quinta-feira, 7 de agosto de 2014

1932: O primeiro bicampeonato - Parte I


1932: O PRIMEIRO BICAMPEONATO - PARTE I 

Clóvis Campêlo

Em 1932, no dia 3 de fevereiro, enquanto a família coral comemorava o 18º aniversário de fundação do “Mais Querido”, a FPD proclamava o Santa Cruz como o legítimo campeão de 1931. Publicando a proclamação na data do aniversário tricolor, a entidade máxima procurava reaproximar-se do clube campeão, aparando as arestas surgidas no conflituoso jogo final, contra o Náutico. Eis o teor do documento, abaixo transcrito: “Federação Pernambucana de Desportos - Ato nº 2: O presidente da Federação Pernambucana de Desportos, usando das atribuições que lhe são conferidas e tendo em vista o resultado do último campeonato de futebol, conforme comunicação que lhe foi feita pelo diretor do Departamento de Desportos Terrestres, resolve proclamar o Santa Cruz Futebol Clube campeão de 1931. Gabinete da Presidência, em 3 de fevereiro de 1932. ( a ) Renato Silveira, presidente”.
A grande festa comemorativa, porém, só aconteceria no dia 15 de março, na nova e luxuosa sede inaugurada pela agremiação tricolor na rua João Pessoa (hoje, rua Nova), esquina com a praça Joaquim Nabuco. Na ocasião, foram entregues aos atletas campeões as medalhas ofertadas pela FPD. A solenidade foi comandada pelo desportista Alcides Lima, presidente em exercício, considerando o afastamento temporário do capitão Carlos Affonso de Melo. Perante um grande número de associados presentes, vários mandatários usaram da palavra, enaltecendo o feito e as figuras de velhos tricolores já desaparecidos. Foi ainda proposto e aceito por todos os presentes a concessão de títulos de sócios beneméritos ao atleta Julinho Fernandes, pelo seu desempenho na conquista do primeiro campeonato; ao treinador e diretor de esportes Ilo Just, como homenagem ao seu passado de atleta tricolor, e, ao presidente Carlos Affonso de Melo, pelos seus méritos como dirigente na conquista do primeiro título estadual. Segundo a imprensa da época, no final da cerimônia, foram servidos aos presentes bolinhos, doces, gasosas e cervejas.
A conquista do primeiro campeonato, aliás, repercutiria no seio da família tricolor durante todo o ano de 1932. No dia 10 de outubro, por exemplo, a diretoria do Santa Cruz realizaria ainda um festivo piquenique, em Prazeres, em homenagem aos jogadores pela conquista de 1931 e pela excelente campanha de 1932, que culminaria com a conquista do bicampeonato invicto. Diretores, sócios e homenageados saíram em automóveis, às 10 horas, do Largo da Paz, em Afogados, retornando, no final da tarda, após um lauto almoço. E, numa demonstração definitiva de que o grêmio coral vivia tempos de paz e prosperidade dentro e fora de campo, no dia 3 de novembro, o Comitê Pró-Livro inaugurava a biblioteca do Santa Cruz. Na sede, após a leitura do relatório, o sr. Berguedoff Eliot entregava as chaves da primeira estante. Também usou da palavra o sr. Carlos Rios, encerrando a inauguração oficial da biblioteca.
O campeonato estadual de 1932 foi disputado no período de 27 de março a 20 de novembro. Por decisão dos clubes, os disputantes foram divididos em dois grupos, com dois turnos cada, com os vencedores disputando a final, entre si, numa série melhor-de-tres. Os grupos ficaram assim constituídos: Grupo Azul - Sport, Náutico, Torre, Íris, Encruzilhada e AAA; Grupo Branco - América, Flamengo, Santa Cruz, Fluminense, Great Western e Israelita.
Sem a presença do Great Western, que só se filiaria à FPD depois de iniciado o campeonato, o Torneio Início foi disputado no dia 13 de março, na Av. Malaquias. Saiu vencedor o Sport, após derrotar o Torre, no jogo final. O Santa Cruz disputou dois jogos, vencendo o Flamengo, no primeiro, por 2x0, e sendo derrotado pelo Íris, no segundo, pelo mesmo escore.
Pelo certame de 1932 foram disputados 50 jogos (mais uma vez, dois jogos foram ganhos por WxO), sendo marcados 295 gols, com uma média de 5,9 tentos por partida. Assim como no ano anterior, não foi registrado nenhum empate pelo placar de 0x0. Novamente o Santa Cruz, numa demonstração incontestável da sua superioridade técnica, teve o melhor ataque e a defesa menos vazada, marcando 51 tentos e sofrendo apenas 13. Durante a competição foram utilizados apenas os campos do América, na Jaqueira (22 jogos) e do Sport, na Av. Malaquias (28 jogos). Vale salientar, também, que antes mesmo de disputar qualquer partida pelo certame a Associação Atlética do Arruda (AAA) foi descredenciada por não atender às exigências estatutárias da FPD. O Santa Cruz, vencedor do Grupo Branco, e o Íris, vencedor do Grupo Azul, disputaram as finais nos dias 15 e 20 de novembro, vencendo a equipe coral ambos os jogos pelo marcador de 4x1.

Recife, 2010

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