domingo, 31 de dezembro de 2017

O Cinema São Luiz



O CINEMA SÃO LUIZ

Pesquisa de textos de Clóvis Campêlo

Situado no bairro da Boa Vista, no centro do Recife, com a ajuda do Governo do Estado de Pernambuco, é hoje um dos últimos cinemas de rua ainda em atividade na cidade.
Sobre ele, assim se expressa o site Cultura-PE: “Inaugurado no dia 6 de setembro de 1952 e situado às margens do Rio Capibaribe e na cabeceira da mais moderna ponte da cidade à época, a Ponte Duarte Coelho, o São Luiz tornou-se um dos mais emblemáticos cinemas do Recife, prezando por essa arte em sua concepção clássica, com exibição em cine-teatro. Hoje o Cinema São Luiz é o de mais rica concepção artística e arquitetônica do Recife e um dos últimos cinemas de rua do país. Em 2008 o prédio foi tombado como monumento histórico pelo Governo do Estado que, por meio da Fundarpe, trouxe de volta ao público o tradicional Cinema São Luiz, revitalizado e sem os vícios da mídia cinematográfica, preservando e difundindo a arte do cinema e contribuindo para o resgate da história da cidade e manutenção de um verdadeiro templo de sua cultura. Em 5 de novembro de 2015, o cinema pernambucano inaugurou seu novo projetor digital Barco 23B 4K, com capacidade de projetar filmes em 3D. O São Luiz agora também conta com um servidor digital e novos processadores e amplificadores de som para o formato Dolby 7.1”.
Sobre o cinema e os seus painéis, criados pelo artista pernambucano Lula Cardoso Ayres, assim se expressa o site da Universidade Católica de Pernambuco: “O artista, também conhecido como Lula Cardoso Ayres, fez parte da equipe original de engenheiros, artistas e decoradores que projetaram o Cinema São Luiz, juntamente com: Américo Rodrigues Campello, Maurício Coutinho, Oscar Dubeux Pinto e Pedro Correia de Araújo. Lula ficou encarregado de cuidar da decoração e programação visual do hall de entrada do cinema. Filho do artista, engenheiro pernambucano e curador do Instituto Lula Cardoso Ayres, Luiz Cardoso Ayres Filho vem de uma família que teve um importantíssimo papel na construção do Cinema São Luiz. Maurício Coutinho, tio de Luiz Cardoso Filho, foi um dos engenheiros que projetaram o cinema e, juntamente com Luiz Cardoso Ayres, era muito ligado à família Severiano Ribeiro, que era proprietária do São Luiz. Nessa relação de família e amizade, Cardoso Ayres foi chamado para pintar um mural decorativo para o salão principal do cinema. Essa pintura, produzida em 1952 e finalizada em 1954, sendo restaurada em 1983 e preservada desde então, continua chamando atenção do público que entra no São Luiz devido às suas cores fortes e figuras que remetem-se às manifestações culturais do Recife. Lula Cardoso Ayres não só deu ao Cinema São Luiz um belo mural para a decoração, mas uma identidade visual ao cinema que marca a perfeita união entre o clássico e o moderno. Sua obra permanece imortalizada no último cinema de rua da cidade do Recife”.
Para finalizar, transcrevemos o texto publicado pelo site Roteiros PE sobre o cinema: “Situado no cartão postal do Recife, em plena Rua da Aurora e margeado pelo Rio Capibaribe, o Cinema São Luiz foi inaugurado no ano de 1952 e tornou-se o símbolo da era dos cinemas de bairro da capital pernambucana. Construído dentro do Edifício Duarte Coelho numa época de expansão urbana da capital pernambucana, ele ocupa os quatro primeiros pavimentos do prédio de 14 andares. À época de sua inauguração, o são Luiz contava com 1.340 assentos de madeira, revestidas de estofado vermelho. Atualmente a sala passou por um trabalho de restauração e em nome de uma maior acessibilidade reduziu o número de poltronas para 800 lugares. Sua arquitetura possui tons arte decor e remete à estrutura grandiosa dos cinemas-teatro, com um painel do artista plástico Lula Cardoso Ayres logo na sala de espera, após a entrada. Ao adentrar a sala de exibição, o espectador é presenteado com vitrais laterais que ladeiam a tela, da artista e vitralista pernambucana Aurora de Lima, aluna do artista alemão Heinrich Moser. O São Luiz é um dos poucos cinemas no mundo a ter vitrais dentro de sua sala de exibição. O ambiente tem no seu projeto a participação de profissionais como Américo Rodrigues Campello, Maurício Coutinho, Pedro Correia de Araújo e Oscar Dubeux Neto. A decoração da plateia foi pensada para fazer com que o espectador se sinta dentro de uma imensa tenda real, através de grandes tapeçarias suspensas, que se cruzam no teto. Este material recebeu o bordado dos três lírios de França, fazendo referência ao Rei da França Luis IX. Além dos lírios, 16 escudos de guerra em referência às cruzadas. Completando o interior, piso de mármore branco, revestimento de paredes em folheado de madeira de jatobá, e luminárias em bronze. Após um período de restauração, o São Luiz foi devolvido aos recifenses com toda a sua beleza, modernizando somente a sua imagem e seu som".


quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

O Saci Pererê


O SACI PERERÊ

Clóvis Campêlo

O Dia do Saci Pererê foi instituído nacionalmente em 2003, através de um projeto de lei elaborado pelo deputado federal Chico Alencar do PSOL do Rio de Janeiro. O objetivo seria resgatar figuras do foclore brasileiro em contraposição ao Dia das Bruxas (Halloween, de tradição celta), entre nós introduzido como mais uma faceta do colonialismo cultural a que estamos expostos desde a mais tenra idade.
Engana-se, porém, quem pensa que o Matita Perê nasceu isento de influências alienígenas. Figura bastante conhecida do folclore brasileiro, supõe-se que o saci surgiu entre os indígenas da Região das Missões, no sul do país, de onde se espalhou para todo o país. Vejamos o que diz a nossa querida Wikipédia: “Na Região Norte do Brasil, a mitologia africana o transformou em um negrinho que perdeu uma perna lutando capoeira, imagem que prevalece nos dias de hoje. Herdou também, da cultura africana, o pito, uma espécie de cachimbo e, da mitologia europeia, herdou o píleo, um gorrinho vermelho usado pelo lendário trasgo. Trasgo é um ser encantado do folclore do norte de Portugal, especialmente da região de Trás-os-Montes. Rebeldes, de pequena estatura, os trasgos usam gorros vermelhos e possuem poderes sobrenaturais”. Portando, os xenófobos que o desculpem.
Na literatura brasileira, foi Monteiro Lobato o primeiro escritor a se interessar pela figura do Saci Pererê. Em 1917, pesquisou sobre a figurinha entre os leitores do jornal O Estado de São Paulo, colhendo diversas histórias que narravam as estrepolias do pequeno ente, sempre brincalhão e travesso. No ano seguinte, sob o título de O Saci Pererê: resultado de um inquérito, publicou o seu primeiro livro. Mais tarde, em 1921, no livro O Saci, voltou a escrever sobre a figura em um livro dedicado à literatura infantil. E na coleção sobre o Sítio do Picapau Amarelo, O Saci de Lobato foi efetivado como personagem constante, embora secundário.
Em 1958, Ziraldo criou a Turma do Pererê, sob a forma de estórias em quadrinhos, lançada primeiramente em cartuns, no ano seguinte, nas páginas da revista O Cruzeiro. No ano seguinte, seria lançada a revista, a primeira revista brasileira em quadrinhos totalmente colorida. A revista circulou de 1960 a 1964, quando foi banida das bancas ao lado de outras revistas, por determinação da ditadura militar. Ainda chegou a ter 43 edições e uma tiragem média de 120 mil exemplares. O Saci Pererê era o personagem principal, ao lado de vários outros habitantes da Mata do Fundão, como Tininin, Galileu, Geraldinho, Moacir, Alan, Pedro Vieira e vários outros.
Em 1975, e Editora Abril relançou a revista sem êxito, alcançando apenas 10 edições.
Em 1983, o folclórico personagem chegou às telas das televisões brasileiras, em programa apresentado por vários anos na Rede Globo, embora produzido pela TVE Brasil em parceria com o próprio Ziraldo, tomando como base as histórias de Monteiro Lobato e com trilha sonora composta e produzida por nomes consagrados da música popular brasileira. Era a consagração definitiva.
Para finalizar, no site Geledés, do Instituto da Mulher Negra, encontramos dez curiosidades sobre a figura/lenda do Saci Pererê, que abaixo reproduzimos. Algumas confirmam o que foi dito acima, outras questionam e outras ainda trazem informações novas. Veja:
A lenda do saci foi inicialmente criada por índios do Sul do Brasil. Na versão tupi-guarani, um indiozinho de cabelos vermelhos teria o poder de ficar invisível e confundir os caçadores. Seu nome era Caa Cy Perereg.Os escravos se apropriaram da história e o saci se tornou negro e com um cachimbo na boca. O seu gorrinho é um elemento da cultura europeia, já que foi inspirado nas toucas romanas (os piléis). Conta a lenda que o saci se torna submisso àquele que rouba sua carapuça.
Um dos hábitos do saci é pedir fogo aos viajantes para acender seu pito. Dizem que ele tem até uma das mãos furadas de tanto carregar as brasas do cachimbo.
Afinal: qual perna falta no saci? Na dúvida entre a direita ou a esquerda, muitos afirmam que ele tem uma perna centralizada, apoiada em dedos laterais mais desenvolvidos.
Os “causos” populares contam que dentro de cada redemoinho de vento existe um saci e, para capturá-lo, é preciso ter paciência e um pouco de sorte. Primeiro, a pessoa deve se posicionar lentamente perto dele e jogar uma peneira. Depois, com cuidado, ela deve colocar uma garrafa vazia de cachaça lá dentro e esperar que o saci-pererê entre nela. Na hora de fechar, é bom não esquecer de desenhar uma pequena cruz na rolha.
O dia 31 de outubro já é considerado o Dia do Saci na cidade de São Paulo. A data é uma proposta nacionalista feita pelo presidente da Câmara, Aldo Rebelo, em 2004, para preencher o lugar do Halloween (dia das bruxas americano).
O saci-pererê é a mascote oficial do Sport Club Internacional de Porto Alegre. A figura foi criada na década de 50 por cartunistas dos jornais “Folha Desportiva” e “A Hora”. No começo, era apenas um garotinho negro. Depois, se transformou no Saci.
Quem primeiro retratou o saci-pererê em histórias infantis foi Monteiro Lobato, na série de livros Sítio do Pica-pau Amarelo. Foi desse jeito que a lenda se espalhou pelo Brasil. Depois disso, apareceu em seriados na TV e nas histórias em quadrinhos da Turma da Mônica.
O saci-pererê é considerado um símbolo nacional, pois congrega as três raças que compõem o povo brasileiro (branco, negro e índio).
Segundo a lenda, os sacis vivem exatos 77 anos. Eles são geridos pelos gomos do bambu. Quando morrem, se transformam em cogumelos venenosos.

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

O último poema


O ÚLTIMO POEMA

Pesquisa de textos de Clóvis Campêlo

O poeta Patativa do Assaré morreu aos 93 anos de idade, no dia 8 de julho de 2002, na mesma cidade onde nasceu. Sobre o seu falecimento, assim se expressou o site Clique Music: "Faleceu ontem o poeta e compositor Patativa do Assaré, aos 93 anos, na cidade cearense da qual tomou o nome emprestado. Antônio Gonçalves da Silva foi aclamado ao longo do século XX como um dos mais importantes poetas populares do Brasil, tendo influenciado especialmente a música nordestina. Luiz Gonzaga ajudou a difundir a arte de Patativa interpretando músicas suas como A Triste Partida e Vaca Estrela e Boi Fubá; seus versos foram cantados também por artistas como Renato Teixeira, Fagner e Rolando Boldrin. O poeta sucumbiu a uma pneumonia e já vinha há dois anos com problemas de saúde".
Sobre ele, assim se pronunciou a Wikipédia: "Uma das principais figuras da música nordestina do século XX. Segundo filho de uma família pobre que vivia da agricultura de subsistência, cedo ficou cego do olho direito por causa de uma doença. Com a morte de seu pai, quando tinha oito anos de idade, passou a ajudar sua família no cultivo das terras. Aos doze anos, frequentava a escola local, em qual foi alfabetizado, por apenas alguns meses. A partir dessa época, começou a fazer repentes e a se apresentar em festas e ocasiões importantes. Por volta dos vinte anos recebeu o pseudônimo de Patativa, por ser sua poesia comparável à beleza do canto dessa ave".
Em julho deste ano, ao completar quinze anos da sua morte, a Rádio Câmara, em Brasília, publicou a seguinte nota, mostrando que mesmo na atualidade a sua poesia ainda influencia grupos e compositores atuais: "Antônio Gonçalves da Silva foi um poeta popular que morreu em 2002. Semialfabetizado, aos 12 anos começou a fazer repentes e aos vinte anos de idade recebeu o apelido de Patativa do Assaré, um elogio à sua poesia, que seria comparável à beleza do canto dessa ave. O cidadão cearense nos deixou aos 93 anos de idade. Patativa ainda influencia a arte feita hoje, o grupo pernambucano Cordel do Fogo Encantado, bebe na fonte do poeta para compor suas letras".
O site Mundo Educação assim o definiu: "O nome dele é Patativa do Assaré, mas você pode chamá-lo também de “porta-voz do sertão”. Patativa, homem simples, mas de grande sabedoria e inteligência linguística, é um daqueles casos em que a poesia se mistura e se confunde com a vida de quem a escreve, por isso, conhecer a história do escritor é essencial para compreender sua poética. Longe do cânone literário e distante daquilo que se convencionou chamar de “a grande literatura” (afinal, o que é literatura?), Patativa do Assaré mostra que é preciso dessacralizar a arte, sobretudo a literária, e trazê-la para perto do povo. Inspiração Nordestina, seu primeiro livro, foi publicado em 1956 e, em 1967, ganhou uma segunda edição, renomeada para Cantos do Patativa. Em 1970, foi lançada uma nova coletânea de poemas, Patativa do Assaré: novos poemas comentados e, em 1978, foi lançado Cante lá que eu canto cá. Em 1988, o público foi agraciado com o livro Ispinho e, em 1994, Fulô e Aqui tem coisa. A poesia de Patativa inspirou não apenas escritores, mas também músicos, sobretudo os cantadores do nordeste, contribuindo assim imensamente para a música popular brasileira. A característica principal de seu trabalho é a oralidade: o poeta transferia a palavra para o papel tal qual ela era falada pelo homem simples. Por esse motivo, seus poemas, feitos para serem recitados, perdem em significação e expressividade quando expressos por meios não verbais".
No site Teatro do Pé, o próprio Patativa do Assaré se autodefine e fala um pouco de si mesmo: "Eu, Antônio Gonçalves da Silva, filho de Pedro Gonçalves da Silva, e de Maria Pereira da Silva, nasci aqui, no Sí­tio denominado Serra de Santana, que dista três léguas da cidade de Assaré. Meu pai, agricultor muito pobre, era possuidor de uma pequena parte de terra, a qual depois de sua morte, foi dividida entre cinco filhos que ficaram, quatro homens e uma mulher. Eu sou o segundo filho. De treze a quatorze anos comecei a fazer versinhos que serviam de graça para os serranos, pois o sentido de tais versos era o seguinte: Brincadeiras de noite de São João, testamento do Juda, ataque aos preguiçosos, que deixavam o mato estragar os plantios das roças, etc. Com 16 anos de idade, comprei uma viola e comecei a cantar de improviso, pois naquele tempo eu já improvisava, glosando os motes que os interessados me apresentavam. Nasci a 5 de março de 1909. Perdi a vista direita, no perí­odo da dentição, em conseqüência da moléstia vulgarmente conhecida por dor-d’olhos. Desde que comecei a trabalhar na agricultura, até hoje, nunca passei um ano sem botar a minha roçazinha, só não plantei roça, no ano em que fui ao Pará".
Do poeta cearense sempre nos chamou a atenção o poema Desilusão, onde pressentindo o final da vida, mostra-se incrédulo e sem mais esperanças. Nele, o poeta mostra-se mais caprichoso na linguagem, obedecendo a métrica do soneto e conformado com o momento final do seu encantamento.

DESILUSÃO

Como a folha no vento pelo espaço
Eu sinto o coração aqui no peito,
De ilusão e de sonho já desfeito,
A bater e a pulsar com embaraço.

Se é de dia, vou indo passo a passo
Se é de noite, me estendo sobre o leito,
Para o mal incurável não há jeito,
É sem cura que eu vejo o meu fracasso.

Do parnaso não vejo o belo monte,
Minha estrela brilhante no horizonte
Me negou o seu raio de esperança,

Tudo triste em meu ser se manifesta,
Nesta vida cansada só me resta
As saudades do tempo de criança.

Patativa do Assaré

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

O Mercado da Madalena




Fotografias de Clóvis Campêlo 


O MERCADO DA MADALENA

Clóvis Campêlo


Segundo o site da Prefeitura da Cidade do Recife, "o Bairro da Madalena é local de grande importância histórica. Foi rentável zona açucareira do Recife antigo. A construção do mercado teve início em 6 de fevereiro de 1925, e a inauguração se deu no mesmo ano. No local, se reunía um aglomerado de feirantes, que ali vendiam frutas e verduras, sem qualquer interferência por parte da Prefeitura. Funcionava à noite e, por isso, recebeu o nome de Mercado do Bacurau. O horário noturno atraía, além de comerciantes, boêmios, que buscavam um local vivo nas noites provincianas do Recife. Nos fins de semana, o movimento era mais intenso durante o dia, com destaque para o comércio de comidas típicas: mungunzá, tapioca, cuscuz com café, e o saboroso sarapatel de Manoel Mendes.Hoje, são 180 compartimentos, que oferecem alimentos variados: frutas, verduras, legumes, cereais, carnes e peixe. A parte onde funciona a administração conserva a estrutura original. Alterou-se, apenas, a parte térrea, onde funcionavam os sanitários e o depósito".
Já o pesquisador Flávio Guerra, no seu livro Velha igrejas e subúrbios históricas,  de 1978, diz o seguinte sobre o bairro da Madalena: "O importante bairro da Madalena, hoje uma aprazível área residencial, já quase dentro da própria zona urbana da cidade, que se expande cada vez mais, podendo-se, por isso, talvez, considerá-lo um bairro, é incontestavelmente um dos mais nobres e poéticos trechos do velho Recife". E citando Mário Sete: "Madalena, austera e nobre, possuindo para morar uma porção de solares imponentes, de frente e terraços para orio, vive dentro de si mesmo, aguentando o declínio sem gemer, sonhando com o seu grande passado, o seu fulgurante enlêvo de outrora".
Por seu lado, o historiador Carlos Bezerra Cavalcanti, no livro O Recife e seus bairros, de 1998, afirma: "Dona Madalena Gonsalves deu seu nome ao engenho que, segundo Pereira da Costa, campeava no largo, hoje denominado Praça João Alfredo". E complementa: "Esse bairro conservou, através dos tempos, sua condição aristocrática, nele residindo até 1841, o futuro Conde da Boa Vista, Francisco do Rêgo Barros, um dos mais brilhantes Presidentes da Província de Pernambuco. Nele também, mais precisamente num casarão da Rua Benfica, hospedou-se em 1859, Sua Majestade Imperial, Teresa Cristina, que acompanhou o marido D. Pedro II em sua visita a nossa Capital".
Ainda segundo Carlos Bezerra Cavalcanti no livro acima citado, o mercado foi inaugurado no dia 19 de outubro de 1925, pelo governador Sérgio Loreto. Ainda segundo Bezerra, em 1982, o historiador Vanildo Bezerra Cavalcanti descobriu no frontispício do mercado um escudo descaracterizado que se tratava do Brasão da cidade do Recife, que hoje, devidamente restaurado, pode ser visto na fachada do prédio.
O pesquisador João Braga, no livro Trilhas do Recife - Guia Turístico, Histórico e Cultural, afirma que o mercado foi inaugurado na gestão do prefeito Antônio de Góes Cavalcanti. Afirma ainda que o mercado recebeu o nome de Bacurau, numa referência ao pássaro madrugador, porque funcionava no horário noturno.
Para finalizar, a Wikipédia diz o seguinte: "O mercado tem sua importância na cultura e na gastronomia pernambucanas. Em sua parte externa há uma praça de alimentação, funcionando as 24 horas do dia, com comidas típicas regionais.
Anexa ao mercado, é muito conhecida a feira de passarinhos. Devido à abrangência econômica da cidade do Recife, pessoas de diversas regiões do Nordeste se alojam na cidade em busca de oportunidades, e o mercado é um ponto de encontro dos matutos na cidade, principalmente aos sábados ao redor do Box Sertanejo".


- Postagem revisada em 06/02/2018

sábado, 16 de dezembro de 2017

É "fake", mas eu gosto!

 Os chineses de Dafen

Eu e a minha réplica de Wellington Virgolino

É "FAKE", MAS EU GOSTO!

Clóvis Campêlo

Para mim, a originalidade é uma invenção burguesa. Antes, aprendia-se imitando, copiando e superando os mestres. Era a mimeses, que tanto Platão quanto Aristóteles se preocuparam em valorizar e explicar.
Por isso, aceitei de bom grado o quadro acima. Por isso, admiro os chineses de Sheenzen, cidade situada na região sul da China, especialista em copiar os grandes mestre da pintura ocidental, especialmente Monet e Van Gogh.
Segundo matéria da jornalista Úrsula Passos, publicada no jornal Folha de São Paulo, em 11/01/2015, estima-se que os camaradas chineses de Dafen, bairro da cidade onde estão situados os ateliês dos copiadores, seja responsável por 60% das falsificações feitas em todo o mundo. Não é mole.
Ainda segundo Passos, pode-se comprar as cópias chinesas até por via on-line em galerias que entregam encomendas em diversos países do mundo. Uma réplica dos girassóis de Van Gogh, por exemplo, pode sair em torno de R$ 135,00, em valores daquela época.
Aqui no Recife, lembro de Tércio, pintor que ficava na Rua Nova, por traz da Igreja Matriz de Santo Antônio e que copiava qualquer pintura ou fotografia que lhe fosse entregue. Faz algum tempo, encomendei-lhe a reprodução em óleo de uma fotografia do meu filho Gabriel, feita por mim quando ele ainda era menino. O quadro, se não perfeito, ficou muito bom e me custou um preço razoavelmente barato. Ainda hoje, está colocado na parede da sua sala, presente que lhe dei.
Outro dia, procurei por Tércio e soube que havia ido embora para São Paulo, onde o mercado é mais promissor, depois de ter sido vítima do golpe da "Boa noite, Cinderela" aplicado por uma mulher com a qual estava se envolvendo sentimentalmente. Ela, levou-lhe o dinheiro, uma boa parte do material de trabalho e a vontade de continuar no Recife. Uma pena para mim que, seduzido por seu trabalho e pelo preço acessível, queria mais.
O quadro acima, foi um presente dado por minha irmã. É a réplica de um trabalho do Wellington Virgolino, pintor pernambucano falecido em 1988. Segundo a Wikipédia, "autodidata e observador voraz do cotidiano, Welington Virgolino ficou conhecido pela pintura de dimensões estilizadas, apresentando certas deformações nos corpos das figuras humanas e dos elementos que compunham a tela. Autor denominado de "modernista/figurativo", retratava gente do povo, operários de construção e as expressões do sentimento de cada personagem. Mostrando as frustrações e os sofrimentos da vida precária do trabalhador brasileiro, eternizado em personagens como "Os calceteiros", "Calungas de Caminhão" e "Operários". Assim como não deixou de registrar as invenções e reinvenções da infância, ainda com ênfase em seus questionamentos sociais, através de suas crianças".
Para mim, suas figuras gorduchas diferem do colombiano Botero, por não estarem isoladas, interagindo com outros personagens e com o contexto onde se situam.
Um grato presente que hoje ilustra a sala de estar do meu apartamento. Não é um original, é "fake" mas eu gosto.

Recife, 16/12/2017


quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Abelardo da Hora

Auto-retrato


ABELARDO DA HORA



Clóvis Campêlo



São muitas as histórias sobre Abelardo da Hora. Uma delas, a mim foi contada pelo jornalista Ronildo Maia Leite, em 1991, quando o fotografei no seu apartamento, na Rua Maestro Nelson Ferreira, na praia da Piedade, em Jaboatão dos Guararapes. Contou Ronildo que em plena ditadura militar, Abelardo da Hora pendurava-se de cabeça para baixo na ponte Duarte Coelho, segurado pelos companheiros militantes, para pintar no parapeito da ponte a palavra liberdade. Isso hoje, pode parecer bobagem, mas naquele tempo exigia coragem e convicção política.

Umas outras histórias sobre Abelardo, eu li no livro Dicionário Amoroso do Recife, do escritor Urariano Mota. No livro, Abelardo é o verbete que o abre. A primeira, refere-se ainda aos tempos sinistros da ditadura, quando todo o Comitê Estadual do Partido Comunista, do qual o escultor fazia parte, foi assassinado. Apenas Abelardo escapou, por ser casado com a irmã de Augusto Lucena, então prefeito biônico do Recife e homem de confiança dos militares golpistas. A segunda história, mais amena e mais engraçada, embora de resultado desfavorável para o artista, deu-se na casa do empresário Ricardo Brennand, onde Abelardo, ainda adolescente, trabalhava e vivia. Todos os dias, pela manhã, deparava-se com as filhas do mecenas saindo para a escola. Impressionado com a beleza de uma delas, fez uma escultura, por ele mesmo chamada de A torre dos meus sonhos, onde dois cupidos brincavam com os cabelos de uma jovem em pé, enquanto um rapaz com a sua fisionomia abraçava-se às pernas da moça. O velho Brennand não gostou da ousadia e, por conta disso, Abelardo da Hora terminou por deixar a casa do empresário.

As mulheres, inclusive, sempre foram um tema predominante na arte do artista plástico. Basta observar nos prédios residenciais do Recife a quantidade de figuras femininas esculpidas pela arte de Abelardo.

Apenas uma vez fotografei mestre Abelardo. A fotografia foi feita em 1992, no Museu da Imagem e do Som de Pernambuco, na época dirigido por Celso Marconi, um marxista devoto de Nossa Senhora da Conceição. Infelizmente, a única fotografia de Abelardo da Hora feita por mim se extraviou. Este texto foi por nós pensado exatamente para dilvulgá-la. Confesso que estou pagando por minha falta de organização.

Durante anos passei diariamente na porta da casa de Abelardo, na Rua do Sossego, e, apesar da sua acessibilidade, nunca tive coragem de incomodá-lo no recesso do lar para tentar fotografá-lo.

Alguns anos antes do seu falecimento, quando lhe prestaram uma homenagem no carnaval do Recife, cruzei com ele no Galo da Madrugada. Estava eufórico e animado e essa foi mais uma boa oportunidade por mim perdida.

Abelardo da Hora nasceu na cidade pernambucana de São Lourenço da Mata, em 31 de julho de 1924, e faleceu no Recife, em 23 de setembro de 2014.

Sobre a sua obra, assim se coloca a Wikipédia: “A maneira de Abelardo da Hora se expressar através da escultura é única e forte. Não é superficial nem interessada em ser fácil para o mercado absorver. Na escultura, como nos desenhos, há nitidamente três vertentes que podem ser facilmente identificadas: a preocupação de sempre alertar para o descaso com relação aos menos favorecidos. São desenhos e esculturas denunciadoras de um estado de coisas insuportável, tal a miséria em que vive grande parte da população; o elogio da força e riqueza dos que se reúnem em maracatus, bumbas-meu-boi, frevos, etc., que nascem no interior nordestino e vêm para as cidades grandes mostrando ritmo, cores, organização. Fantasias ricas que encantam os centros urbanos. O artista traduz isso em desenhos extraordinários e, o que é mais difícil, transpõe para esculturas de concreto; a grande riqueza do planeta resumida num flagrante exemplo através do corpo feminino. Não é apenas a mulher que está viva, mas suas esculturas. É toda a natureza que explode no artista”.

Como artista militante, participou ainda nos anos 60 do memorável Movimento de Cultura Popular (MCP), criado quando da gestão de Miguel Arraes de Alencar como prefeito do Recife. Segundo texto de Lúcia Gaspar, publicado no site da Fundaj: “O Movimento de Cultura Popular do Recife foi extinto com o golpe militar, em março de 1964. Dois tanques de guerra foram estacionados no gramado da sua sede, no Sítio da Trindade. Toda a documentação do Movimento foi queimada, obras de artes destruídas e os profissionais envolvidos foram perseguidos e afastados dos seus cargos”.

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Parabéns, presidente!


PARABÉNS, PRESIDENTE!

Clóvis Campêlo



Talvez o grande erro de Lula e do Partido dos Trabalhadores tenha sido apostar em um acordo com bandidos e larápios tradicionais da política brasileira em nome da chamada governabilidade. Foi aí que o PT perdeu o rumo e se deixou contaminar. Infelizmente.

Mas, natural da cidade de Caetés, onde veio ao mundo em 27 de outubro de 1945, “foi o único presidente do Brasil nascido em Pernambuco. Bateu um recorde histórico de popularidade durante seu mandato, conforme medido pelo Datafolha. Programas sociais como o Bolsa Família e Fome Zero são marcas de seu governo, ambos reconhecidos pela Organização das Nações Unidas como os programas que possibilitaram a saída do país do mapa da fome. Lula teve um papel de destaque na evolução recente das relações internacionais, incluindo o programa nuclear do Irã e a questão do aquecimento global”.

Na época do seu nascimento, Caetés era apenas um distrito da cidade de Garanhuns, situada no agreste meridional de Pernambuco. A cidade de Caetés surgiu de um povoado fundado por Miguel Quirino dos Santos. Até 1918 a localidade chamava-se "São Caetano". O topônimo mudou para Caetés por influência do jornalista, historiador e publicista da língua tupi, Mário Melo. Segundo este historiador, caetés é uma corruptela de caá-etê, significando "mato real ou verdadeiro, mata virgem". Emancipou-se como município em 13 de dezembro de 1963, desmembrando-se do município de Garanhuns.

Antes, em em 1952, com apenas sete anos de idade, Lula acompanhou a mãe e os irmãos numa viagem para São Paulo, em busca do próprio pai. Saiu de Caetés em um caminhão pau-de-arara. Em São Paulo chegou, viu e venceu. De engraxate a vendedor de jornais, torneiro-mecânico, líder sindical, deputado federal e presidente da República, numa trajetória vitoriosa.
Apesar da sua derrota para Fernando Collor de Melo em 1989, na eleição presidencial, Lula manteve sólida liderança no PT, bem como prestígio internacional, como no destaque obtido quando da fundação do Foro de São Paulo, em São Bernardo do Campo, em 1990. Tratava-se de um encontro periódico de lideranças partidárias que visava congregar e reorganizar as esquerdas latino americanas, que estavam politicamente desorganizadas com a expansão do neoliberalismo após a queda do muro de Berlim. Em setembro de 1993 estava percorrendo os Estados da Amazônia em campanha para a eleição presidencial de 1994. Em Ariquemes (RO), Lula disse: “Há no congresso uma minoria que se preocupa e trabalha pelo país, mas há uma maioria de uns trezentos picaretas que defendem apenas seus próprios interesses”.
Em 27 de outubro de 2002, Lula foi eleito presidente do Brasil, derrotando o candidato apoiado pela situação, o ex-ministro da Saúde e então senador pelo Estado de São Paulo José Serra do PSDB. No seu discurso de diplomação, Lula afirmou: "E eu, que durante tantas vezes fui acusado de não ter um diploma superior, ganho o meu primeiro diploma, o diploma de presidente da República do meu país."
Em 29 de outubro de 2006, Lula é reeleito no segundo turno, vencendo o ex-governador do Estado de São Paulo Geraldo Alckmin do PSDB, com mais de 60% dos votos válidos. Após esta eleição, Lula divulgou sua intenção de fazer um governo de coalizão, ampliando assim sua fraca base aliada. O PMDB passa a integrar a estrutura ministerial do governo.
Pela primeira vez na história desse país, tomamos rumos diferentes e respiramos uma certa ilusão de protagonismo. No entanto, enquanto país estratégico no contexto mundial atual, por conta das suas riquezas e possibilidades, fomos vítimas de um novo golpe urdido provavelmente nos porões da CIA, conforme sempre afirmou o jornalista Paulo Henrique Amorim.
Os golpistas rapidamente redirecionaram o país para a subserviência e entreguismo, modificando regras de relações trabalhistas, sempre privilegiando a o capital em detrimento dos trabalhadores em geral.
Lula sempre despertou sentimentos antagônicos em relação à sua figura e isso nem Freud explica. Por causa da admiração que lhe tenho cheguei a romper com vários amigos menores que nunca souberam respeitar a diversidade de pensamentos e credos políticos. Melhor assim. Antes que só que mal acompanhado.
Parabéns, presidente! E vida longa para você.

Fonte: Wikipédia

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Quando o vermelho entra em cena







QUANDO O VERMELHO ENTRA EM CENA
Recife, agosto 2017
Fotografias de Clóvis Campêlo

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Um prefácio e seis contos

UM PREFÁCIO E SEIS CONTOS


Clóvis Campêlo

Não há a menor dúvida, amigos, de que existe um acordo tácito e implícito entre o prefaciador e o prefaciado. Tanto quanto os atributos dos textos analisados, sempre busca o primeiro retribuir ao segundo, de forma positiva, a gentileza do convite e da confiança depositada. E aí é que a vaca torce o rabo: não sendo o analisado dotado de grande capacidade literária e imaginativa, sobrará ao prefaciador o esforço hercúleo de juntar os cacos das mal traçadas linhas e estabelecer uma colagem razoável e digna.
No entanto, sendo o escritor dotado de boa capacidade literária e dominador das técnicas narrativas, torna-se agradável e pertinente, ao prefaciador, criar o seu texto apresentativo e paralelo, sem medo nenhum de ser feliz. De uma forma ou de outra, escrever prefácios é construir linhas de cumplicidades e parcerias.
No caso de Marcos Godoy, que além de amigo, colega de trabalho e companheiro de literatura, é um escritor competente e já reconhecido na sua labuta de escreviver, a tarefa a nós imposta, apesar da imensa responsabilidade, tornou-se muito mais um prazer do que uma obrigação. Não há como negar a sua competência na construção textual e narrativa.
No conto chamado de A confissão, mas que bem poderia ser chamado de A vingança, já podemos observar as opções técnicas por ele escolhidas para definir as bases do seu texto. Narrado na primeira pessoa, mostra-nos o que alguns estudiosos do assunto chamam de narrador autodiegético, personagem principal e que relata as suas experiências pessoais. A predominância da descrição em muitos momentos das histórias, como o fizeram todos os grandes autores do Realismo, leva-nos a entender a preocupação de Godoy com a verossimilhança. Sendo os contos narrados o resultado das histórias que escutava do seu pai, segundo o que o próprio autor nos revelou, nada mais justo do que preocupar-se com a contextualização e com a sua inserção em ambientes reais. O conto, aliás, que bem poderia ter acontecido em Serra Talhada, cidade natal do autor, situada a 415 quilômetros do Recife e uma das mais importantes do sertão pernambucano, conta a história da peça pregada pelo autor em Zé das Cabritas, sertanejo esperto mas crédulo na sua fé religiosa, obrigando-o a pagar uma penitência exagerada em função da sua confissão ao falso padre. Descoberta a farsa, pacientemente, Zé das Cabritas aguardou anos até surgir a oportunidade de dar o troco, fazendo com que o narrador literalmente entrasse numa fria.
No conto O estranho mundo de Doralice, a história começa em media res, com os acontecimento anteriores ao início da narrativa sendo resgatados pela memória do narrador. Esse artifício utilizado faz com que o fatos ocorridos anteriormente ao início da narrativa sejam trazidos ao presente através de flash-backs e analepses, provocando uma mudança no plano temporal. Esse artifício narrativo, aliás, é usado em profusão pelo autor em vários momentos desta e de outras narrativas deste livro. Talvez, numa tentativa de criar um jogo interpretativo com o leitor, quebrando um pouco da sua inércia diante do texto. Nesse sentido, outro recurso também muito utilizado são as digressões. São pequenas histórias, observações ou descrições acrescentadas ao texto principal e que nem sempre tem necessariamente a ver com ele, afastando do leitor a atenção momentânea sobre as ações da história principal.
No caso específico de O estranho mundo de Doralice, serve-nos de exemplo o episódio da anciã octogenária que discute com o dono da padaria por causa de divergências no valor da sua caderneta mensal.
De uma maneira geral, poderíamos considerar ainda o uso pelo autor do discurso direto livre como uma forma de interpor um personagem qualquer entre o narrador e o leitor. Se há algo interessante a ser dito, que o narrador saia de cena e fale o personagem. É a própria Doralice quem se expressa diretamente ao afirmar que precisa dormir para sonhar, para fugir de realidade da sua vida insatisfatória, para criar a utopia que insiste em perseguir e que a faz suportar a desventura da sua vida.
No conto O cangaceiro, ao contrário do que o título poderia supor (mais uma atitude lúdica do autor?), não é o cangaceiro Jesualdo Ibiapino da Silva, o Tenente Atropelo, que figura como protagonista da história. Durante toda a narrativa o anti-herói mantém-se fora da moldura da história, aparecendo apenas no final, envolto numa nuvem de poeira, que o traz à cena e, do mesmo modo, o leva de volta aos bastidores. Só reaparece no final do conto, com a sua morte anunciada numa notícia de jornal. Ele, que durante a vida matara tanta gente com crueldade, morre em consequência de um câncer no pulmão, provocado pelo cigarro que tanto lhe aprazia. Ironicamente, o cigarro e os fósforos que salvaram o personagem Joel, no encontro casual com o cangaceiro, são os elementos responsáveis pela doença causadora da sua morte. Nesse texto, fica latente as situações de “distraimento” do leitor pelas artimanhas narrativas do autor. Aqui, os personagens pouco falam, imperando a voz do narrador. Afinal, não seria de bom tom lhes dar voz e facilitar a leitura e interpretação do texto por parte dos leitores.
No que tange aos cigarros, em um tempo onde verificamos a sua demonização e tentativa de exclusão social, permitindo-me também uma digressão, lembro da história de Clayton, amigo da juventude, que, assim como Joel livrou-se da morte por acender o cigarro do cangaceiro, escapou da morte por sair da parada de ônibus onde se encontrava para comprar cigarros em um fiteiro. A parada ficava em frente a um sobrado antigo que desabou matando as outras pessoas que lá se encontravam. Para Clayton, como não cansava de afirmar, o cigarro salvara a sua vida.
O conto O Advogado Baiano é narrado na terceira pessoa e repete o cenário interiorano referenciado nas histórias anteriores: a mesma calmaria, a mesma arrumação, a mesma praça, os mesmos bancos. As horas passam perceptíveis, realçando a rotina do local. De novidade, apenas o novo coreto a ser inaugurado e o personagem recém-chegado, com ares ilustres de personalidade importante a ser apresentada. Aliás, como que demonstrando antecipadamente que a narrativa se encaminharia para um desfecho hilário e cômico, o narrador chega a compará-lo com o personagem de Clark Gable, no filme Aconteceu Naquela Noite. O final da história, porém, além de completamente inusitado, joga por terra todo o glamour da figura do jovem advogado e mostra com humor até onde pode chegar a ganância e a ambição humana.
O conto A Flor e o Espinho destoa de todos os outros anteriores. Primeiramente, como o diz o próprio narrador, porque aconteceu numa aldeia distante, distante das terras e dos dias de hoje. Ou seja, o tempo da narração é posterior ao tempo da narrativa. Do mesmo muda o cenário do acontecimento narrado. Não mais temos como palco as terras secas e áridas do sertão. Agora, estamos numa floresta úmida e perfumada. No que tange à construção do texto e da história, somem as descrições realistas e, em seu lugar, surgem as metáforas românticas, sugerindo ao leitor que chegara a horas de ser contada uma história de amor. Na verdade, um amor trágico, bem ao sabor dos românticos, destruído pela rigidez das convenções sociais que regiam aquela comunidade e aquele povo.
Narrado na primeira pessoa, Sobre Amores e Amigos é um conto pessoal e introspectivo. O narrador/personagem volta-se para dentro de si e apenas faz referências espaciais externas para se contextualizar. Debruçado sobra a larga janela, observa as pessoas e o mundo sem se deixar contagiar. Uma mulher que passa sob a chuva, vestida como se fosse para a missa, com uma sombrinha chinesa e sapatos de duas cores é uma figura interessante mas sem nenhuma influência no seu conflito interno. Ela a observa, mas logo a esquece.
Duas palavras destacam-se no primeiro parágrafo pela repetição: começo e vazio, que denunciam o imenso sentimento de solidão no qual o narrador/personagem está submerso.
A introspecção do texto reflete diretamente na sua forma narrativa: é a voz do narrador que predomina. O discurso direto livre aparece apenas duas vezes, de forma curta, em telefonemas equivocados que demonstram a sua inutilidade. E é voltando-se para dentro de si mesmo, das suas memórias e conjecturas, que o narrador/personagem irá procurar e reconstituir o seu equilíbrio emocional no aqui e no agora.

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Entre colunas e cúpulas





 




 

ENTRE COLUNAS E CÚPULAS

Fotografias e pesquisa de textos de Clóvis Campêlo

Segundo a Wikipédia: "A origem da localização da Basílica da Penha remonta a um pequeno oratório situado em “Fora de Porta de Santo Antônio”, correspondendo, com uma pequena diferença, ao terreno onde hoje está erguida a construção contemporânea. O oratório foi instituído em 1655 pelos franciscanos capuchinhos franceses e ampliado em 16 de abril do mesmo ano, em um terreno doado por Belchior Alves Camello e sua mulher Joanna Bezerra. Contudo, o templo atual foi construído entre os anos de 1870 e 1882, sendo a única igreja em estilo coríntio do estado de Pernambuco. É inspirada na arquitetura da Basílica de São Jorge Maior. Em 2 de setembro de 2007 iniciou-se uma obra de restauro que durou até o dia 4 de julho de 2014, data de sua reinauguração. As obras custaram cerca de R$ 6 milhões e ainda não terminaram. O trabalho dos restauradores revelou diversos aspectos que estavam perdidos até então pela degeneração causada pelo tempo. A cor original da santa que encima a cúpula externa que é dourada foi restabelecida e foi encontrado um painel de mosaico vitrificado, feito na Itália. A igreja é conhecida pelo tradicional evento da Benção de São Félix onde passou a acontecer em um ambiente próximo da Basílica enquanto durava a reforma.
Diferente do estilo barroco utilizado na maioria das igrejas do Recife, a Basílica da Penha tem arquitetura neorenascentista e uma obra arquitetônica de vasto conjunto artístico tanto no seu interior quanto no exterior. A maioria das obras não tem documentação que indique autoria devida, deixando uma lacuna no levantamento histórico do prédio. Dentre as poucas peças de autoria conhecida encontramos, no altar-mor, as figuras de São Francisco e Santo Antônio entalhadas no mármore em baixo relevo com autoria de Valentino Besarel e baixo relevo no altar-mor. Mas há indícios de que que várias obras são oriundas do mesmo escultor. Também encontra-se no altar-mor afrescos de Murillo La Greca".
No seu livro Velhas Igrejas e Subúrbios Históricos,  o historiador Flávio Guerra diz o seguinte:"Em 1869 entenderam os capuchinhos de transformar a sua Igreja em um grande Templo, e a construíram dentro doe stilo suntuoso de Santa Maria Maior, de Roma, sendo responsável pelas obras o arquiteto Fr. Vivente de Vicenzia, construtor que tinha sido de grandes templos da Europa e até na Ásia.
A pedra fundamental, entretanto, só foi lançada no ano seguinte a 6 de novembro, e a 270 palmos afastados do local da Igreja existente. Concluído o novo Templo em 1882, foi ele sagrado festivamente no dia 22 de janeiro, pelo bispo do Maranhão, D. Antônio Cândido de Alvarenga, com a assistência do bispo de Olinda, D. José Pereira da Silva Barros, o conde de S. Agostinho.
Todo o edifício obedece à ordem artística coríntia.
É um templo majestoso com 65,70 de comprimento por 28,40 de largura.Sua configuração é de uma cruz latina, contendo três naves com um suntuoso zimbório, cuja chave se eleva a 43 metros de altura, tendo no alto uma elegante claraboia, sobre a qual se vê colocada uma colossal imagem de Nossa Senhora da Penha.
Por trás desse zimbório, sobem duas esguias e elegantes torres de 40 metros cada uma, sob forma quadrangular, que se transforma do meio para cima em perspectiva octogonal".
Segundo o site da Arquidiocese de Olinda e Recife, "a Basílica da Penha é um marco divisor na história da arquitetura pernambucana e um exemplar, no Brasil, dos primórdios do neoclassicismo em Pernambuco. Em 1964,  Dom Hélder Câmara, Arcebispo de Olinda e Recife, criou a Paróquia Nossa Senhora da Penha e elegeu como Igreja Matriz a Basílica da Penha.  Tradicionalmente às sextas-feiras, a Basílica da Penha reúne grande fluxo de devotos, quando é ministrada a benção de São Felix ao longo do dia, pelos capuchinhos".

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Entre a burguesia e a revolução




 

Fotografias de Clóvis Campêlo / agosto 2017

ENTRE A BURGUESIA E A REVOLUÇÃO

Clóvis Campêlo


Já se disse que a fotografia e o cinema, enquanto artes modernas, só surgiram quando a evolução da tecnologia burguesa permitiu a criação de máquinas e engenhocas apropriadas para isso, diferentemente da música, do teatro e da literatura, artes que existem desde a Antiguidade.

No que tange especificamente à fotografia, a sua origem remonta ao Renascimento, com o desenvolvimento da câmara escura, artefato supostamente existente desde o século V aC. O uso mais intensivo dessa surgiu a partir da necessidade dos pintores renascentistas de copiarem a realidade com fidelidade.

A realidade fielmente copiada, porém, não foi e nem é suficiente para nos dar a dimensão exata do mundo multifacetado em que vivemos. Nem sempre o simulacro reproduz com fidelidade esse mundo e a sua contextualização. É aí que entra a arte do fotógrafo e a sua capacidade de fazer leituras diferenciadas. O mesmo objeto, numa mesma época e situação especial pode ter realçado detalhes diferentes e diferenciadores.

Além do mais, fotografar não é apenas perseguir o belo e o inebriante. Ao fotógrafo também se permite a caça ao grotesco, ao feio, ao sujo e ao politicamente “incorreto”.

Diferentemente do pintor, que pode dispor do tempo que achar necessário para criar a sua obra, o fotógrafo às vezes dispõe apenas de segundos para efetuar a sua captura. Um simples hiato temporal pode modificar todo o significado plástico e poético de uma imagem capturada.

Mas não era a minha intenção teorizar sobre a arte burguesa da fotografia, e sim falar sobra a sua utilização política e social. A arte de fotografar hoje pertence a todos, independentemente das suas posições, políticas, religiosas ou filosóficas. E essa apropriação é mais do que devida.

As fotografias acima, foram feitas no Pátio do Carmo, no Recife, em agosto próximo passado, enquanto aguardávamos a chegada do ex-presidente Lula e da sua caravana.

Serve para mostrar o perfil dos que o apoiam e acreditam na sua proposta política e governamental. Podemos observar não só o óbvio com também as mensagens subliminares nelas existentes. Podemos ver a democrática utilização das cores, mesmo com a predominância de alguns tons mais fortes.

E como já disse o poeta em um moderno frevo-canção, se a praça é do povo como o céu é do avião, nada mais justo do que a sua ocupação seja devidamente registrada e sirva para demonstrar e provar as suas opções e preferências.
Ao povo, o que é do povo! As lutas, a labuta, as caras, as cores, os credos, os cantos. A satisfação de simplesmente ser, sem a necessidade de subterfúgios, escamoteamentos ou cretinices.

Sem medo nenhum de ser feliz.

domingo, 10 de setembro de 2017

A Casa Navio




A CASA NAVIO

Clóvis Campêlo


Segundo o escritor João Braga, no livro Trilhas do Recife – Guia Turístico, Histórico e Cultura, a famosa Casa Navio, construída pelo empresário Adelmar da Costa Carvalho, existiu na Avenida Boa Viagem, 400. Sua arquitetura se assemelhava ao navio Queen Elizabeth, com sala de reuniões, quartos, suíte, cinema, salão de jogos, restaurante e até uma cabine de comando. Foi filmada pela Metro Golden Meyer, de Hollywood, e hospedou diplomatas e presidentes. Era um dos nosso cartões-postais, sendo demolida em 1981 para a construção do Edifício Vânia.
As informações acima são confirmadas pelo pesquisador Carlos Bezerra Cavalcanti, no livro O Recife e seus bairros. Afirma ainda que o imóvel foi construído em 1940. E, citando o historiador Napoleão Barroso, afirma: “O empresário não queria construir apenas uma casa navio e sim um transatlântico. Por causa das críticas da sua mulher e do arquiteto Hugo Azevedo Marques, construiu ao invés de um transatlântico, um iate”. Afirma ainda que até o presidente Juscelino Kubtschek foi seu hóspede.
Por seu lado, o jornalista Paulo Goethe publicou no Diario de Pernambuco, em 12/6/2016, sob o título Era uma casa engraçada, a matéria que abaixo reproduzimos na íntegra:
"Em 1940, o empresário Adelmar da Costa Carvalho (o mesmo que dá nome ao estádio da Ilha do Retiro) valeu-se da planta do transatlântico Queen Elizabeth para construir sua residência na Corta-Jaca, uma área de Boa Viagem que ganhou essa denominação porque era que ali Carlos de Lima Cavalcanti, governador vitorioso da Revolução de 1930, gostava de tomar banho. Imediatamente, os recifenses com tendência a puxa-saco começaram a mergulhar no mesmo local, desejosos de que a autoridade os visse. Na verdade, a ideia de construir sua excêntrica mansão, que virou automaticamente um cartão-postal recifense, Aldemar teve quando viu uma casa em formato de navio nas margens do Lago Como, na Itália
O empresário adquiriu, por dez mil contos, o terreno de um norte-americano residente na orla da capital pernambucana, com quarenta metros de frente. Como era o dono da maior empresa de construção do Nordeste, dinheiro, material, equipamento e operários não eram problema. Difícil mesmo foi convencer a esposa, que não queria morar em Boa Viagem, lugar distante meia hora da parte urbanizada do Recife. Mais difícil ainda foi contratar o arquiteto Hugo de Azevedo Marques, que relutou em aceitar o projeto. O renomado profissional acabou transformando o transatlântico em um iate de três andares, todo em concreto armado.
No dia 8 de julho de 1981, o Diario de Pernambuco noticiava o início da demolição da popular casa-navio, localizada no número 4.000 da Avenida Boa Viagem. O trabalho teve que ser realizado em 90 dias, por dez homens, de forma artesanal. O restaurante Tombadilho, que funcionava ao lado e oferecia até banhos de piscina a seus frequentadores, também havia sido adquirido pelo mesmo grupo imobiliário.
A casa-navio era um ponto de referência em Boa Viagem, hospedando personalidades e atraindo turistas. Até o presidente Juscelino Kubitschek participou de um encontro no local. A Metro-Goldwyn-Mayer chegou a enviar uma equipe para registrar em filme a mansão pernambucana. Maior revista em circulação do Brasil, O Cruzeiro fez também uma ampla reportagem. Ligando a avenida Beira-Mar à Navegantes, a casa-navio fez história. Tanto que parte dos comentários sobre a postagem anterior do filme sobre o Recife em 1954 era sobre ela. Demolida, tem sua história preservada aqui".
O empresário bem sucedido que iniciou a sua vida como dono de uma gráfica no bairro do São José, foi deputado federal eleito por vários mandatos e presidente do Sport Clube do Recife. O Estádio da Ilha do Retiro hoje tem o seu nome. O Edifício Vânia foi por ele construído em homenagem a uma das suas filhas, que era deficiente. Ao seu lado, hoje, na praia da Boa Viagem, também existe um prédio com o nome do empresário.

No final, complementando a nossa pesquisa, o amigo e escritor Urariano Mota nos enviou ainda o comentário abaixo:
"Clóvis, eu tenho o livro O homem da Casa Navio, de Vera Lucia Japiassu e Eliane Souto Carvalho (filha de Adelmar da Costa Carvalho). Nele, na página 130, lemos:"... foi a casa inaugurada com uma festa de Carnaval no 3o. aniversário de Eliane, em 06 de fevereiro de 1946". É claro, a construção e o projeto vieram antes. Mas a Casa Navio existiu pronta a partir de 6 de fevereiro de 1946. Abraço."


quinta-feira, 7 de setembro de 2017

A Feira de Caruaru



A FEIRA DE CARUARU

Clóvis Campêlo

Comecemos pela Wikipédia: “A Feira de Caruaru é um importante mercado ao ar livre da cidade brasileira de Caruaru em Pernambuco. Na feira são vendidos produtos das mais variadas naturezas, desde frutas, verduras, cereais, ervas medicinais, carnes, bem como produtos manufaturados como roupas, calçados, bolsas, panelas e outros utensílios para cozinha, móveis, animais, ferragens, miudezas, rádios, artigos eletrônicos e importados. Considerada uma das maiores feiras ao ar livre do país, a Feira de Caruaru atrai pessoas de todo o Nordeste brasileiro. A feira foi considerada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) como patrimônio imaterial do Brasil”.
Segundo o site do Iphan, “a Feira surgiu em uma fazenda localizada em um dos caminhos do gado, entre o sertão e a zona canavieira, onde pousavam vaqueiros, tropeiros e mascates. No final do século XVIII, foi construída nesse local a capela de Nossa Senhora da Conceição que ampliou a convergência social e fortaleceu as relações de trocas comerciais no local. Assim, a feira cresceu com a cidade e se tornou um dos principais motores do seu desenvolvimento social e econômico”.
Ainda segundo o Iphan, “ Essa enorme feira livre, frequentada por milhares de pessoas que compram carne, frutas, verduras, cereais, flores, raízes e ervas, panelas e outros utensílios de barro, calçados, vestuário, ferramentas, móveis e eletrodomésticos usados, e ferro velho. Há espaço do artesanato ou Feira dos Artistas onde são vendidas peças de barro, madeira, pedra, metal, palha, coco, cordas, couro, tecidos, bordados e lã, além de muitos outros materiais. Barracas vendem comidas típicas (sarapatel, buchada, cuscuz, macaxeira, carne de bode, de sol, mungunzá, xerém e coalhada, entre outras) enquanto poetas e repentistas mostram seus versos”.
Essa diversidade tamanha, inspirou o compositor Onildo Almeida a compor música homônima, gravada por ele sem muita repercussão em 1956, e transformada em sucesso nacional no ano seguinte, na voz de Luiz Gonzaga.
Segundo o Diário do Nordeste, em texto de Fernando Maia, “os versos do compositor caruaruense são a síntese do que representa para os nordestinos essa autêntica realização popular. Não há qualquer exagêro de que ali tem de tudo. Localizada no Parque 18 de Maio – data da emancipação política da cidade – ocupa uma área de 43 hectares, sem contar com mais de 15 hectares que são destinados para o estacionamento de ônibus, caminhões, vans e veículos particulares, que chegam todos os dias de várias localidades do Nordeste”.
Segundo o site G1, da Globo, em matéria de Joalline Nascimento, “A música "A Feira de Caruaru" foi apresentada pela primeira vez ao público na extinta Rádio Difusora, onde Onildo trabalhava. Ele estava operando um programa em um dia de domingo quando aproveitou para melhorar a letra. "Enquanto eu lia a música, Rui Cabral, que animava o programa, chegou. Ele perguntou o que era e eu disse que era uma música. Ele disse: 'Com essas bugingangas todas?' Falei que sim e ele me pediu para cantar", recorda o compositor”.
Ainda segunda a mesma matéria, “ O rei do baião estava em Caruaru no ano de 1957 quando ouviu a música pela primeira vez. Onildo ainda não conhecia Gonzaga. "Eu conheci ele quando perguntou se a música era minha e me pediu para gravar. Claro que eu deixei". No mesmo ano, Luiz Gonzaga pediu para que Onildo fizesse uma letra em comemoração ao centenário de Caruaru. Foi quando ele compôs "Capital do Agreste". As duas músicas fizeram parte de um mesmo disco do rei do baião”.