terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Temperada


TEMPERADA

Clóvis Campêlo

Temperada a língua,
Pedrinho canta toadas
enquanto o dia míngua.

Recife, 2009

sábado, 28 de dezembro de 2013

Vamos juntos?


VAMOS JUNTOS?

Clóvis Campêlo

Quem ainda ama os Beatles e os Rolling Stones, sabe que Abbey Road foi o último disco gravado pelo Fab Four antes do fim da banda. O disco traz na sua bagagem a responsabilidade de ser considerado um dos melhores do grupo e de estar incluído na lista dos 200 álbuns definitivos no Rock and Roll Hall of Fame. Uma glória!
Professor da Universidade de Harvard, Timothy Leary foi expulso da instituição nos anos 70, depois de ter promovido uma experiência coletiva de alunos com o LSD. Libertário, o professor entendia que a droga trazia benefícios terapêuticos e espirituais para quem a utilizava. Amigo pessoal de John Lennon, Leary, ao lado de Bárbara, sua mulher, participou do vídeo “Give Peace a Chance”, protagonizado pelo ex-beatle e Yoko Ono, na cama, onde cantavam o hino de paz e esperança.
Leary faleceu em 1996, tendo a sua cabeça sido separada do corpo e congelada, conforme a sua vontade expressada em vida, e o restante do corpo cremado e transportado pela nave espacial Pegasus para ser jogado no espaço sideral. Tudo isso pago com antecedência, é claro, que o establishment do Tio Sam não brinca em serviço.
No disco Abbey Road, Lennon fez a música “Come Together” para Timothy, baseado no slogan deste na sua campanha para o governo do Estado da Califórnia, em 1969: “Come Together, Join The Party”. Candidato autônomo, longe do arbítrio dos partidos Democratas e Republicanos, Leary não logou êxito e a música terminou sendo incluída na play list do disco famoso.
Consta que McCartney não gostava da canção por conta da frase “shot me” (atire em mim) aparentemente desconexa que Lennon pronunciava nas suas entrelinhas. No jargão dos viciados em heroína (Lennon era um deles) a expressão significava “injete em mim” e Paul achava que isso poderia trazer para o grupo problemas com a justiça e os fãs.
Nada disso, porém, aconteceu. Apesar de não ter sido gravada da maneira que Lennon queria (sem guitarras), a música, que abre o antológico disco, transformou-se em um grande sucesso, sendo gravada posteriormente por gente também famosa como o Aerosmith e Michael Jackson.

Recife, 2013

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Demasiadamente humano


DEMASIADAMENTE HUMANO

Clóvis Campêlo

Perder pai e mãe não é fácil, é extremamente doloroso.
Pior do que isso, talvez, seja perdermos um filho. Aí sim a dor deve ser muito maior e mais intensa.
Quando Gilberto Gil perdeu o seu filho Pedro em um acidente automobilístico tempos atrás, lembro dele, falando na televisão, sobre a tristeza que é enterrarmos um filho.
Dizia ele que normalmente os filhos é que enterram os pais. Isso faz parte da ordem natural das coisas. Enterrar um filho morto ainda jovem, por conta de uma fatalidade qualquer, deixa marcas muito profundas e que nos acompanharão pelo resto da vida.
Foi com esses pensamentos na cabeça, tentando encontrar mais motivos para me consolar, que sai do Cemitério de Santo Amaro, no dia 18 de maio próximo passado, após sepultar dona Tereza, minha mãe.
Por estranha ironia da vida, paro em um sinal de trânsito, na Avenida Abdias de Carvalho, atrás de um caminhão onde estava escrito: "Pai e mãe, jamais os esquecerei".
Considerei aquilo como um acontecimento carinhoso, um afago que me era feito pelo acaso, naquele momento.
E logo para mim, que gosto de observar os parachoque e carrocerias e me admirar com a espirituosidade e criatividade das inscrições.
A morte de dona Tereza, diferente da morte do meu pai, que foi muitas vezes anunciada pelo desenrolar da sua doença, surpreendeu a todos nós, filhos e netos, pela rapidez com que aconteceu e pela falta de aviso.
Na noite anterior, estivemos com ela até tarde, conversando, juntamento com outros familiares, num ambiente leve e descontraído.
Durante o dia havia me encontrado com Calvino, Beto, Vilma e outros amigos no Bar da Geralda, no Morro da Conceição, em momentos de alegria e de reencontro.
Não havia nada, nenhum sinal, de que o dia seguinte seria de luto.
A vida é tênue e rapidamente pode se desfazer de um momento para o outro.
Hoje, passados 18 dias, ainda estou sentido e atônito.
Gostaria que algumas coisas tivessem sido diferentes. Não foram.
Só nos cabe agora seguir em frente e cumprir o restante da nossa trajetória aqui na Terra.


Recife, 2009

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Confissões


CONFISSÕES

Clóvis Campêlo

A burguesia fede, a burguesia quer ficar rica.
A classe média também. Espremida entre os donos do poder no mundo e os deserdados e excluídos, a classe média treme. Mas, afinal quem somos nós? Como se definem os limites desse segmento social tão importante e ao mesmo tempo tão insignificante em suas aspirações pequenos-burguesas?
Uma grande definição das contradições da nossa classe média, foi a mim dada pelo amigo e vizinho José Carlos de Paula, um cearense radicado no Recife há muito tempo.
Quando daquele acidente aérea da TAM em São Paulo, o maior da nossa história (a imprensa burguesa sempre faz questão de super-dimensionar os fatos, torná-los hiperbólicos para vender mais e melhor as notícias), o meu amigo Zé disse que estava com a consciência tranquila em relação à "tragédia" e essa tranquilidade lhe havia sido transmitida por um dos sobreviventes ao falar em cadeia nacional que Deus é que lhe havia salvado a vida. Ora, se ele havia sido um dos escolhidos para não morer, juntamente com outros que também escaparam do monumental acidente, por que chorarmos a morte dos que não foram escolhidos para a vida? Existe aqui uma tremenda contradição sentimental e religiosa. Afinal, quem somos nós para duvidarmos dos designios divinos, não é mesmo? Por mais que William Bonner tentasse me convencer do contrário e tentasse culpar o Governo pelas estrias da pista, Zé Carlos me parecia mais convincente.
Por analogia, eu pergunto: por que devemos sempre chorar a morte dos filhos da classe média, quando diariamente são mortos e exterminados, sem nenhuma complacência, de susto, de bala ou vício, os filhos dos excluídos, dos comedores de siri na beira das marés e nas palafitas que enfeiam as nossas cidades? Afinal, em que categoria social mais se morre e se é exterminado? A classe média paga alto para chorar os seus filhos mortos. Os excluídos, nem esse direito têm.
Morremos porque a morte faz parte da vida e também porque vivemos no fogo cruzado de tensões sociais que, na maioria das vezes, nem sequer entendemos.
O sistema, independentemente de que momentaneamente está no seu comando, está se lixando para isso. Isso não lhe interessa. A sua preocupação é outra, são os lucros, os números, os superavits. Quem quiser que se exploda. Ou que exploda o outro. Para ele, somos acessórios descartáveis e interessantes apenas enquanto podemos lhes ser úteis.
A origem da violência urbana pode ser explicada sob vários ângulos ou concessões filosóficas e ideológicas. Cada um pode escolher a que melhor lhe cabe, convém ou consola.

Recife, 2009


- Publicado no livro Antologia 2010 dos Poetas Independentes. Recife, Edição dos Autores, 2010, páginas 43/44.
 

sábado, 21 de dezembro de 2013

Um pouco de Nélson Ferreira


UM POUCO DE NÉLSON FERREIRA

Clóvis Campêlo

Apesar de ser torcedor do Santa Cruz, o maestro Nélson Ferreira nunca compôs um hino para o clube do seu coração. Ao contrário, compôs o hino do bloco Timbu Coroado, troça que no domingo de carnaval desfilava pelas ruas do bairro dos Aflitos, onde fica a sede do Clube Náutico Capibaribe, além do frevo “Come e Dorme”, feito em homenagem aos jogadores reservas do clube alvirrubro. Como se isso não bastasse, em 1955, a pedido de um jovem amigo da época, compôs o frevo canção “Cazá Cazá Cazá”, em homenagem ao clube da Ilha do Retiro.
Tal situação só foi corrigida em 2008, quando o Maestro Forró, também torcedor do tricolor do Arruda, utilizando os acordes de uma música inacabada do maestro Nélson, criou o frevo “Vulcão Tricolor”, saldando a dívida e satisfazendo e saudando a imensa torcida coral.
Hoje, quando se completa 37 anos da morte do maestro pernambucano, ocorrida em 1976, essa história irônica nos vem à lembrança.
Mas, embora continue sendo muito mais conhecido como um compositor de frevos, Nélson Ferreira foi autor de músicas em gêneros e estilos diversos (tangos, canções, valsas, foxtrotes, etc).
Nascido na cidade de Bonito, no agreste do Estado, em 9 de dezembro de 1902, segundo alguns estudiosos seus, até hoje Nélson Ferreira é um dos compositores nordestinos com mais músicas gravadas na discografia brasileira, muito embora a sua fama tenha praticamente se restringido a Pernambuco e ao Nordeste.
Como músico, tocava violão, violino e piano. No Recife, tocou em bares, cafés, saraus e cinemas, numa época em que os filmes do cinema mudo eram acompanhados com música ao vivo.
Como compositor, fez a sua primeira música, a valsa “Vitória”, aos 14 anos, por encomenda. Compôs frevos antológicos, como “Evocação nº 1”, sucesso no carnaval do Rio de Janeiro em 1957, cantada em ritmo de marchinha carnavalesca.
Além disso, foi diretor artístico da Rádio Clube de Pernambuco e da Fábrica de Discos Rozemblit, a única existente fora do eixo Rio-São Paulo nos anos 50.
Sua fama como compositor de frevos era tão grande que nos anos 70 recebeu do presidente Emílio Garrastazu Médici a condecoração de Oficial da Ordem do Rio Branco.
Faleceu no Recife, no dia 21 de dezembro de 1976, deixando inacabado um disco que preparava para o carnaval de 1977.
Hoje, no Recife, em uma pequena pracinha na Rua dos Palmares, no bairro do Santo Amaro, construída no lugar de uma casa demolida onde o maestro morou, existe um busto erguido em sua homenagem.
Evoé, Maestro!

Recife, 2013

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Tonho Barra Limpa


Fotografia de Clóvis Campêlo/2008

TONHO BARRA LIMPA

Clóvis Campêlo

Tonho apareceu pelo Pina, no final dos anos 60, ainda menino, e viveu por suas ruas e avenidas durante toda a sua vida.
No Pina, viu o bairro se transformar, envelheceu e ficou cego de um olho, consequência de um atropelamento sofrido, onde o motorista fugiu sem socorrê-lo.
Era uma pessoa doce, gentil e atenciosa, um doido manso.
O apelido de Bara Limpa surgiu pela mania que tinha de viver cantando as músicas do rei Roberto Carlos.
Tonho Barra Limpa era uma figura.
Infelizmente, há cerca de dois anos foi brutalmente assassinado com vários tiros por elementos que até hoje não foram identificados.

Recife, 2013

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Carta para Papai Noel


CARTA PARA PAPAI NOEL

Clóvis Campêlo

Prezado Papai Noel:

Venho por meio dessas mal traçadas linhas propor-lhe um acordo. Mesmo que eu não consiga mais gostar do senhor como fazia quando era pequeno, prometo não mais lhe injuriar ou destratar.
Sei que o senhor não nasceu no Polo Norte como sempre me fizeram acreditar. Também, nessa altura da vida, não me interessa mais saber se o senhor é uma invenção da Coca-Cola, da CIA ou do FBI. Foda-se, essa sopinha de letras. Tampouco me interessa saber se trata bem as suas renas, poupando-as do excesso de trabalho, alimentando-as corretamente e levando-as ao veterinário sempre que necessário.
A única coisa que sei e percebo a seu respeito é que, mesmo sendo uma invenção, o senhor é querido no mundo todo e reconhecido como o símbolo mercantilista do Natal. Até a China nacionalista se rendeu e produz imagens suas que vende a preço de banana para o mundo todo. E, como dizem que a voz do povo é a voz de Deus, sou obrigado a lhe conferir essa outorga e esse título. Também, admito, sei que já me sinto maduro o suficiente para não mais alimentar insustentáveis teimosias
Por outro lado, fico a pensar como o senhor suporta essa roupa tão quente quando vem ao Nordeste atender aos pedidos que lhe são feitos. Se no hemisfério norte o Natal acontece no inverno, com neve, pés de pinheiros e chocolate quente, aqui no Nordeste estamos em pleno verão e lhe cairia bem melhor um calção vermelho (ou azul) de praia. Proponho até levá-lo à praia do Pina, aqui no Recife, para tomar uma cervejinha brasileira estupidamente gelada e degustar um quebradinho de aratu (ou um sururu de coco). Acho que o senhor esqueceria rapidamente da carne de foca que se consome no polo norte. Mas isso tudo são conjecturas e já começo a tergiversar sobre o meu propósito principal que é selar a paz entre nós.
Confesso ainda, que apesar de hostilizá-lo intensamente, sempre admirei o vermelho, o preto e o branco dessa sua roupa quente, que me lembra o glorioso Santa Cruz Futebol Clube.
É por tudo isso e pelo muito mais do que se esconde nas entrelinhas dessa cartinha que proponho a paz. Juro, Papai Noel, que não aguento mais não gostar do senhor.

Recife, 2013



sábado, 14 de dezembro de 2013

Um galego da Paraíba


UM GALEGO DA PARAÍBA

Clóvis Campêlo

Com certeza, a Paraíba não é apenas feitas de zés, como diz Jackson do Pandeiro na sua música “Como tem Zé na Paraíba”. Ele mesmo que se chamava José Gomes Filho, natural da cidade de Alagoa Grande, de baixo ou de riba, também era um Zé nascido na Paraíba.
Mas, por lá também proliferam os severinos nordestinados. E foi em Itabaiana, no dia 26 de maio de 1930, que veio à luz um severino cujo destino era torna-se famoso no mundo inteiro empunhando uma sanfona, entre outros instrumentos.
Distante aproximadamente 70 quilômetros da capital do Estado, João Pessoa, e com sua população estipulada hoje em pouco mais de 24 mil habitantes, a cidade foi o berço natal de Severino Dias de Oliveira, mais conhecido como Sivuca.
Predestinado, aos nove anos de idade, em 1939, no dia de Santo Antônio, ganhou uma sanfona de presente do pai, aventurando-se a tocá-la em feiras, festas e batizados.
Aos quinze anos de idade, chegou ao Recife, contratado para tocar na Rádio Clube de Pernambuco, depois de se apresentar em um programa de calouros comandado pelo jornalista Antônio Maria e despertar a atenção do maestro Nélson Ferreira. No Recife, também integrou posteriormente o cast da Rádio Jornal do Commercio.
Em 1955, mudou-se para o Rio de Janeiro. De lá para outros lugares do mundo, foi um pulo. Morou em Lisboa, Paris e Nova York, onde durante anos trabalhou com Miriam Makeba, sendo responsável, inclusive, pelo arranjo da música “Pata Pata”, seu maior sucesso. Na terra de Tio Sam, após ter se desligado de Makeba, em 1969, dirigiu musicais e trabalhou ao lado de gente famosa como Betty Midler e Paul Simon, além de Hermeto Pascoal e Airto Moreira.
Em maio de 2003, Sivuca retorna para a sua Paraíba natal, fixando residência em João Pessoa. No ano seguinte, descobre que o câncer nas glândulas salivares, contra o qual lutava desde 1968, espalhara-se, atingindo o pulmão.
Mesmo com o estado de saúde se agravando, Sivuca continua trabalhando e compondo. Em 14 de dezembro de 2006, vem a falecer em consequência de uma insuficiência respiratória provocada pelo edema pulmonar.
O seu enterro, em João Pessoa, foi acompanhado por uma pequena multidão.

Recife, 2013


quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

O cão


O CÃO
Recife, 2012
Fotografia de Clóvis Campêlo

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Quinteto Violado e Lenine








QUINTETO VIOLADO E LENINE

Clóvis Campêlo

Uma semana antes do Carnaval de 1997, Chico Science morria num acidente de trânsito estúpido, em Olinda. Comoção geral. Lenine, que estava no Recife, chegou a propor que não houvesse a comemoração do Carnaval, naquele ano.
Enterrado Chico e passada a emoção inicial que a sua morte causou, os festejos rolaram com uma intensidade impressionante.
Na folia, Recife prestava ao mangue-boy a sua última homenagem. No domingo de Carnaval, no palco da Rua da Moeda, onde se apresentava o Quinteto Violado, Lenine chegou de surpresa e deu uma canja da pesada. Vestindo uma camisa com a fotografia de Miles Davis estampada, deitou e rolou ao lado dos rapazes do Quinteto Violado.

sábado, 7 de dezembro de 2013

A Virgem da Conceição


Fotografia de Diego Nigro

A VIRGEM DA CONCEIÇÃO

Clóvis Campêlo

O dogma não merece contestações. A fé deve ser cega. Desde o espaço etéreo ou Oxogbo. No sincretismo religioso, aliás, segundo alguns, ela corresponderia a Oxum, dona da água doce, dos rios e das cachoeiras. Padroeira da fecundidade, protege o feto e a criança em gestação. Seus filhos possuem doçura no olhar, embora chantagistas e dramáticos para conseguirem a piedade alheia.
No Recife, a imagem chegou em 1904, vinda da França, e subiu o antigo Outeiro de Bagnuolo. Lá se instalou, abençoando a cidade maurícia com o seu olhar. Atrás dela, foi o povo recifense. E, diferentemente de Nossa Senhora do Carmo que arrasta multidões pelas ruas largas da planície, a fé subiu o elevado em espirais concêntricas e intensas. Afinal, o morro está mais pertinho do céu.
A imagem mede 5,5 metros de altura e pesa 1.806 quilos. Representa Nossa Senhora da Conceição, vestida de branco, enrolada em um manto azul, de pé sobre o globo terrestre, com as mãos unidas em oração e uma cobra sendo esmagada pelos pés, para simbolizar a passagem bíblica do livro do Gênesis, onde Deus diz: “Porei inimizade entre ti e a Mulher, entre a tua descendência e a dela. Tu lhe ferirás o calcanhar e ela te esmagará a cabeça”.
Segundo o dogma católico, a Imaculada Conceição representa a Virgem Maria sem a mancha (mácula) do pecado original. O dogma foi oficializado pelo Papa Pio IX em 8 de dezembro de 1854, em sua bula Ineffabilis Deus. Além da citação do Gênesis acima, o papa, para justificar o dogma, também recorreu, no Cântico dos Cânticos, ao verso “Tu és toda formosa, meu amor, não há mancha em ti”. Afinal, como poderia Jesus, um ser puro, ser concebido por uma pessoa impura?
São Tomás de Aquino, aliás, foi um dos poucos doutores da Igreja a questionar o dogma mariano. No Livro das Sentenças, escrito provavelmente em 1252, quando ele contava com apenas 27 anos de idade e iniciava as suas atividades acadêmicas em Paris, questionou o dogma afirmando que a pureza se consegue com o afastamento dos contrários e se não houvera o contágio do pecado, como poderia a Virgem Maria conceber um novo ser?
A essa pergunta, ele mesmo responderia posteriormente, no final da vida, quanto retomou a crença da verdade do dogma da Imaculada Conceição, admitindo que ela nunca incorrerá em nenhum pecado, nem original, nem mortal ou venial.
Sob essa questão, aliás, seria interessante mencionar de passagem as concepções expressadas em 1968 pelo escritor suíço Erich von Daniken, no livro Eram os Deuses Astronautas?, quando levanta a possibilidade de que Jesus Cristo tenha sido concebido através de uma inseminação artificial feita por seres alienígenas.

Recife, 2013

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Lula em campanha








LULA EM CAMPANHA
Recife, 1994
Fotografias de Clóvis Campêlo

sábado, 30 de novembro de 2013

A ignorância que astravanca o progresso


A IGNORÂNCIA QUE ASTRAVANCA O PROGRESSO

Clóvis Campêlo

Quando o ex-prefeito do Recife João Paulo de Lima e Silva mandou derrubar algumas árvores da Praça Euclides da Cunha, na Ilha do Retiro, não só a imprensa com também alguns intelectuais recifenses e pernambucanos criticaram a atitude como um crime ecológico e digno de uma mentalidade restritiva e tacanha.
Um famoso poeta pernambucano, o qual, diga-se de passagem, também admiro, chegou mesmo a escrever um artigo inflamado, publicado em um jornal de grande circulação no Estado, protestando contra a ação prepotente que sacrificaria, inclusive, uma mangueira ali existente há décadas.
O que não sabiam, porém, é que o ex-prefeito, ex-metalúrgico e filho de um cobrador de ônibus, eleito surpreendentemente no ano 2000, derrotando o candidato apoiado pela forças políticas então majoritárias no Estado e que predominava nas pesquisas eleitorais, estava apenas retomando o projeto original idealizado pelo paisagista Burle Marx.
Segundo os estudiosos do assunto, o Cactário da Madalena, como também era designada a praça inicialmente, procurava retratar no seu núcleo a imagem da catinga nordestina, com espécies deste bioma, notadamente os cactos. Consta ainda que o arquiteto carioca teria se inspirado nos cenários sugeridos pelo livro Os Sertões, de Euclides da Cunha, por ele admirado.
Na verdade, dentro do desenho concebido por ele para o logradouro, a vegetação da caatinga ocupava o seu centro e, na parte mais externa, circundando a praça, seriam plantadas espécies nativas da Mata Atlântica.
Ao longo dos anos, porém, por conta da ação da natureza e da mão do próprio homem, a concepção inicial foi se deturpando e transformando-se numa mistura que mais nada tinha a ver com o projeto inicial. A intervenção municipal, portanto, visava apenas devolver à cidade a praça como originalmente fora concebida e construída.
É claro que nos questionamentos expressados e apressados havia uma boa dose de má vontade e de oposição política disfarçada. Feitas as devidas explicação pelo órgão municipal, calaram-se todos ante a evidência de que o prefeito estava mais do que certo.
Isso tudo me veio à mente, quando nas minhas caminhadas vespertinas na recém restaurada Praça do Forte, nos Torrôes, vejo a arborização sendo refeita com árvores decorativas, mas alienígenas. No meu entendimento, a entidade municipal deveria, repetindo a clarividência de Burle Marx, reflorestar as áreas das praças da cidade com espécies vegetais nativas da Mata Atlântica, restaurando esse bioma e trazendo de volta a fauna espantada (principalmente os pássaros) para longe do perímetro urbano.
Sei que o atual prefeito tem o tempo integralmente ocupado pelos afazeres inerentes à sua função, mas a sugestão fica feita para futuros estudos e aplicações.

Recife, 2013

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

As cores do lirismo
















AS CORES DO LIRISMO
Recife, carnaval de 2009
Fotografias de Clóvis Campêlo


terça-feira, 26 de novembro de 2013

As fantasias do Galo
















AS FANTASIAS DO GALO

Clóvis Campêlo

O Galo da Madrugada surgiu como um clube de máscaras, na década de 70.
De lá para cá, muita coisa mudou mas permaneceu a essência da concepção inicial.
E quando o frevo madruga no bairro de São José, o povo do Recife começa a se juntar em frente ao Forte das Cinco Pontas para mostrar a sua alegria e criatividade.
Para mim, é um dos melhores momentos do evento, quando se tem a oportunidade de observar melhor as fantasias.
Depois que a caravana enloquecida descamba pelo bairro, a coisa complica.
Esse ano, no primeiro desfile sem Enéas Freire, um dos seus criadores, o Galo inovou permitindo a apresentação de outros ritmos e colocando um boneco gigante, na praça Sérgio Loreto, para homenageá-lo.


Recife, 2009