domingo, 5 de fevereiro de 2017

A igreja do Pina


A IGREJA DO PINA

Clóvis Campêlo

Dizem que uma imagem fala sem palavras e, por si só, diz tudo. A imagem acima me foi encaminhada pela amiga Anna Cristina Salgueiro, e mostra a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, no bairro do Pina, nos anos 30 do século passado.
Anna, que também é chamada de Tininha, foi minha vizinha, no bairro, nos anos 60, na Rua Estudante Jeremias Bastos. Aliás, mais do que amigos e vizinhos, por um curto período de tempo, fomos cunhados. E mais do que cunhados e vizinhos, fomos torcedores fiéis e fervorosos do Santa Cruz Futebol Clube. Juntos, em 1969, vimos o Santinha conquistar o seu primeiro título no Estádio do Arruda ainda em construção. Era o início do penta e nós fomos testemunhas oculares disso.
Como um assunto puxa outro, lembro que a Rua Estudante Jeremias Bastos antes se chamava Travessa Herculano Bandeira, em homenagem ao ex-governador, nascido na cidade pernambucana de Nazaré da Mata, e que governou o Estado de Pernambuco de 1908 a 1911.
A rua passou a ser chamar Estudante Jeremias Bastos nos anos 70, graças ao esforço do senhor Geraldo Bastos, também morador da rua e empregado da Padaria Pão Nosso, em homenagear um dos seus filhos falecidos. Seu Geraldo tinha arroubos políticos e por várias vezes se candidatou a vereador do Recife, sem sucesso. Mas conseguiu mudar o nome da rua. Assim, o logradouro foi promovido de travessa para rua, e rebaixado de governador para estudante. Coisas da vida! Para o ex-governador talvez não tenha feito muita diferença, já que permaneceu com o seu nome na avenida principal do bairro.
Pois bem, é nessa avenida que se encontra a Igreja de Nossa Senhora do Rosário. Na fotografia acima, podemos ver que naquela época trata-se apenas de um esboço de avenida. Era por ali que passava o bonde que vinha do bairro da Cabanga e dava acesso à praia. Notamos ainda que do lado esquerdo da igreja ainda não existiam as ruas de hoje, entre as quais se inclui a Jeremias Bastos, havendo apenas um descampado que ia até a beira do mar. Por detrás da igreja, porém, já vislumbramos as comunidades do Bode e do Encanta Moça em desenvolvimento.
A fotografia é importante tanto do ponto de vista do registro iconográfico quando das informações históricas implícitas. E coisa importante, também, para quem, como eu, sempre amou o Pina.

2 comentários:

Inaldo Soares disse...

Lindo.
Parabéns pelo belo trabalho de resgate histórico do nosso Pina, do nosso Recife.
E de nós mesmos, pela instigante memória afetiva a que seus textos nos expõe.
Abraços,

Antonio Carlos disse...

Com o crescimento irrefreável da nossa gente e, consequentemente, levando a ocupação desordenada, porém muitas vezes necessária, do espaço físico onde ela vive, rever, portanto, imagens até mesmo de poucas décadas atrás, e quanto há mais tempo, mais fascínio e instigante se torna a imaginação de quem, assim como eu, lá viveu a sua infância e adolescência. Ver a igreja que em 1956 fui batizado é como abrir um baú repleto de curtos filmes e realizar um passeio aéreo por cada canto, por cada pedaço de cada rua por onde, ao longo do meu crescimento, tantas vezes passei.