domingo, 6 de janeiro de 2013

Liêdo Maranhão, o escriba dos excluídos


Fotografia de Cida Machado / 2008

LIÊDO MARANHÃO, O ESCRIBA DOS EXCLUÍDOS

Clóvis Campêlo

Alguém já disse que ele é o escriba dos excluídos.
Ele mesmo se considera desse modo: um escritor porta-voz do povão, dos descamisados como diria o ex-presidente Fernando Collor de Melo, um dos seus ídolos.
Quem o conhece sabe que ele é assim mesmo: controvertido, polêmico, engraçado, cativante.
Conheci Liêdo Maranhão através do poeta José Rodrigues Correia Filho, há mais de vinte e cinco anos atrás.
Nascido em 1925, em São José, um dos bairros mais tradicionais do Recife, Liêdo hoje, aos 87 anos, mora em Olinda.
A sua casa, no Bairro Novo, é uma verdadeira galeria de arte, incluindo obras diversas, suas e de vários outros artistas, que ocupam todas as paredes e espaços, desde o portão de entrada até o quintal, onde fez do quarto de serviço uma biblioteca que vem sendo reformada e mantida com recursos de projeto aprovado pela Petrobrás em 2008.
O seu sonho hoje é conseguir um espaço definitivo, mantido por entidade pública ou privada, onde guarde com segurança todo esse acervo acumulado ao longo da vida.
Do avô materno, Methódio Maranhão, professor e usineiro, que conservava em casa uma biblioteca com mais de 14 mil exemplares, herdou o gosto pela leitura.
Formado em Odontologia, com especialização na Espanha, onde se casou, trabalhou no Inamps e no SUS até a sua aposentadoria.
Conta que na mocidade, atendendo a um convite de Naíde Teodósio, ingressou no Partido Comunista Brasileiro, onde militou até depois do golpe militar de 1964, chegando inclusive a ser Secretário de Finanças do Diretório Municipal, fazendo uma ponte entre o partido e o Movimento de Cultura Popular do Recife, durante o primeiro governo de Miguel Arraes.
Hoje se diz apolítico e decepcionado com os rumos da política partidária. Afirma que o fim da União Soviética foi uma coisa que marcou negativamente a sua crença no socialismo.
Na sua galeria doméstica, além das esculturas feitas com o ferro retirado das antigas construções demolidas no Recife, mantém obras assinadas por João Câmara, Bajado, José Cláudio e vários outros, além de esculturas feitas em pedra e madeira por artistas populares e anônimos.
Escritor, fotógrafo, cineasta, escultor e, principalmente, pesquisador da cultura popular pernambucana, Liêdo é uma figura querida e que ainda precisa ter a verdadeira dimensão da sua obra estudada e considerada.

- Publicado no livro Crônicas Recifenses, Recife, Clube de Autores, 2018.

Um comentário:

Ubiratan Souza disse...

Prezado amigo Clovis.
Ao reencontrares o Iêdo diz a ele que a decepção que deve existir é com a conduta na aplicação do Socialismo.Os princípios deste sistema são melhores do que os do capitalismo que estimula o individualismo exacerbado...
Quando a humanidade evoluir um pouco mais irá retornar ao Socialismo, uma preparação para o Verdadeiro Cristianismo, o mais Completo método de Evolução até hoje existente!
Abraços a ti e a todos.