 barracas, com um total de 121 compartimentos.
Segundo a historiadora Lúcia Gaspar, em texto publicado no site da Fundação Joaquim Nabuco, em 1930, o mercado foi inaugura com banda de música e a presença do então governador Carlos de Lima Cavalcanti.
Segundo o escritor João Braga, no seu livro Trilhas do Recife - Guia Turístico, Histórico e Cultural, o mercado foi inaugurado na gestão do prefeito Francisco da Costa Maia (1928/1930).

sábado, 9 de julho de 2016

É sal, é sol, é zona sul!











Fotografias de Clóvis Campêlo / 2016

É SAL, É SOL, É ZONA SUL!

Clóvis Campêlo

É sal, é sol, é zona sul! Salve os dias de domingo na terra dos altos coqueiros! Salve o soberbo estendal! Salve as linhas tortas da Natureza e os ângulos retos da arquitetura do Homem.
Salve o azul da zona sul, local onde cabem todas as cores.
No domingo, aliás, todos os caminhos levam à praia, espaço democrático e popular onde o lazer impera. Domingo é sempre dia de lazer, de grandes caminhadas. Dia de legítimas pedaladas, a bicicleta servindo de meio de transporte para a diversão ou para o trabalho. Nada de impedimentos.
O Recife, espremido entre Olinda e Jaboatão dos Guararapes, possuí apenas as praias do Pina e Boa Viagem, e de lambuja, a pequena praia do Buraco da Velha, pequeno paraíso no final do bairro de Brasília Teimosa. Nessa faixa de areia estreita e comprida, aporta o povo da cidade maurícia em busca da luz do sol e do prazer de estar em contato direto com fatores produtores de endorfinas e serotoninas, da melanina e do bronzeado.
Sobreviventes às influências conservadoras de portugueses e ingleses, os donos dos grilhões que nos forjaram, talvez tenhamos sido salvos pelo proximidade do mar. Na praia, onde nenhuma nudez deverá ser castigada, despojamo-nos dos ranços introspectivos e nos transformamos em seres do sal e do sol, uma nova escultura cultural feita sem ódios e sem medos. Na praia, só nos resta sermos livres. Com a graça de Deus.
E se o mar nos refresca por fora, em banhos transcendentais de sódio e iodo, os coqueiros nossos de cada dia nos fornecem o potássio da água de coco para nos recompor os líquidos e os humores. Somos felizes. Sejamos felizes sob a linha do equador, onde não existe pecado.
O Recife, que já foi uma cidade pequena e decente, hoje, sob o calor ardente das suas praias, transformou-se numa metrópole moderna e cosmopolita, onde a tradição mistura-se com a contemporaneidade.
Para mim, felicidade é estar nesse ambiente iluminado e azul, construído e abençoado por Deus e, em parte, pelos sonhos nem sempre justos dos homens. E que a felicidade aqui não tenha fim, como na canção do poeta. Enquanto houver mar, sol e azul, só nos restará viver a vida com prazer.
Se duvidares disso, caia na estrada e perigas ver!

Recife, julho 2016