domingo, 31 de dezembro de 2017

O Cinema São Luiz



O CINEMA SÃO LUIZ

Pesquisa de textos de Clóvis Campêlo

Situado no bairro da Boa Vista, no centro do Recife, com a ajuda do Governo do Estado de Pernambuco, é hoje um dos últimos cinemas de rua ainda em atividade na cidade.
Sobre ele, assim se expressa o site Cultura-PE: “Inaugurado no dia 6 de setembro de 1952 e situado às margens do Rio Capibaribe e na cabeceira da mais moderna ponte da cidade à época, a Ponte Duarte Coelho, o São Luiz tornou-se um dos mais emblemáticos cinemas do Recife, prezando por essa arte em sua concepção clássica, com exibição em cine-teatro. Hoje o Cinema São Luiz é o de mais rica concepção artística e arquitetônica do Recife e um dos últimos cinemas de rua do país. Em 2008 o prédio foi tombado como monumento histórico pelo Governo do Estado que, por meio da Fundarpe, trouxe de volta ao público o tradicional Cinema São Luiz, revitalizado e sem os vícios da mídia cinematográfica, preservando e difundindo a arte do cinema e contribuindo para o resgate da história da cidade e manutenção de um verdadeiro templo de sua cultura. Em 5 de novembro de 2015, o cinema pernambucano inaugurou seu novo projetor digital Barco 23B 4K, com capacidade de projetar filmes em 3D. O São Luiz agora também conta com um servidor digital e novos processadores e amplificadores de som para o formato Dolby 7.1”.
Sobre o cinema e os seus painéis, criados pelo artista pernambucano Lula Cardoso Ayres, assim se expressa o site da Universidade Católica de Pernambuco: “O artista, também conhecido como Lula Cardoso Ayres, fez parte da equipe original de engenheiros, artistas e decoradores que projetaram o Cinema São Luiz, juntamente com: Américo Rodrigues Campello, Maurício Coutinho, Oscar Dubeux Pinto e Pedro Correia de Araújo. Lula ficou encarregado de cuidar da decoração e programação visual do hall de entrada do cinema. Filho do artista, engenheiro pernambucano e curador do Instituto Lula Cardoso Ayres, Luiz Cardoso Ayres Filho vem de uma família que teve um importantíssimo papel na construção do Cinema São Luiz. Maurício Coutinho, tio de Luiz Cardoso Filho, foi um dos engenheiros que projetaram o cinema e, juntamente com Luiz Cardoso Ayres, era muito ligado à família Severiano Ribeiro, que era proprietária do São Luiz. Nessa relação de família e amizade, Cardoso Ayres foi chamado para pintar um mural decorativo para o salão principal do cinema. Essa pintura, produzida em 1952 e finalizada em 1954, sendo restaurada em 1983 e preservada desde então, continua chamando atenção do público que entra no São Luiz devido às suas cores fortes e figuras que remetem-se às manifestações culturais do Recife. Lula Cardoso Ayres não só deu ao Cinema São Luiz um belo mural para a decoração, mas uma identidade visual ao cinema que marca a perfeita união entre o clássico e o moderno. Sua obra permanece imortalizada no último cinema de rua da cidade do Recife”.
Para finalizar, transcrevemos o texto publicado pelo site Roteiros PE sobre o cinema: “Situado no cartão postal do Recife, em plena Rua da Aurora e margeado pelo Rio Capibaribe, o Cinema São Luiz foi inaugurado no ano de 1952 e tornou-se o símbolo da era dos cinemas de bairro da capital pernambucana. Construído dentro do Edifício Duarte Coelho numa época de expansão urbana da capital pernambucana, ele ocupa os quatro primeiros pavimentos do prédio de 14 andares. À época de sua inauguração, o são Luiz contava com 1.340 assentos de madeira, revestidas de estofado vermelho. Atualmente a sala passou por um trabalho de restauração e em nome de uma maior acessibilidade reduziu o número de poltronas para 800 lugares. Sua arquitetura possui tons arte decor e remete à estrutura grandiosa dos cinemas-teatro, com um painel do artista plástico Lula Cardoso Ayres logo na sala de espera, após a entrada. Ao adentrar a sala de exibição, o espectador é presenteado com vitrais laterais que ladeiam a tela, da artista e vitralista pernambucana Aurora de Lima, aluna do artista alemão Heinrich Moser. O São Luiz é um dos poucos cinemas no mundo a ter vitrais dentro de sua sala de exibição. O ambiente tem no seu projeto a participação de profissionais como Américo Rodrigues Campello, Maurício Coutinho, Pedro Correia de Araújo e Oscar Dubeux Neto. A decoração da plateia foi pensada para fazer com que o espectador se sinta dentro de uma imensa tenda real, através de grandes tapeçarias suspensas, que se cruzam no teto. Este material recebeu o bordado dos três lírios de França, fazendo referência ao Rei da França Luis IX. Além dos lírios, 16 escudos de guerra em referência às cruzadas. Completando o interior, piso de mármore branco, revestimento de paredes em folheado de madeira de jatobá, e luminárias em bronze. Após um período de restauração, o São Luiz foi devolvido aos recifenses com toda a sua beleza, modernizando somente a sua imagem e seu som".


quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

O Saci Pererê


O SACI PERERÊ

Clóvis Campêlo

O Dia do Saci Pererê foi instituído nacionalmente em 2003, através de um projeto de lei elaborado pelo deputado federal Chico Alencar do PSOL do Rio de Janeiro. O objetivo seria resgatar figuras do foclore brasileiro em contraposição ao Dia das Bruxas (Halloween, de tradição celta), entre nós introduzido como mais uma faceta do colonialismo cultural a que estamos expostos desde a mais tenra idade.
Engana-se, porém, quem pensa que o Matita Perê nasceu isento de influências alienígenas. Figura bastante conhecida do folclore brasileiro, supõe-se que o saci surgiu entre os indígenas da Região das Missões, no sul do país, de onde se espalhou para todo o país. Vejamos o que diz a nossa querida Wikipédia: “Na Região Norte do Brasil, a mitologia africana o transformou em um negrinho que perdeu uma perna lutando capoeira, imagem que prevalece nos dias de hoje. Herdou também, da cultura africana, o pito, uma espécie de cachimbo e, da mitologia europeia, herdou o píleo, um gorrinho vermelho usado pelo lendário trasgo. Trasgo é um ser encantado do folclore do norte de Portugal, especialmente da região de Trás-os-Montes. Rebeldes, de pequena estatura, os trasgos usam gorros vermelhos e possuem poderes sobrenaturais”. Portando, os xenófobos que o desculpem.
Na literatura brasileira, foi Monteiro Lobato o primeiro escritor a se interessar pela figura do Saci Pererê. Em 1917, pesquisou sobre a figurinha entre os leitores do jornal O Estado de São Paulo, colhendo diversas histórias que narravam as estrepolias do pequeno ente, sempre brincalhão e travesso. No ano seguinte, sob o título de O Saci Pererê: resultado de um inquérito, publicou o seu primeiro livro. Mais tarde, em 1921, no livro O Saci, voltou a escrever sobre a figura em um livro dedicado à literatura infantil. E na coleção sobre o Sítio do Picapau Amarelo, O Saci de Lobato foi efetivado como personagem constante, embora secundário.
Em 1958, Ziraldo criou a Turma do Pererê, sob a forma de estórias em quadrinhos, lançada primeiramente em cartuns, no ano seguinte, nas páginas da revista O Cruzeiro. No ano seguinte, seria lançada a revista, a primeira revista brasileira em quadrinhos totalmente colorida. A revista circulou de 1960 a 1964, quando foi banida das bancas ao lado de outras revistas, por determinação da ditadura militar. Ainda chegou a ter 43 edições e uma tiragem média de 120 mil exemplares. O Saci Pererê era o personagem principal, ao lado de vários outros habitantes da Mata do Fundão, como Tininin, Galileu, Geraldinho, Moacir, Alan, Pedro Vieira e vários outros.
Em 1975, e Editora Abril relançou a revista sem êxito, alcançando apenas 10 edições.
Em 1983, o folclórico personagem chegou às telas das televisões brasileiras, em programa apresentado por vários anos na Rede Globo, embora produzido pela TVE Brasil em parceria com o próprio Ziraldo, tomando como base as histórias de Monteiro Lobato e com trilha sonora composta e produzida por nomes consagrados da música popular brasileira. Era a consagração definitiva.
Para finalizar, no site Geledés, do Instituto da Mulher Negra, encontramos dez curiosidades sobre a figura/lenda do Saci Pererê, que abaixo reproduzimos. Algumas confirmam o que foi dito acima, outras questionam e outras ainda trazem informações novas. Veja:
A lenda do saci foi inicialmente criada por índios do Sul do Brasil. Na versão tupi-guarani, um indiozinho de cabelos vermelhos teria o poder de ficar invisível e confundir os caçadores. Seu nome era Caa Cy Perereg.Os escravos se apropriaram da história e o saci se tornou negro e com um cachimbo na boca. O seu gorrinho é um elemento da cultura europeia, já que foi inspirado nas toucas romanas (os piléis). Conta a lenda que o saci se torna submisso àquele que rouba sua carapuça.
Um dos hábitos do saci é pedir fogo aos viajantes para acender seu pito. Dizem que ele tem até uma das mãos furadas de tanto carregar as brasas do cachimbo.
Afinal: qual perna falta no saci? Na dúvida entre a direita ou a esquerda, muitos afirmam que ele tem uma perna centralizada, apoiada em dedos laterais mais desenvolvidos.
Os “causos” populares contam que dentro de cada redemoinho de vento existe um saci e, para capturá-lo, é preciso ter paciência e um pouco de sorte. Primeiro, a pessoa deve se posicionar lentamente perto dele e jogar uma peneira. Depois, com cuidado, ela deve colocar uma garrafa vazia de cachaça lá dentro e esperar que o saci-pererê entre nela. Na hora de fechar, é bom não esquecer de desenhar uma pequena cruz na rolha.
O dia 31 de outubro já é considerado o Dia do Saci na cidade de São Paulo. A data é uma proposta nacionalista feita pelo presidente da Câmara, Aldo Rebelo, em 2004, para preencher o lugar do Halloween (dia das bruxas americano).
O saci-pererê é a mascote oficial do Sport Club Internacional de Porto Alegre. A figura foi criada na década de 50 por cartunistas dos jornais “Folha Desportiva” e “A Hora”. No começo, era apenas um garotinho negro. Depois, se transformou no Saci.
Quem primeiro retratou o saci-pererê em histórias infantis foi Monteiro Lobato, na série de livros Sítio do Pica-pau Amarelo. Foi desse jeito que a lenda se espalhou pelo Brasil. Depois disso, apareceu em seriados na TV e nas histórias em quadrinhos da Turma da Mônica.
O saci-pererê é considerado um símbolo nacional, pois congrega as três raças que compõem o povo brasileiro (branco, negro e índio).
Segundo a lenda, os sacis vivem exatos 77 anos. Eles são geridos pelos gomos do bambu. Quando morrem, se transformam em cogumelos venenosos.

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

O último poema


O ÚLTIMO POEMA

Pesquisa de textos de Clóvis Campêlo

O poeta Patativa do Assaré morreu aos 93 anos de idade, no dia 8 de julho de 2002, na mesma cidade onde nasceu. Sobre o seu falecimento, assim se expressou o site Clique Music: "Faleceu ontem o poeta e compositor Patativa do Assaré, aos 93 anos, na cidade cearense da qual tomou o nome emprestado. Antônio Gonçalves da Silva foi aclamado ao longo do século XX como um dos mais importantes poetas populares do Brasil, tendo influenciado especialmente a música nordestina. Luiz Gonzaga ajudou a difundir a arte de Patativa interpretando músicas suas como A Triste Partida e Vaca Estrela e Boi Fubá; seus versos foram cantados também por artistas como Renato Teixeira, Fagner e Rolando Boldrin. O poeta sucumbiu a uma pneumonia e já vinha há dois anos com problemas de saúde".
Sobre ele, assim se pronunciou a Wikipédia: "Uma das principais figuras da música nordestina do século XX. Segundo filho de uma família pobre que vivia da agricultura de subsistência, cedo ficou cego do olho direito por causa de uma doença. Com a morte de seu pai, quando tinha oito anos de idade, passou a ajudar sua família no cultivo das terras. Aos doze anos, frequentava a escola local, em qual foi alfabetizado, por apenas alguns meses. A partir dessa época, começou a fazer repentes e a se apresentar em festas e ocasiões importantes. Por volta dos vinte anos recebeu o pseudônimo de Patativa, por ser sua poesia comparável à beleza do canto dessa ave".
Em julho deste ano, ao completar quinze anos da sua morte, a Rádio Câmara, em Brasília, publicou a seguinte nota, mostrando que mesmo na atualidade a sua poesia ainda influencia grupos e compositores atuais: "Antônio Gonçalves da Silva foi um poeta popular que morreu em 2002. Semialfabetizado, aos 12 anos começou a fazer repentes e aos vinte anos de idade recebeu o apelido de Patativa do Assaré, um elogio à sua poesia, que seria comparável à beleza do canto dessa ave. O cidadão cearense nos deixou aos 93 anos de idade. Patativa ainda influencia a arte feita hoje, o grupo pernambucano Cordel do Fogo Encantado, bebe na fonte do poeta para compor suas letras".
O site Mundo Educação assim o definiu: "O nome dele é Patativa do Assaré, mas você pode chamá-lo também de “porta-voz do sertão”. Patativa, homem simples, mas de grande sabedoria e inteligência linguística, é um daqueles casos em que a poesia se mistura e se confunde com a vida de quem a escreve, por isso, conhecer a história do escritor é essencial para compreender sua poética. Longe do cânone literário e distante daquilo que se convencionou chamar de “a grande literatura” (afinal, o que é literatura?), Patativa do Assaré mostra que é preciso dessacralizar a arte, sobretudo a literária, e trazê-la para perto do povo. Inspiração Nordestina, seu primeiro livro, foi publicado em 1956 e, em 1967, ganhou uma segunda edição, renomeada para Cantos do Patativa. Em 1970, foi lançada uma nova coletânea de poemas, Patativa do Assaré: novos poemas comentados e, em 1978, foi lançado Cante lá que eu canto cá. Em 1988, o público foi agraciado com o livro Ispinho e, em 1994, Fulô e Aqui tem coisa. A poesia de Patativa inspirou não apenas escritores, mas também músicos, sobretudo os cantadores do nordeste, contribuindo assim imensamente para a música popular brasileira. A característica principal de seu trabalho é a oralidade: o poeta transferia a palavra para o papel tal qual ela era falada pelo homem simples. Por esse motivo, seus poemas, feitos para serem recitados, perdem em significação e expressividade quando expressos por meios não verbais".
No site Teatro do Pé, o próprio Patativa do Assaré se autodefine e fala um pouco de si mesmo: "Eu, Antônio Gonçalves da Silva, filho de Pedro Gonçalves da Silva, e de Maria Pereira da Silva, nasci aqui, no Sí­tio denominado Serra de Santana, que dista três léguas da cidade de Assaré. Meu pai, agricultor muito pobre, era possuidor de uma pequena parte de terra, a qual depois de sua morte, foi dividida entre cinco filhos que ficaram, quatro homens e uma mulher. Eu sou o segundo filho. De treze a quatorze anos comecei a fazer versinhos que serviam de graça para os serranos, pois o sentido de tais versos era o seguinte: Brincadeiras de noite de São João, testamento do Juda, ataque aos preguiçosos, que deixavam o mato estragar os plantios das roças, etc. Com 16 anos de idade, comprei uma viola e comecei a cantar de improviso, pois naquele tempo eu já improvisava, glosando os motes que os interessados me apresentavam. Nasci a 5 de março de 1909. Perdi a vista direita, no perí­odo da dentição, em conseqüência da moléstia vulgarmente conhecida por dor-d’olhos. Desde que comecei a trabalhar na agricultura, até hoje, nunca passei um ano sem botar a minha roçazinha, só não plantei roça, no ano em que fui ao Pará".
Do poeta cearense sempre nos chamou a atenção o poema Desilusão, onde pressentindo o final da vida, mostra-se incrédulo e sem mais esperanças. Nele, o poeta mostra-se mais caprichoso na linguagem, obedecendo a métrica do soneto e conformado com o momento final do seu encantamento.

DESILUSÃO

Como a folha no vento pelo espaço
Eu sinto o coração aqui no peito,
De ilusão e de sonho já desfeito,
A bater e a pulsar com embaraço.

Se é de dia, vou indo passo a passo
Se é de noite, me estendo sobre o leito,
Para o mal incurável não há jeito,
É sem cura que eu vejo o meu fracasso.

Do parnaso não vejo o belo monte,
Minha estrela brilhante no horizonte
Me negou o seu raio de esperança,

Tudo triste em meu ser se manifesta,
Nesta vida cansada só me resta
As saudades do tempo de criança.

Patativa do Assaré

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

O Mercado da Madalena




Fotografias de Clóvis Campêlo 


O MERCADO DA MADALENA

Clóvis Campêlo


Segundo o site da Prefeitura da Cidade do Recife, "o Bairro da Madalena é local de grande importância histórica. Foi rentável zona açucareira do Recife antigo. A construção do mercado teve início em 6 de fevereiro de 1925, e a inauguração se deu no mesmo ano. No local, se reunía um aglomerado de feirantes, que ali vendiam frutas e verduras, sem qualquer interferência por parte da Prefeitura. Funcionava à noite e, por isso, recebeu o nome de Mercado do Bacurau. O horário noturno atraía, além de comerciantes, boêmios, que buscavam um local vivo nas noites provincianas do Recife. Nos fins de semana, o movimento era mais intenso durante o dia, com destaque para o comércio de comidas típicas: mungunzá, tapioca, cuscuz com café, e o saboroso sarapatel de Manoel Mendes.Hoje, são 180 compartimentos, que oferecem alimentos variados: frutas, verduras, legumes, cereais, carnes e peixe. A parte onde funciona a administração conserva a estrutura original. Alterou-se, apenas, a parte térrea, onde funcionavam os sanitários e o depósito".
Já o pesquisador Flávio Guerra, no seu livro Velha igrejas e subúrbios históricas,  de 1978, diz o seguinte sobre o bairro da Madalena: "O importante bairro da Madalena, hoje uma aprazível área residencial, já quase dentro da própria zona urbana da cidade, que se expande cada vez mais, podendo-se, por isso, talvez, considerá-lo um bairro, é incontestavelmente um dos mais nobres e poéticos trechos do velho Recife". E citando Mário Sete: "Madalena, austera e nobre, possuindo para morar uma porção de solares imponentes, de frente e terraços para orio, vive dentro de si mesmo, aguentando o declínio sem gemer, sonhando com o seu grande passado, o seu fulgurante enlêvo de outrora".
Por seu lado, o historiador Carlos Bezerra Cavalcanti, no livro O Recife e seus bairros, de 1998, afirma: "Dona Madalena Gonsalves deu seu nome ao engenho que, segundo Pereira da Costa, campeava no largo, hoje denominado Praça João Alfredo". E complementa: "Esse bairro conservou, através dos tempos, sua condição aristocrática, nele residindo até 1841, o futuro Conde da Boa Vista, Francisco do Rêgo Barros, um dos mais brilhantes Presidentes da Província de Pernambuco. Nele também, mais precisamente num casarão da Rua Benfica, hospedou-se em 1859, Sua Majestade Imperial, Teresa Cristina, que acompanhou o marido D. Pedro II em sua visita a nossa Capital".
Ainda segundo Carlos Bezerra Cavalcanti no livro acima citado, o mercado foi inaugurado no dia 19 de outubro de 1925, pelo governador Sérgio Loreto. Ainda segundo Bezerra, em 1982, o historiador Vanildo Bezerra Cavalcanti descobriu no frontispício do mercado um escudo descaracterizado que se tratava do Brasão da cidade do Recife, que hoje, devidamente restaurado, pode ser visto na fachada do prédio.
O pesquisador João Braga, no livro Trilhas do Recife - Guia Turístico, Histórico e Cultural, afirma que o mercado foi inaugurado na gestão do prefeito Antônio de Góes Cavalcanti. Afirma ainda que o mercado recebeu o nome de Bacurau, numa referência ao pássaro madrugador, porque funcionava no horário noturno.
Para finalizar, a Wikipédia diz o seguinte: "O mercado tem sua importância na cultura e na gastronomia pernambucanas. Em sua parte externa há uma praça de alimentação, funcionando as 24 horas do dia, com comidas típicas regionais.
Anexa ao mercado, é muito conhecida a feira de passarinhos. Devido à abrangência econômica da cidade do Recife, pessoas de diversas regiões do Nordeste se alojam na cidade em busca de oportunidades, e o mercado é um ponto de encontro dos matutos na cidade, principalmente aos sábados ao redor do Box Sertanejo".


- Postagem revisada em 06/02/2018

sábado, 16 de dezembro de 2017

É "fake", mas eu gosto!

 Os chineses de Dafen

Eu e a minha réplica de Wellington Virgolino

É "FAKE", MAS EU GOSTO!

Clóvis Campêlo

Para mim, a originalidade é uma invenção burguesa. Antes, aprendia-se imitando, copiando e superando os mestres. Era a mimeses, que tanto Platão quanto Aristóteles se preocuparam em valorizar e explicar.
Por isso, aceitei de bom grado o quadro acima. Por isso, admiro os chineses de Sheenzen, cidade situada na região sul da China, especialista em copiar os grandes mestre da pintura ocidental, especialmente Monet e Van Gogh.
Segundo matéria da jornalista Úrsula Passos, publicada no jornal Folha de São Paulo, em 11/01/2015, estima-se que os camaradas chineses de Dafen, bairro da cidade onde estão situados os ateliês dos copiadores, seja responsável por 60% das falsificações feitas em todo o mundo. Não é mole.
Ainda segundo Passos, pode-se comprar as cópias chinesas até por via on-line em galerias que entregam encomendas em diversos países do mundo. Uma réplica dos girassóis de Van Gogh, por exemplo, pode sair em torno de R$ 135,00, em valores daquela época.
Aqui no Recife, lembro de Tércio, pintor que ficava na Rua Nova, por traz da Igreja Matriz de Santo Antônio e que copiava qualquer pintura ou fotografia que lhe fosse entregue. Faz algum tempo, encomendei-lhe a reprodução em óleo de uma fotografia do meu filho Gabriel, feita por mim quando ele ainda era menino. O quadro, se não perfeito, ficou muito bom e me custou um preço razoavelmente barato. Ainda hoje, está colocado na parede da sua sala, presente que lhe dei.
Outro dia, procurei por Tércio e soube que havia ido embora para São Paulo, onde o mercado é mais promissor, depois de ter sido vítima do golpe da "Boa noite, Cinderela" aplicado por uma mulher com a qual estava se envolvendo sentimentalmente. Ela, levou-lhe o dinheiro, uma boa parte do material de trabalho e a vontade de continuar no Recife. Uma pena para mim que, seduzido por seu trabalho e pelo preço acessível, queria mais.
O quadro acima, foi um presente dado por minha irmã. É a réplica de um trabalho do Wellington Virgolino, pintor pernambucano falecido em 1988. Segundo a Wikipédia, "autodidata e observador voraz do cotidiano, Welington Virgolino ficou conhecido pela pintura de dimensões estilizadas, apresentando certas deformações nos corpos das figuras humanas e dos elementos que compunham a tela. Autor denominado de "modernista/figurativo", retratava gente do povo, operários de construção e as expressões do sentimento de cada personagem. Mostrando as frustrações e os sofrimentos da vida precária do trabalhador brasileiro, eternizado em personagens como "Os calceteiros", "Calungas de Caminhão" e "Operários". Assim como não deixou de registrar as invenções e reinvenções da infância, ainda com ênfase em seus questionamentos sociais, através de suas crianças".
Para mim, suas figuras gorduchas diferem do colombiano Botero, por não estarem isoladas, interagindo com outros personagens e com o contexto onde se situam.
Um grato presente que hoje ilustra a sala de estar do meu apartamento. Não é um original, é "fake" mas eu gosto.

Recife, 16/12/2017