A IGNORÂNCIA QUE ASTRAVANCA O PROGRESSO
Clóvis Campêlo
Quando o ex-prefeito do Recife João Paulo de Lima e Silva mandou derrubar algumas árvores da Praça Euclides da Cunha, na Ilha do Retiro, não só a imprensa com também alguns intelectuais recifenses e pernambucanos criticaram a atitude como um crime ecológico e digno de uma mentalidade restritiva e tacanha.
Um famoso poeta pernambucano, o qual, diga-se de passagem, também admiro, chegou mesmo a escrever um artigo inflamado, publicado em um jornal de grande circulação no Estado, protestando contra a ação prepotente que sacrificaria, inclusive, uma mangueira ali existente há décadas.
O que não sabiam, porém, é que o ex-prefeito, ex-metalúrgico e filho de um cobrador de ônibus, eleito surpreendentemente no ano 2000, derrotando o candidato apoiado pela forças políticas então majoritárias no Estado e que predominava nas pesquisas eleitorais, estava apenas retomando o projeto original idealizado pelo paisagista Burle Marx.
Segundo os estudiosos do assunto, o Cactário da Madalena, como também era designada a praça inicialmente, procurava retratar no seu núcleo a imagem da catinga nordestina, com espécies deste bioma, notadamente os cactos. Consta ainda que o arquiteto carioca teria se inspirado nos cenários sugeridos pelo livro Os Sertões, de Euclides da Cunha, por ele admirado.
Na verdade, dentro do desenho concebido por ele para o logradouro, a vegetação da caatinga ocupava o seu centro e, na parte mais externa, circundando a praça, seriam plantadas espécies nativas da Mata Atlântica.
Ao longo dos anos, porém, por conta da ação da natureza e da mão do próprio homem, a concepção inicial foi se deturpando e transformando-se numa mistura que mais nada tinha a ver com o projeto inicial. A intervenção municipal, portanto, visava apenas devolver à cidade a praça como originalmente fora concebida e construída.
É claro que nos questionamentos expressados e apressados havia uma boa dose de má vontade e de oposição política disfarçada. Feitas as devidas explicação pelo órgão municipal, calaram-se todos ante a evidência de que o prefeito estava mais do que certo.
Isso tudo me veio à mente, quando nas minhas caminhadas vespertinas na recém restaurada Praça do Forte, nos Torrôes, vejo a arborização sendo refeita com árvores decorativas, mas alienígenas. No meu entendimento, a entidade municipal deveria, repetindo a clarividência de Burle Marx, reflorestar as áreas das praças da cidade com espécies vegetais nativas da Mata Atlântica, restaurando esse bioma e trazendo de volta a fauna espantada (principalmente os pássaros) para longe do perímetro urbano.
Sei que o atual prefeito tem o tempo integralmente ocupado pelos afazeres inerentes à sua função, mas a sugestão fica feita para futuros estudos e aplicações.
Recife, 2013
Um famoso poeta pernambucano, o qual, diga-se de passagem, também admiro, chegou mesmo a escrever um artigo inflamado, publicado em um jornal de grande circulação no Estado, protestando contra a ação prepotente que sacrificaria, inclusive, uma mangueira ali existente há décadas.
O que não sabiam, porém, é que o ex-prefeito, ex-metalúrgico e filho de um cobrador de ônibus, eleito surpreendentemente no ano 2000, derrotando o candidato apoiado pela forças políticas então majoritárias no Estado e que predominava nas pesquisas eleitorais, estava apenas retomando o projeto original idealizado pelo paisagista Burle Marx.
Segundo os estudiosos do assunto, o Cactário da Madalena, como também era designada a praça inicialmente, procurava retratar no seu núcleo a imagem da catinga nordestina, com espécies deste bioma, notadamente os cactos. Consta ainda que o arquiteto carioca teria se inspirado nos cenários sugeridos pelo livro Os Sertões, de Euclides da Cunha, por ele admirado.
Na verdade, dentro do desenho concebido por ele para o logradouro, a vegetação da caatinga ocupava o seu centro e, na parte mais externa, circundando a praça, seriam plantadas espécies nativas da Mata Atlântica.
Ao longo dos anos, porém, por conta da ação da natureza e da mão do próprio homem, a concepção inicial foi se deturpando e transformando-se numa mistura que mais nada tinha a ver com o projeto inicial. A intervenção municipal, portanto, visava apenas devolver à cidade a praça como originalmente fora concebida e construída.
É claro que nos questionamentos expressados e apressados havia uma boa dose de má vontade e de oposição política disfarçada. Feitas as devidas explicação pelo órgão municipal, calaram-se todos ante a evidência de que o prefeito estava mais do que certo.
Isso tudo me veio à mente, quando nas minhas caminhadas vespertinas na recém restaurada Praça do Forte, nos Torrôes, vejo a arborização sendo refeita com árvores decorativas, mas alienígenas. No meu entendimento, a entidade municipal deveria, repetindo a clarividência de Burle Marx, reflorestar as áreas das praças da cidade com espécies vegetais nativas da Mata Atlântica, restaurando esse bioma e trazendo de volta a fauna espantada (principalmente os pássaros) para longe do perímetro urbano.
Sei que o atual prefeito tem o tempo integralmente ocupado pelos afazeres inerentes à sua função, mas a sugestão fica feita para futuros estudos e aplicações.
Recife, 2013
4 comentários:
Você é um mestre. Um texto simples, mas encorpado com talento. Dez.
Grato, Mhario. Grande abraço
Amigo Clóvis, saudações.
Não me leve a mal, porém desta vez discordo com a idéia de transformar a tal praça na Ilha do Retiro num cactario e arborizada com espécies de áreas secas da "Caatinga".
Qualquer praça é um lugar de lazer, onde predominam as cores os cheiros e permite o descanso nas sombras de arvores frondosas.
Algumas, bem poucas, também poderiam ser frutíferas, assim era o fenomenal "pé de jambo do Pará" na Maciel pinheiro, as mangueiras no Retiro, as jaqueiras na praça do mesmo nome e assim permitiam o lazer das suas sombras e os aromas de sua floração e frutas maduras.
Arvores que propunha Burle Marx para a Praça do Retiro tem falta de tudo isso, pois estes vegetais têm sua genética sofrida pelo clima, tortos, de folhagem caduca e floração causadora de alergias distintas.
Uma minoria de arvores de áreas secas, assim como, o Juá, o umbu, o Ingá, bagos de jucá e outras poderiam estar entremeadas entre as arvores características de toda praça normal no nordeste e desta forma oferecer condições de lazer aos visitantes.
Um cactario deve ser plantado num lugar de visitas caminhando e não numa praça de descanso e lazer.
A arborização de uma praça é toda uma ciência que está intimamente ligada ao povo que a ela tem acesso.
Esta é a minha modesta opinião, pois quem sou eu para me contrapor as teorias de gente de renome internacional, peço de antemão minhas desculpas.
Amigo Paulo, grato por seu comentário enriquecedor. Seu ponto de vista é importante, pois você conhece da matéria.
Mas, acho que ao artista cabe ousar e inovar. Gostei da concepção do Burle Marx por conta disso.
Grande abraço recifense
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