terça-feira, 20 de maio de 2014

Metrópole


METRÓPOLE

Clóvis Campêlo

Selva selvagem, hirta, bruta,
monóxido de carbono
negando a clorofila.
Definitivamente contaminado,
no entanto, não cantarei
o “fugere urbem”
(em minhas veias correm
partículas de chumbo,
kriptonita moderna).
Alimento-me da tua desordem,
respiro tua energia caótica,
bebo o teu ar impuro.
Amodeio-te e grito isto
bem mais alto do que
o som das tuas buzinas.
Incendeias ao crepúsculo,
violeta, violenta, violada
(insetos de ferro rasgam-te
as entranhas),
o diabo solto na rua,
no meio do redemoinho.
Estrebuchas até que
o silêncio da noite,
vasta e mesmíssima noite,
jogue sobre ti
o seu manto negro.

Recife, 1992

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