quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

O Saci Pererê


O SACI PERERÊ

Clóvis Campêlo

O Dia do Saci Pererê foi instituído nacionalmente em 2003, através de um projeto de lei elaborado pelo deputado federal Chico Alencar do PSOL do Rio de Janeiro. O objetivo seria resgatar figuras do foclore brasileiro em contraposição ao Dia das Bruxas (Halloween, de tradição celta), entre nós introduzido como mais uma faceta do colonialismo cultural a que estamos expostos desde a mais tenra idade.
Engana-se, porém, quem pensa que o Matita Perê nasceu isento de influências alienígenas. Figura bastante conhecida do folclore brasileiro, supõe-se que o saci surgiu entre os indígenas da Região das Missões, no sul do país, de onde se espalhou para todo o país. Vejamos o que diz a nossa querida Wikipédia: “Na Região Norte do Brasil, a mitologia africana o transformou em um negrinho que perdeu uma perna lutando capoeira, imagem que prevalece nos dias de hoje. Herdou também, da cultura africana, o pito, uma espécie de cachimbo e, da mitologia europeia, herdou o píleo, um gorrinho vermelho usado pelo lendário trasgo. Trasgo é um ser encantado do folclore do norte de Portugal, especialmente da região de Trás-os-Montes. Rebeldes, de pequena estatura, os trasgos usam gorros vermelhos e possuem poderes sobrenaturais”. Portando, os xenófobos que o desculpem.
Na literatura brasileira, foi Monteiro Lobato o primeiro escritor a se interessar pela figura do Saci Pererê. Em 1917, pesquisou sobre a figurinha entre os leitores do jornal O Estado de São Paulo, colhendo diversas histórias que narravam as estrepolias do pequeno ente, sempre brincalhão e travesso. No ano seguinte, sob o título de O Saci Pererê: resultado de um inquérito, publicou o seu primeiro livro. Mais tarde, em 1921, no livro O Saci, voltou a escrever sobre a figura em um livro dedicado à literatura infantil. E na coleção sobre o Sítio do Picapau Amarelo, O Saci de Lobato foi efetivado como personagem constante, embora secundário.
Em 1958, Ziraldo criou a Turma do Pererê, sob a forma de estórias em quadrinhos, lançada primeiramente em cartuns, no ano seguinte, nas páginas da revista O Cruzeiro. No ano seguinte, seria lançada a revista, a primeira revista brasileira em quadrinhos totalmente colorida. A revista circulou de 1960 a 1964, quando foi banida das bancas ao lado de outras revistas, por determinação da ditadura militar. Ainda chegou a ter 43 edições e uma tiragem média de 120 mil exemplares. O Saci Pererê era o personagem principal, ao lado de vários outros habitantes da Mata do Fundão, como Tininin, Galileu, Geraldinho, Moacir, Alan, Pedro Vieira e vários outros.
Em 1975, e Editora Abril relançou a revista sem êxito, alcançando apenas 10 edições.
Em 1983, o folclórico personagem chegou às telas das televisões brasileiras, em programa apresentado por vários anos na Rede Globo, embora produzido pela TVE Brasil em parceria com o próprio Ziraldo, tomando como base as histórias de Monteiro Lobato e com trilha sonora composta e produzida por nomes consagrados da música popular brasileira. Era a consagração definitiva.
Para finalizar, no site Geledés, do Instituto da Mulher Negra, encontramos dez curiosidades sobre a figura/lenda do Saci Pererê, que abaixo reproduzimos. Algumas confirmam o que foi dito acima, outras questionam e outras ainda trazem informações novas. Veja:
A lenda do saci foi inicialmente criada por índios do Sul do Brasil. Na versão tupi-guarani, um indiozinho de cabelos vermelhos teria o poder de ficar invisível e confundir os caçadores. Seu nome era Caa Cy Perereg.Os escravos se apropriaram da história e o saci se tornou negro e com um cachimbo na boca. O seu gorrinho é um elemento da cultura europeia, já que foi inspirado nas toucas romanas (os piléis). Conta a lenda que o saci se torna submisso àquele que rouba sua carapuça.
Um dos hábitos do saci é pedir fogo aos viajantes para acender seu pito. Dizem que ele tem até uma das mãos furadas de tanto carregar as brasas do cachimbo.
Afinal: qual perna falta no saci? Na dúvida entre a direita ou a esquerda, muitos afirmam que ele tem uma perna centralizada, apoiada em dedos laterais mais desenvolvidos.
Os “causos” populares contam que dentro de cada redemoinho de vento existe um saci e, para capturá-lo, é preciso ter paciência e um pouco de sorte. Primeiro, a pessoa deve se posicionar lentamente perto dele e jogar uma peneira. Depois, com cuidado, ela deve colocar uma garrafa vazia de cachaça lá dentro e esperar que o saci-pererê entre nela. Na hora de fechar, é bom não esquecer de desenhar uma pequena cruz na rolha.
O dia 31 de outubro já é considerado o Dia do Saci na cidade de São Paulo. A data é uma proposta nacionalista feita pelo presidente da Câmara, Aldo Rebelo, em 2004, para preencher o lugar do Halloween (dia das bruxas americano).
O saci-pererê é a mascote oficial do Sport Club Internacional de Porto Alegre. A figura foi criada na década de 50 por cartunistas dos jornais “Folha Desportiva” e “A Hora”. No começo, era apenas um garotinho negro. Depois, se transformou no Saci.
Quem primeiro retratou o saci-pererê em histórias infantis foi Monteiro Lobato, na série de livros Sítio do Pica-pau Amarelo. Foi desse jeito que a lenda se espalhou pelo Brasil. Depois disso, apareceu em seriados na TV e nas histórias em quadrinhos da Turma da Mônica.
O saci-pererê é considerado um símbolo nacional, pois congrega as três raças que compõem o povo brasileiro (branco, negro e índio).
Segundo a lenda, os sacis vivem exatos 77 anos. Eles são geridos pelos gomos do bambu. Quando morrem, se transformam em cogumelos venenosos.

Um comentário:

Eliane Triska disse...


Aqui no sul o saci-pererê é um sucesso para os colorados (como eu).

Texto compacto e muito bem escrito.