segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Uma excursão vitoriosa e histórica


Em pé: Carlos Alberto Barbosa, Givanildo, Joel Mendes, Pedrinho, Alfredo Santos e Paranhos.
Agachados: Jadir, Betinho, Neinha, Carlos Roberto e Joãozinho. 

UMA EXCURSÃO VITORIOSA E HISTÓRICA

Clóvis Campêlo

Em 1979, sob o comando do técnico Evaristo Macedo, o Santa Cruz realizou uma excursão ao Oriente Médio e à Europa. Em doze jogos, colheu dez vitórias e dois empates. O ataque tricolor marcou 40 tentos, tendo a sua defesa sofrido apenas 10. Os principais artilheiros foram Neinha e Volnei, com 10 gols marcados, cada, e Betinho, com 8 tentos. A excursão foi organizada pelo empresário Elias Zacour e teve como chefe da comitiva José Nivaldo de Castro. O presidente do clube era Rodolfo Aguiar.
A delegação coral, com um grupo de 28 pessoas, saiu do Recife no dia 26 de fevereiro, uma segunda-feira de carnaval, fazendo escala em Paris, após dez horas de voo.

ENFRENTANDO O ORIENTE MÉDIO


No dia 3 de março, a equipe tricolor fez a primeira partida da sua história em canchas internacionais, enfrentando e vencendo a seleção do Kuwait, que tinha em seu comando o técnico Carlos Alberto Parreira, com gols de Neinha (2), Betinho (2) e Givanildo. O Santa Cruz jogou com Joel Mendes; Carlos Alberto Barbosa, Paranhos, Alfredo Santos e Pedrinho; Givanildo, Betinho e Carlos Roberto; Jadir, Neinha (Volnei) e Joãozinho. Após o jogo, Parreira visitou a delegação coral no Miscilah Beach Hotel, fazendo grandes elogios ao futebol do meia Betinho.
Três dias depois, em 6 de março, no mesmo estádio, o Qadisyya Sporting Club, com capacidade para 25 mil pessoas, a equipe coral voltou a enfrentar o Kuwait, empatando em 1x1, com mais um gol de Betinho. O Santa Cruz atuou com Joel Mendes; Carlos Alberto Barbosa, Paranhos, Alfredo Santos e Pedrinho, Givanildo, Betinho e Carlos Roberto; Jadir (Gonçalves), Neinha (Volnei) e Joãozinho (Zé Roberto).
No dia 8 de março, em seu terceiro jogo, sem contar com o lateral Pedrinho, machucado, o Santa Cruz derrotou por 3x0 a seleção da cidade de Bahrein, no Estádio Ysaqial. Nesse jogo, a maior dificuldade enfrentada pelo time coral foram os fortes ventos que assolavam o estádio, dificultando o domínio da bola. Os gols foram marcados por Betinho, Volnei e Neinha e o santinha venceu com Joel Mendes; Carlos Alberto Barbosa, Paranhos, Lula e Alfredo Santos; Givanildo, Deinha e Betinho (Jadir); Gonçalves (Neinha), Volnei e Joãozinho.
No dia 11, o time pernambucano enfrentou o selecionado da cidade de Doha, capital do Katar, vencendo por 4x0, com gols de Betinho (2), Jadir e Neinha. A equipe coral atuou com Joel Mendes (Cláudio); Carlos Alberto Barbosa (Vassil), Paranhos, Lula e Alfredo Santos; Givanildo (Deinha), Carlos Roberto e Betinho (Gonçalves); Jadir, Neinha (Volnei) e Joãozinho (Zé Roberto). No dia 13, contra a seleção do Katar, o santa voltou a vencer. Impôs o placar de 4x1, com gols de Neinha (3) e Volnei. Atuou com a seguinte formação: Joel Mendes; Carlos Alberto Barbosa, Paranhos, Lula e Alfredo Santos; Givanildo, Betinho e Carlos Roberto (Volnei); Jadir, Neinha e Joãozinho.
No dia seguinte, dia 14, com uma equipe mista, contra o selecionado de Sargas, cidade a dez quilômetros de Dubai, o time tricolor voltou a vencer por 2x1, com gols marcados por Volnei. Consta que o jogo foi assistido por um público superior a dez mil pessoas e o santinha jogou com Joel Mendes (Cláudio); Vassil (Carlos Alberto Barbosa), Paranhos, Lula e Alfredo Santos; Givanildo (Carlos Roberto), Betinho (Neinha) e Deinha; Gonçalves, Volnei e Zé Roberto.
No dia 17 de março, na cidade de Abu Dabi, a 170 quilômetros de Dubai, na Arábia Saudita, o mais querido pernambucano enfrentou a seleção da União dos Emirados Árabes. O Santa Cruz venceu o jogol facilmente, com gols de Givanildo, Lula e Joãozinho. Formou com Joel Mendes; Carlos Alberto Barbosa (Vassil), Paranhos, Lula e Alfredo Santos (Deinha); Givanildo, Betinho e Carlos Roberto; Jadir, Neinha e Joãozinho.
No dia 18, mais uma vez sem o tempo necessário para se recuperar, a equipe coral voltou a atuar, dessa feita na cidade de Riad, contra o selecionado de Al Halim, colhendo uma vitória de 3x0, sem a necessidade de utilizar todos os jogadores titulares.
No dia 20, ainda em Riad, mais uma grande atuação na goleada de 6x2 sobre o Nasser, com gols de Joãzinho, Givanildo, Jadir, Neinha, Volnei e Paranhos. Nessa goleada histórica, atuamos com Joel Mendes; Carlos Alberto Barbosa, Paranhos, Lula e Alfredo Santos; Givanildo (Deinha), Betinho e Carlos Roberto (Volnei); Jadir (Gonçalves), Neinha e Joãozinho (Zé Roberto).
No dia 22, a equipe coral entrou em campo, ainda na Arábia Saudita, para enfrentar o El Helal, dirigido pelo treinador Zagalo e contando em seu elenco com o jogador Rivelino, tricampeão mundial.
Para decepção dos pernambucanos, Rivelino não jogou. O Santa, com uma atuação impecável, ganhou pelo placar de 3x0, gols de Carlos Alberto Barbosa, Betinho e Alfredo Santos, todo marcados no primeiro tempo de jogo. Ganhamos com Joel Mendes; Carlos Alberto Barbosa (Vassil), Paranhos, Alfredo Santos e Pedrinho; Givanildo, Carlos Roberto (Volnei) e Betinho; Jadir, Neinha e Joãozinho.
Ao término do jogo, Zagalo elogiou o futebol apresentado pelo lateral Carlos Alberto Barbosa, afirmando tratar-se de um jogador de alto nível, com bom toque de bola, perfeito nos lançamentos, atacando com precisão. Elogiou, também, o ponta esquerda Joãozinho pela habilidade mostrada com a bola nos pés.
Apesar de não jogar, Rivelino chegou cedo ao estádio e esteve nos vestiários do Santa Cruz, abraçando os jogadores.
Antes, pela manhã, foi ao hotel onde o Santinha estava hospedado, conversando muito com o técnico Evaristo Macedo e com os jogadores Pedrinho, seu antigo companheiro no Corinthias, e Givanildo.
Atendendo a um convite de Rivelino, Evaristo Macedo, Pedrinho, Givanildo, Joel Mendes e Zé Roberto, deslocaram-se até a residência do jogador paulista, uma mansão próxima ao centro da cidade, onde almoçaram. Na ocasião, Rivelino e Givanildo relembraram a passagem que tiveram juntos na selação brasileira, sob o comando de Osvaldo Brandão, quando disputaram e venceram a Taça do Bicentenário, nos Estados Unidos.

RUMO À EUROPA


Com um saldo de nove vitórias e um empate, no dia 27 de março, a equipe coral chegava a Bucarest, para enfrentar a seleção da Romênia, destacando-se pela boa campanha no Oriente Médio.
Entre os jogadores, os mais procurados pela imprensa romena eram Givanildo, Neinha, Joãozinho e Betinho, o artilheiro do time na excursão, até aquele momento, com sete tentos marcados.
Antes do jogo, a imprensa romena destacou a campanha do Santa Cruz no Oriente Médio, assim como a grande vitória acontecida contra seleção da Checoslováquia, ainda no Recife, no dia 7 de fevereiro.
No dia 30, o Santa Cruz entrava em campo, sob um frio intenso, para enfrentar e vencer, no Republic Estadium, a seleção romena pelo placar de 4x2, com gols de Joãozinho (2), Neinha e Volnei, em um jogo onde o destaque pernambucano foi o zagueiro Paranhos. Andorren e Bruc, cobrando uma penalidade máxima, marcaram para a Romênia. O santa Cruz conquistou essa vitória histórica atuando com Joel Mendes; Carlos Alberto Barbosa, Paranhos, Alfredo Santos e Pedrinho (Lula); Givanildo, Betinho e Carlos Roberto; Jadir, Neinha (Volnei) e Joãozinho. A Romênia perdeu com Bucanam; Iudorc, Muritan, Borges e Savals; Coran, Bruc e Ildes (Adrian); Han Torres, Ionesc e Andorren.
Partindo de Bucarest, o Santinha chegou a Paris após fazer escala em Zurique, na Suíça. Na chegada ao Aeroporto Charles De Gaulle, Givanildo foi o jogador mais procurado pela imprensa francesa.
No dia 1º de abril, o Santa Cruz entrava em campo, no Estádio Saint Quen, para jogar contra o Paris Saint Germain. Além de um frio muito grande, a equipe pernambucana enfrentou um campo enlameado. O primeiro tempo terminou com o placar em 0x0. Na segunda etapa, a equipe coral chegou a fazer 2x0, com dois gols de Volnei, aos 3 e 22 minutos. A equipe francesa reagiu e chegou ao empate, com tentos marcados por Lavorri e Darre, aos 25 e 28 minutos, ficando em 2x2 o placar final. O jogo foi apitado pelo juiz Jean Clair.
O Santa Cruz atuou com Joel Mendes; Carlos Alberto Barbosa, Paranhos, Alfredo Santos e Pedrinho; Givanildo, Carlos Roberto e Betinho; Jadir (Volnei, e depois Gonçalves), Neinha e Joãozinho. O Paris Saint Germain, com Paredeli; Von, Jan, Renoir e Lavorri; Diank I, Dotenar e Legori; Diank II, Bireaux e Darre.
Após o jogo, a delegação coral deixou a cidade no vôo 0091, da Air France, chegando ao Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, às cinco horas da manhã do dia 2 de abril. Às 8 horas, pelo vôo 504 da Transbrasil, saiu do Rio de Janeiro com destino ao Recife, onde chegou por volta do meio-dia.

FESTA NO RECIFE


Na capital pernambucana, a comitiva tricolor foi surpreendida pela presença de cerca de duas mil pessoas no Aeroporto dos Guararapes.
Entre a multidão, o Jornal do Commercio registrou a presença de Severino José do Nascimento, conhecido como Cão, que, segundo o dirigente Valdomiro Silva, foi o primeiro roupeiro da história do Santa Cruz. Presentes também estiveram Humberto, contínuo do Sindicato dos Arrumadores, conhecido como o Homem da Sombrinha e o Homem do Charuto, por suas perfoarmances nas arquibancadas durante os jogos do Santa Cruz, e Manoel Mota, primo de Capiba, vindo diretamente de Surubim para recpcionar o Mais Querido.
O poeta-repórter José Soares, uma das maiores expressões da literatura de cordel em Pernambuco, na época, também esteve presente, vendendo ao preço de Cr$ 5,00 (cinco cruzeiros) o folheto Chegou o Santa, a máquina de fazer gols.
Para conter a euforia da torcida e garantir a segurança de todos, a Polícia Militar de Pernambuco destacou um efetivo de 155 soldados, dos quais 35 da Rádio Patrulha, comandados por quatro oficiais do 7º Batalhão de cavalaria, além de 36 militares do BPTRAN.
Entre os jogadores, Neinha e Volnei, artilheiros da excursão, eram os mais festejados pela torcida e pela imprensa esportiva local.
Com a invencibilidade obtida e os grandes resultados alcançados no exterior, o Santa Cruz tornou-se o novo Fita Azul do futebol brasileiro, tomando o título da Portuguesa de Desportos que anteriormente, em 1952, conseguira fazer onze jogos seguidos fora do país, sem perder.
Conselheiro do Clube Náutico Capibaribe e desportista reconhecido, o prefeito Gustavo Krause enviou o seguinte telegrama à direção coral: "Congratulo-me diretoria, atletas, técnicos e funcionários do Santa Cruz pelo sucesso alcançado recente em excursão ao Exterior que constitui mais um motivo de orgulho da sua imensa torcida e da satisfação para a cidade do Recife."
Do governador Marco Maciel, que já fora secretário de Conselho Deliberativo e representante do Santa Cruz junto ao Tribunal de Justiça Desportiva da Federação Pernambucana de Futebol, a equipe coral recebeu a seguinte mensagem: "Minhas efusivas congratulações pela brilhante campanha e invicta jornada em campos europeus e do Oriente Médio à valorosa equipe do Santa Cruz, reafirmando valor e força do futebol nordestino, representando à altura o prestígio do futebol brasileiro".
Embalado pela excursão vitoriosa e pelo calor da sua imensa torcida, o Santa Cruz partiria para a disputa do Campeonato Pernambucano e para a conquista do título de bicampeão estadual.

Recife, 2009

Um comentário:

Carlos A Alves de Aquino disse...

Importantíssimo divulgar a nossa história, que é de vitórias!
Viva o FITA AZUL DO BRASIL/O MAIS QUERIDO CLUBE DAS MULTIDÕES/O CLUBBE DO POVO! DO POVO! DO POVO!!!
Parabéns companheiro pelo trabalho!!!