sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Tiro ao Álvaro


TIRO AO ÁLVARO

Clóvis Campêlo

Boca-de-Caçapa e Rubinato já haviam me alertado sobre aquele espaço: “Cai fora, rapaz! Sai desse imprensado! Aquilo ali não é lugar pra tu, esquerdista tupiniquim, impregnado do marxismo barato do além-mar! Ali, existe uma saudade draculiana do sangue derramado no passado!”
E eles, como sempre, tinham razão. Fui eu que não acreditei. E por não acreditar, expus-me à sanha reacionária. À vezes, não me suporto por isso. Por essa incapacidade de ver antecipadamente a inutilidade das coisas, por achar que boa vontade e caldo de galinha sempre vão fazer bem a todos e resolver os problemas que por acaso venham a surgir. Em um mundo marcado pela falta de amistosidade, ainda acredito nisso. E, por acreditar, termino por me expor desnecessariamente.
Mas, não é exatamente a opinião diversa que me desagrada.Com ela, dentro dos limites da civilidade e da boa educação, consigo conviver e dialogar numa boa. O que agride mesmo são os subterfúgios de pessoas que não tendo a coragem de mostrar a cara, escondem-se atrás de pseudônimos ou nomes falsos para expor a sua visão capenga do mundo. Uma covardia. Afinal, retrógrados todos tem o direito de ser. Sacanagem é não se mostrar e apelar para a segurança do disfarce.
Mas, afinal o que teria um samba composto em 1960 pelo compositor e cantor Adoniran Barbosa a ver com tudo isso? Nada, absolutamente nada! Apenas o título, que me lembrou uma saraivada de balas de filme americano. Um verdadeiro tiro ao álvaro. Eu o alvo fui eu.
Na singeleza da sua música, diz o poeta que “teu olhar mata mais que bala de carabina, que veneno estricnina, que peixeira de baiano, que atropelamento de automóvel, que bala de revólver. Tábua de tiro ao alvo, não tem mais onde furar”.
Sai daquele recinto por livre e espontânea iniciativa, com a determinação e o jogo de corpo de um Kid Morengueira. Disposto a cantar uma ode para mim mesmo. Não em nome do ódio, mas em nome da esperança derradeira de que ainda existem pessoas de bem no mundo e de que dias melhores ainda virão. Havia muita fumaça no ar. Fumaça de chumbo grosso e de artilharia pesada. Cavaleiro solitário, não estava mais a fim daquilo, daquele enfrentamento desigual, daquela covardia anônima e institucionalizada. Permanecer seria aceitar a desigualdade. Seria implicitamente aceitar a sacanagem da desigualdade. Caí fora. Fi-lo porque qui-lo. Como diz a filosofia popular, antes só do que mal acompanhado.
Aqui fora, percebo que o mundo é bem maior do que aquilo tudo. Percebo que só preciso das minhas próprias pernas para percorrê-lo e conquistá-lo. E, mesmo que não chegue a Lugar Nenhum é para lá que eu vou agora. Lá, como em Pasárgada, também sou amigo do Rei. Longe é um lugar que não existe. Tenho dito e repetido.

Recife, setembro de 2014

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

O nosso futebol


Leonidas da Silva, Friedenreich e Pelé

O NOSSO FUTEBOL

Clóvis Campêlo

O futebol surgiu no Brasil, no século XIX, como a nova mania esportiva das classes mais privilegiadas. Os filhos burgueses da pátria mãe gentil aprenderam-no e o trouxeram da Europa pré-modernista daquela época. A sua prática era cara, já que todo o equipamento necessário era importado. Do mesmo modo, necessitava-se de áreas relativamente grandes para a sua prática, embora esse problema fosse facilmente contornável, haja vista que as nossas cidades e capitais dispunham de campos e terrenos baldios a granel.
Incorporado pela classe média brasileira e, posteriormente, pela classe operária e pelo lúmpen-proletariado, logo se transformaria em uma grande paixão nacional.
Ao se desgarrar dos burgueses brancos e de cintura dura que o trouxeram do Primeiro Mundo, caiu nas garras da rafaméia do lado de cá, misturando-se aos negros e descendentes de índios, escurecendo a cor da sua pele e adquirindo um jogo de cintura e uma leveza até então desconhecidos pelo lado de lá. Foi a plebeização do futebol no Brasil que o salvou do lugar-comum e da mesmice bizarra dos europeus.
Não é a toa, portanto, que um dos nossos primeiros grandes jogadores fosse filho de um comerciante alemão com uma lavadeira negra. Seu nome, Friedenreich. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1892, apenas dois anos antes de Charles Müller introduzir o futebol no Brasil. O apelido de El Tigre foi-lhe dado pelos uruguaios após o Brasil conquistar o Campeonato Sul-Americano (atual Copa América) de 1919. Apesar de ter sido considerado pela imprensa da sua época como um dos melhores centro-avantes do mundo, morreu pobre, em 6 de setembro de 1969, morando numa casa cedida pelo São Paulo Futebol Clube.
Entre nós, pernambucanos, nenhum jogador foi tão cantado e decantado quanto Tará. Em 1931, com apenas 16 anos, ajudou o Santa Cruz a ganhar o seu primeiro campeonato estadual. Com ele, chegamos ao tri, em 1932/33. Mas foi no Clube Náutico Capibaribe, em 1943, que se consolidou como goleador ao marcar dez gols em um único jogo, na goleada do Náutico sobre o extinto Flamengo pernambucano por 21 x 3. O Flamengo do Tenente Colares, primeiro campeão estadual de futebol, em 1915, em decadência, terminaria por se transformar em um saco de pancadas do futebol pernambucano. O mulato Tará, soldado da Polícia Militar de Pernambuco e oriundo dos bairros da periferia do Recife, foi o primeiro grande ídolo do futebol pernambucano.
Poderíamos até perguntar se não tivesse acontecido a proletarização e a miscigenação do futebol brasileiro, se teríamos chegado ao pentacampeonato mundial de futebol e transformado o nosso sentimento de inferioridade étnica em um sentimento de superação e conquistas. A própria seleção brasileira de futebol é um exemplo a ser citado, haja vista que com Pelé e Garrincha juntos em campo nunca chegou a ser derrotada.

Recife, setembro 2014

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Caxangá e Madalena









CAXANGÁ E MADALENA
Recife, julho 2014
Fotografias de Cida Machado e Clóvis Campêlo


domingo, 14 de setembro de 2014

A negra Saúna


A NEGRA SAÚNA

Clóvis Campêlo

A negra Saúna era agregada na casa do capitão Batista. Suja e maltrapilha, tinha os pés rachados e os cabelos desgrenhados como uma macunaíma de subúrbio. Fazia o trabalho menos nobre daquela residência, como alimentar e banhar os cachorros, lavar os banheiros e cuidar dos chiqueiros dos porcos que havia no fundo do quintal. Aliás, era tratada pela família quase como se fosse um deles: dormia no chão, em um cantinho da cozinha, aos pés do fogão. Era a última a dormir e a primeira a levantar quando o sol raiava.
Um dia, antes do sol nascer, Saúna reuniu os seus trapinhos e fugiu pela porta da cozinha. Sumiu para nunca mais ser vista. A humilhação era grande demais, mesmo para ela que nunca fora ninguém e nunca tivera nada na vida. A matriarca dona da casa, esposa do capitão Batista, durante dias reclamou da falta de consideração de Saúna, que ali, naquela casa, sempre fora tratada como uma pessoa da família e agora a deixava na mão sem nenhum aviso prévio. Ingratidão, isso sim! A retribuição era sempre essa.
Na verdade, Saúna não era negra, e sim uma cafuza, uma caboré, filha de um índio bêbado com uma prostituta negra, trazida ainda menina pela família do capitão Batista da cidade de Tacaimbó, no agreste pernambucano.
Do mesmo modo, o capitão Batista não era capitão, e sim um velho cabo, reformado como suboficial da Força Área Brasileira, um ex-combatente da 2ª Guerra, que fizera patrulhas noturnas no litoral pernambucano. Mas, aquela patente sempre o orgulhara e impunha respeito naquele bairro de classe média.
Durante dias, correu na rua da fábrica de redes o boato de que Saúna teria fugido com o filho mais velho do verdureiro. Mas, poucas pessoas acreditaram nisso, haja vista a feiura da negra e a sua sujeira.
Na verdade, o fato nunca foi devidamente esclarecido e, para as pessoas daquela comunidade, Saúna terminou mesmo por se transformar no símbolo da ingratidão.
Para mim, tantos anos depois, a negra teria mesmo era fugido da escravidão disfarçada e consentida que lhe fora imposta por aquela família. Mais do que Macunaíma, sempre me lembrara a figura da escrava Bertoleza, personagem do romance O Cortiço, de Aluizio de Azevedo, que se suicida ao descobrir que fora traída por João Romão, o homem que amava. Na vida real, a saída de Saúna foi muito mais esperta e honrosa.

Recife, setembro 2014

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Os governos e a corrupção


OS GOVERNOS E A CORRUPÇÃO

Clóvis Campêlo

A estrutura de poder paralelo da corrupção existe há muito no Brasil, contaminando e ultrapassando vários governos de diversos “credos” políticos e ideológicos. Na interessantíssima entrevista com o economista norte-americano Werner Baer, PhD em Economia e professor da Universidade de Illinois, publicada no Jornal do Commercio do Recife, do dia 23 de agosto próximo passado, citando o escritor Marcos Mendes, ele afirma textualmente o seguinte: “Você tem uma democracia e, para ser reeleito, tem que ceder, mais cedo ou mais tarde. Tem que fazer muitas despesas, que são gastos correntes, simplesmente para obter uma aliança para governar. O resultado é que fica pouco dinheiro para fazer investimentos. Então esse é o dilema em geral que os governos brasileiros nos últimos anos estão enfrentando”. Nesse sentido, amigos, o uso competente e inteligente do caixa dois, resolve o dilema acima citado.
A grande questão, porém, é que essa utilização sistemática e constante deixa pairando no ar um cheiro de impunidade e onipotência, além da constatação de que a sobrevivência política, realmente, necessita da contravenção para existir e se manter.
Quem acreditava, por exemplo, que o ex-governador Eduardo Campos estaria imune a esse tipo de atitude, surpreendeu-se ao ver o seu nome na lista dos comedores de propina da Petrobras. Esqueceram-se, porém, que ele, antes, como Secretário Estadual da Fazenda do último governo Arraes, havia se envolvido na história dos precatórios, desgastando a imagem do avô e levando-o a amargar uma derrota humilhante na disputa pelo governo do Estado. Dudu, inclusive morreu viajando em um avião doado irregularmente para a sua campanha, caracterizando mais um ato de caixa dois. Portanto, fazer uso inescrupuloso desse artifício e negar veementemente esse uso, sempre fez parte do arsenal de mentiras oficiais dos nossos políticos de plantão. Nesse sentido, realmente, são todos farinha do mesmo saco.
Mas, deixando de lado o aspecto puramente moral da história da corrupção, dos corruptores e dos corrompidos, ao longo dos anos, tem sido com base na prática política do “é dando que se recebe” que temos evoluído política e administrativamente. Quem seria louco de tentar governar, por exemplo, sem lotear a máquina estatal entre os partidos aliados, principalmente quando não se tem a maioria necessária no Congresso Nacional? Ninguém! Loteia-se, entregam-se ministérios, criam-se outros para isso e se perde o controle do que ocorrerá dali para a frente. A sujeira e a malandragem dos aliados sempre respingará no comando do governo, favorecendo as análises mais depreciativas e tendenciosas que a mídia comprometida com a falta de verdade sempre gosta de elaborar. Na luta cega pelo poder, aliás, sobra muito pouco espaço para a honestidade e a pureza de propósitos.
De qualquer maneira, acredito que o Brasil tenha mudado e muito avançado em questões que garantem direitos essenciais à sua população, notadamente às camadas menos favorecidas. O que não se pode mais é regredir e cortar os direitos conquistados em detrimento dos que sempre mamaram nas tetas do poder.

Recife, setembro 2014

sábado, 6 de setembro de 2014

Barba, cabelo e bigode


BARBA, CABELO E BIGODE

Clóvis Campêlo

Quem disse que trabalhador não vota em patrão? Fizemos isso a vida toda, movidos pelo ensinamento de que “eles” sempre estariam mais preparados. Era o tempo do voto inconsciente. Quanto mais agora, amigos, quando já temos a noção de que política partidária se faz com acordos e parcerias. Ou se está de um lado, ou se está do outro. E eu já escolhi, com certeza, de que lado eu quero estar.
Sei também que, para muitos candidatos, a necessidade da sobrevivência política muitas vezes os joga para um lado ou para o outro. Armando Monteiro Neto, por exemplo, iniciou-se como político no PSDB e hoje está no PTB, depois de passar pelo PMDB. Nessa sopinha de letras, cumpriu três mandatos de deputado federal e um de senador da República. Paralelamente, por quatro mandatos consecutivos, de 1992 a 2004, foi presidente da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (FIEPE) e, por dois mandatos, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Ou seja, um homem preparado e consciente do desenvolvimento do país nas últimas décadas. O seu pai, Armando de Queirós Monteiro Filho, foi ministro da agricultura no governo João Goulart, nos anos 60. Foi parceiro político de Miguel Arraes de Alencar em várias eleições. Na época da ditadura, sempre integrou o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), onde se abrigaram todas as forças de resistência contra o regime militar. Para mim, existe um mínimo de coerência política nessa família de banqueiros e usineiros.
Além do mais, para mim, é essa a maneira mais lúcida de combater o candidato inventado por Eduardo Campos, antes de morrer. Fico pensando, inclusive, se ainda estivesse vivo, se o velho Arraes teria permitido ao neto aventurar-se por esse caminho. Além de saber fazer política Arraes sempre foi fiel aos parceiros escolhidos. Tanto é assim, que se recusou a trair o presidente João Goulart quando do golpe militar, em 1964, preferindo ser preso em Fernando de Noronha e deportado para a Argélia.
Ambicioso e personalista, o neto nunca teve essa visão maior, sufocando e mantendo sob controle e domínio as aspirações e pretensões de vários aliados importantes, entre eles Armando Monteiro Neto.
Assim, o meu voto será completo. Barba, cabelo e bigode. Dilma Roussef, para presidente; Armando Monteiro Neto, para governador; e João Paulo de Lima e Silva, o filho do cobrador de ônibus, para o senado. Pernambuco e o Brasil os merecem.
Aceito sugestões, porém, para deputado federal e estadual.

Recife, setembro 2014

terça-feira, 2 de setembro de 2014

O lixo do Capibaribe


O LIXO DO CAPIBARIBE

Clóvis Campêlo

Leio no Diário de Pernambuco que a ONG Recapibaribe, em apenas três horas de ação, retirou do rio Capibaribe, no centro do Recife, nada menos do que 1,3 toneladas de lixo. A entidade pretende reciclar o que for possível nesse material recolhido e doá-lo à instituições de caridade.
Se lhe parece muito essa quantidade de lixo recolhido na nossa Veneza Brasileira em apenas três horas, fique sabendo que em Londres dois barcos percorrem o rio Tâmisa recolhendo 30 toneladas de lixo por dia. O rio inglês, aliás, no século XIX, era conhecido como “o grande mau cheiro”. Segundo matéria publicada no site da Globo em 2012, eram comuns naquela época as epidemias de cólera na capital inglesa, e as sessões do Parlamento, que fica na margem do rio, tinham que ser suspensas quando o vento fazia o odor chegar às salas do prédio. Para reverter essa situação, as autoridades inglesas e londrinas construíram várias estações de tratamento de esgoto ao longo dos anos, além de criarem vários outros mecanismos de monitoramento e controle do lixo que chega ao rio. Hoje, revitalizado, o Tâmisa possui mais de 120 espécies de peixes catalogados, além de mais de 400 espécies de invertebrados. Um exemplo a ser seguido, principalmente por nós, recifenses, que vivemos numa cidade construída e mantida por sobre as águas do Rio Capibaribe e de outros rios menores.
Ainda segundo a matéria do Diário de Pernambuco, até o mês passado, a Emlurb retirava a cada dois meses cerca de 20 toneladas de resíduo sólido do rio, providencia hoje suspensa por encerramento do contrato com a firma terceirizada.
No lixo recolhido pelo trabalho voluntário da ONG, foram encontrados, além das garrafas e sacolas plásticas, muitos brinquedos e objetos poucos usuais, como um vibrador elétrico, uma buzina de pipoqueiro, uma cabeça de touro empalhada e um papagaio de hospital. Segundo Maria do Socorro Cantanhede, dirigente da Recapibaribe, em um ano de trabalho voluntário a instituição já recolheu cerca de 600 toneladas de lixo. Chama a atenção, porém, para os esgotos, segundo ela o principal poluidor do rio.
O Rio Capibaribe, que na língua tupi significa “no rio das capivaras”, nasce na Serra do Jacarará, no agreste do Estado de Pernambuco, na divisa dos municípios de Jataúba e Poção. Tem 240 quilômetros de extensão e banha 42 municípios, a maioria dos quais despeja nas suas águas os dejetos dos esgotos. Tem 74 afluentes e os reservatórios da sua bacia têm uma capacidade máxima acima de 1 milhão de metros cúbicos. Atravessa o Recife, banhando vários dos seus bairros, como Várzea, Caxangá, Apipucos, Casa Forte, Torre, Capunga, Madalena, Derby e Ilha do Leite. Antes desaguar no Oceano Atlântico, encontra-se com o Rio Beberibe por trás do palácio do Campo das Princesas, no centro histórico da cidade.
É o rio dos poetas, o cão sem plumas de que nos fala João Cabral de Melo Neto. A sua história se confunde com a história do Recife, como bem o disse o sociólogo Gilberto Freyre, no Guia Prático, Histórico e Sentimental da Cidade do Recife: “O rio está ligado da maneira mais íntima à história da cidade. O rio, o mar e os mangues. Assassinatos, cheias, revoluções, fugas de escravos, assaltos de bandidos às pontes, fazem da história do Capibaribe a história do Recife”.
Cuidemos, pois, do Capibaribe!

Recife, setembro 2014

sábado, 30 de agosto de 2014

O cano do Pina





Fotografias cedidas por Apeles Duarte e Brasilina Teimosina

O CANO DO PINA

Clóvis Campêlo

Há quarenta nos atrás, amigos, era difícil imaginar a paisagem da praia do Pina sem aquele cano. Em torno dele, cresceram várias gerações de pinenses. Ali, nas peladas de futebol realizadas quando a maré estava baixa, formaram-se vários craques que depois despontariam no futebol pernambucano e no futebol brasileiro. Ali, também, por conta dos excrementos expelidos pelo cano, a alimentação farta atraia peixes e pescadores. Assim, o cano nos parecia eterno.
Mas, não era. Em março de 2004, quando a Prefeitura da Cidade do Recife fez um trabalho de revitalização da praia naquela área, o cano, que estava encoberta pela areia, foi redescoberto. Segundo matéria publicada no Diário de Pernambuco do dia 10 de março de 2004, entendeu a CPRH, hoje chamada de Agência Estadual de Meio Ambiente, que o cano, mesmo em desuso, funcionava como um elemento de poluição da praia. Ordenou, então, à Prefeitura que o retirasse.
Na verdade, não foi levada em consideração por nenhum daqueles técnicos a importância histórica daquela construção. Instalado em 1915, funcionava como um emissário submarino que trazia os dejetos tratados desde a estação de saneamento do bairro da Cabanga, do outro lado da bacia do Rio Pina, integrando o primeiro sistema de tratamento sanitário da cidade do Recife. Assim, o artefato com aproximadamente um metro de diâmetro, na época da sua demolição pertencente à Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), e que durante muito tempo foi usado como saneamento e esgoto da zona sul da cidade, foi retirado da paisagem da praia permanecendo apenas na memória dos seus antigos frequentadores.
Portanto, construído e instalado antes mesmo da ponte do bonde, de 1920, a primeira a interligar o Pina com a Cabanga, e antes da construção da Avenida Herculano Bandeira, que só ocorreria em 1926, o antigo cano fazia parte da história e crescimento do bairro, e deveria ter merecido por parte dos poderes constituídos uma maior atenção para a preservação da sua memória e importância histórica.
Confesso que para escrever esse pequeno artigo, vasculhei o google, com o seu acervo maravilhoso de informações disponibilizadas para todos, indiscriminadamente, e pouco encontrei sobre a história do cano do Pina. No que se refere a fotografias ou qualquer outro registro iconográfico, nada foi encontrado para ilustrar esse texto memorialista.
O Pina hoje é um bairro moderno, recortado por largas avenidas, e que vem perdendo de forma galopante a sua identidade cultural e histórica. Alguns culpam a especulação imobiliária por essa mudança. Prefiro dizer que é o preço do progresso e contra isso toda luta será inglória. Às pessoas, como eu, que viveram essa e outras épocas, talvez caiba o papel de tentar fazer esse resgate, embora não seja um trabalho fácil.

Recife, agosto 2014

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Quando o futuro chegar


QUANDO O FUTURO CHEGAR

Clóvis Campêlo

Quando o futuro chegar,
talvez traga novidades,
talvez seja rotineiro,
talvez mostre no presente

que nada há de mudar.
Talvez traga em quantidade
visões, odores, cheiros,
tudo aquilo que se sente.

Talvez traga um cansaço
da luta eterna e serena
que a vida nos impinge.

Talvez nos traga um abraço,
talvez seja uma falena
que nos encanta e finge.

Recife, agosto 2014

terça-feira, 26 de agosto de 2014

A hora de morrer


A HORA DE MORRER

Clóvis Campêlo

Nenhuma morte deveria ser antecipada. Ninguém merece. Deveríamos morrer assim, no fim da vida, dormindo, sonhando, apagando-se suavemente como uma chama que se autoconsome. A morte antecipada sempre é brutal. Como tudo na vida, possibilita interpretações várias, dependendo da síntese ideológica ou filosófica do observador.
Do mesmo modo, a morte antecipada é sempre uma traição, pois nega a crença de que possamos ter algum controle sobre algo, mesmo que esse algo sejam as nossas próprias vidas. No jogo de forças incompreensíveis e poderosas que regem o universo, somos partículas atômicas diminutas, sujeitas às intempéries do acaso (ou do caos).
Na nossa mente animal, porém, alimentamos a ideia de que a morte é algo a ser superada e anulada. Vivemos a ilusão de que caminhamos para um nível de conhecimento onde isso será possível. Afinal somos filhos e feitos à semelhança de Deus. E se a ele foi dado o direito de criar e administrar o mundo, demiurgo cósmico que é, por não será assim também com os seus filhos?
A angústia de um dia superar a morte, termina por se transformar, para nós humanos, em um sentimento maior do que a angústia por medo da própria morte. Já não admitimos mais que exista uma hora certa para morrer. O pensamento transborda, desliga-se da base material e perde o senso da realidade. Um verdadeiro delírio.
Assim, quando o trágico ressurge em nossos caminhos e antecipa um desfecho qualquer em qualquer uma das vidas por nós conhecidas, voltamos a nos indagar e a vacilar diante do fato inevitável e incontornável.
Voltamos a ter a percepção de que continuamos a ser uma poeira cósmica, sem eira nem beira, a mercê do que o destino, ou outra qualquer conjunção de forças incompreensíveis para nós, preparou. Percebemos que as forças da natureza são tão gigantescas e incontroláveis que voltamos a entrar em pânico. Não existe saída racional para a morte, do mesmo modo como não nos foi dada nenhuma escolha sobre a possibilidade de vivermos ou não. De repente, abrimos os olhos e tomamos consciência de que existíamos em um mundo que precisava ser traduzido. O nosso esforço vital, assim, passa a ser o exercício da sobrevivência do indivíduo para perpetuar-se a sobrevivência da espécie. De repente, fecharemos os olhos e seremos deslocados para outra dimensão existencial, onde, talvez, necessitemos de um outro aprendizado para uma nova sobrevivência, até que haja uma nova consumação.
Mas, para falar a verdade, nem mesmo disso temos certeza alguma. São puras conjecturas do nosso condicionamento racionalista. Por isso, a necessidade de voltarmos a confabular conosco mesmo em busca de um entendimento mais tranquilizador e que nos permita entrar em sintonia com um ritmo adequado de pulsação cósmica.
Somos e seremos sempre uma poeira cósmica na infinitude do universo.

Recife, 2014

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

O Padre José


O PADRE JOSÉ

Clóvis Campêlo

Vou começar essa história em media res, como se dizia antigamente. Ou seja, do meio pro fim.
Foi no balcão da Farmácia Homeopática Sabino Pinho, na Rua das Águas Verdes, no bairro do São José, no Recife, que eu conheci seu Machado, em meados dos anos 80. Já passando dos 70 anos, era um homem cordial que atendia a todos com distinção. Só o vi enraivecido uma vez. Foi quando lhe perguntei sobre o seu parentesco com o Padre José, do Pina. O homem transfigurou-se para falar daquele meio irmão (por parte de pai) que durante toda a vida insistira em lhe chamar de bastardo e de não lhe querer aproximação alguma. Conservador e elitista, o padre morreu sem reconhecer o filho que seu pai tivera fora do casamento. Morrera sem perdoar o irmão por uma culpa que não lhe cabia.
Pois bem, foi esse padre infeliz e maniqueísta que celebrou a minha primeira comunhão, em 1962. Durante anos reinou na Paróquia de Nossa Senhora do Rosário, onde, depois de morto, foi homenageado pelo fieis com um busto na parede externa da igreja. Confesso que nunca entendi isso direito. Não era um homem bom. Uma vez, ainda menino, vi-o paralisar uma missa para expulsar a ponta-pés um cachorro vira-lata que inadvertidamente entrara na igreja. Contra ele também corriam histórias de pedofilia. Dizem que gostava de atrair para a casa paroquial, que ficava ao lado da igreja, na Avenida Herculano Bandeira, com barras de chocolate, os meninos ainda impúberes. Lá tentava seduzi-los. Se essas histórias nunca foram comprovadas, também nunca foram desmentidas. Diferentemente do Crime do Padre Amaro, de Eça de Queiroz, esse foi o crime do Padre José.
Até hoje, não lembro de nenhum ato ou fato bonificador que o pároco tenha feito em nome da gente daquele bairro. Em plena ditadura militar, os anos que passou à frente daquele rebanho serviu apenas para impingir-lhes o medo do pecado e do fogo dos infernos. Nenhum senso crítico exercitou-lhes, muito embora na garagem da casa paroquial funcionasse uma pequena escola onde a professorinha Glória fazia as vezes de alfabetizadora.
Quando morreu, foi substituído na igreja pelos padres oblatos, americanos que já comandavam a igreja de Brasília Teimosa. Esses eram mais liberais e haviam aprendido os questionamentos da teologia da libertação, liderados pelo padre Jaime.
Os oblatos, aliás, chegaram a Brasília Teimosa, no início dos anos 60, com a missão de catequizar o gentio daquela favela que começava a se formar. Logo perceberam que deveriam estar ao lado do povo na luta pela ocupação e posse daquelas terras. Passaram a ser respeitados e admirados por conta dessa postura solidária e de enfrentamento com o poder constituído.
Logo, outras áreas do bairro do Pina, como as comunidades do Bode e do Encanta Moça, passaram a ter ao seu lado os evangelizadores com uma visão mais modernizada e atuante em relação aos problemas diários e constantes da população mais pobre. Além do céu, a felicidade na terra também era um direito daquele povo. E isso, o padre José nunca os ensinara!

Recife, 2014

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Carnaval em Bezerros


Fotografia de Clóvis Campêlo/2005

CARNAVAL EM BEZERROS


Clóvis Campêlo

Do mesmo modo que a cultura de massa tem influenciado os ceramistas da feira de Caruaru, os personagens do cinema e da televisão também têm invadido a folia de papangus, na cidade dos Bezerros.
Hoje, é comum vermos circulando pelas ruas da cidade, durante o carnaval, fantasias inspiradas nesses heróis ou anti-heróis, como essa acima, que teve como tema a figura de Freddy Krueger.

Recife, 2011


sábado, 16 de agosto de 2014

Nossa Senhora da Conceição



NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO
Recife, 08/12/2013
Fotografias de Clóvis Campêlo

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Caboclo de lança


CABOCLO DE LANÇA
Recife, 1994
Fotografia de Clóvis Campêlo

domingo, 10 de agosto de 2014

Eu também sou brasileiro!


Com ele juntos em campo, o Brasil nunca perdeu

EU TAMBÉM SOU BRASILEIRO

Clóvis Campêlo

Como dizia Nélson Rodrigues, a seleção brasileira é a pátria de chuteiras. Não há como negar. Em 1970, começamos com 90 milhões em ação e ao longo do tempo só nos multiplicamos.
Aliás, em termos de seleção brasileira de futebol, Nélson Rodrigues sempre tinha razão. Complexo de vira-lata? Nunca mais! Depois que Garrincha e Pelé, em 1958, desmontaram o cérebro eletrônico soviético? Tá certo que, em 1974, esbarramos na Laranja Mecânica. Mas, nem sempre tudo corre bem. Também existe a competência alheia. O certo é que, apesar de tudo, sempre estivemos lá. Somos os únicos, aliás. Cadeira cativa em todas as Copas do Mundo.
Se fossemos espanhóis, dividiriamo-nos em bascos e catalões, uns torcendo pelo fracasso dos outros. Mas, somos brasileiros, o povo bombril, vários em um, unidos, coesos na mesma emoção. Do Oiapoque ao Chuí. Não importa o sotaque.
Lembro que em 1974, no segundo jogo da seleção brasileira contra a finada Ioguslávia, alguns amigos politicamente correto torciam contra o Brasil. Sabe como é: ditadura militar, populismo de direita, o ópio do povo. Eu não! Sempre soube distinguir uma coisa da outra. Em 1970, o caudilho Médici já havia convocado Dario Peito-de-Aço, impondo o jogador à Zagalo e a toda a comissão técnica. Concessão feita, deixa o homem no banco, curtindo o calor mexicano do meio-dia. Foi tri sem botar os pés em campo. Mas, tava lá no grupo e curtiu as glórias posteriores. Nada mais lógico, portanto (para eles, os politicamente corretos), que torcer pelo fracasso do Brasil na Copa seguinte. Tínhamos grandes valores naquela seleção de 74: Jairzinho, Rivelino, Luís Pereira, Marinho Chagas, Leão, etc. O nosso azar foi a assombração holandesa. Te esconjuro até hoje!
Em 1982, outro timaço sob o comando de Telê Santana. E mais uma pedra no caminho: a Itália do mafioso Rossi. Dançamos novamente. Paciência. Ali sucumbiu toda uma geração de craques que merecia uma melhor sorte em termos de Copa do Mundo: Zico, Sócrates, Falcão, Toninho Cerezzo, etc.
Em 1994, conquistamos um tetra meio malassombrado com o retranqueiro Parreira. Mas, tetra é tetra. E a festa da conquista começou no Recife. Tremenda apoteose. A cidade azul dos poetas ficou verde e amarela. A nossa brasilidade se manifestou com toda intensidade. E ainda tínhamos Ricardo Rocha entre os campeões, que, machucado, quase não jogou. Em 1958, aliás, também tinha sido assim: voltando da Suécia, onde Garrincha não só ganhou a Taça do Mundo como também deixou plantada a sua semente brasileira, a primeira escala foi no Recife. Graças a Rubem Moreira, o tirano comodoro que deu certo. Entre os campeões do mundo, os pernambucanos Vavá e Zequinha. O nosso futebol e o nosso povo até hoje agradecem. Na Suécia, aliás, fomos campeões do mundo com o técnico Vicente Feola cochilando no banco. Um timaço.
Depois do penta, em 2002, com Rivaldo e a família Scollari, que venha o hexa. Talvez Dunga nos lembre Parreira com suas precauções excessivas, negando o drible e a catimba, revalorizando os armandinhos, reafirmando que a defesa é o melhor ataque. Talvez.
Mas, como dizem que Deus é brasileiro, não custa nada acreditar que seremos hexa. Temos força para isso. E além do mais, hoje, já somos mais de 190 milhões em ação.
Pra frente, Brasil!
Salve a seleção!
Eu também sou brasileiro!

Recife, 2010

Em busca do sol


EM BUSCA DO SOL
Recife, 1991
Fotografia de Clóvis Campêlo


sábado, 9 de agosto de 2014

Simplicidade


SIMPLICIDADE

Clóvis Campêlo

No teu sorriso aberto,
um que de perigoso;
no teu jeito fogoso,
folgo em saber
que nesta vida bandida
o que vale é viver
pra ver a tua simplicidade
na minha simples cidade
Recife, por cima
se o caso é uma rima
se o caso é uma saudade.

Recife, 1976

1932: O primeiro bicampeonato - Parte II


1932: O PRIMEIRO BICAMPEONATO - PARTE II

Clóvis Campêlo

Se em 1931 a campanha do Santa Cruz foi excelente, em 1932, para conquistar o bicampeonato, ela foi simplesmente irrepreensível. Para chegar ao seu segundo título estadual, a equipe coral realizou 12 partidas, vencendo todas, além de garantir o melhor ataque e a defesa menos vazada.
Participaram da campanha os seguintes jogadores: goleiros, Diógenes e Dadá; defensores, Sherlock, Fernando, João Martins, Zé Orlando, Dóia, Julinho, Sebastião e Zezé Fernandes; atacantes, Walfrido, Estevam, Tará, Lauro, Paulo, Carlos Benning, Popó, Limoeiro, Marcionilo, Antero, Edson e Oscar.
Com vistas à conquista do bicampeonato, o Santa Cruz iniciou o ano reforçando o elenco. Além de trazer de volta Sebastião, o grande centro-médio do futebol pernambucano, também contratou Marcionilo, um dos destaques do certame da ASDT, além do goleiro Diógenes. Ironicamente, porém, a equipe coral disputou todo o 2º Turno desfalcada de quatro dos seus melhores elementos: Fernando, Zezé Fernandes, Dóia e Tará. Incorporados às forças pernambucanas, haviam seguido para o Sul em defesa do Governo Vargas contra as tropas insurretas que tentavam controlar São Paulo e Minas Gerais. Essa situação, aliás, foi vivida por vários clubes pernambucanos, inclusive pelo Íris, o outro finalista, já que uma boa parte dos nossos atletas eram ligados à Polícia Militar de Pernambuco.
Os desfalque, no entanto, não chegaram a quebrar a harmonia do grêmio tricolor que, em estado de graça, soube encontrar substitutos à altura dentro de suas próprias fileiras. Nos jogos finais da série melhor-de-três, contra o Íris, o Santa Cruz já se apresentaria completo, mostrando um alto padrão de jogo e garantindo o bicampeonato.
Entrevistado pelo Jornal Pequeno, no dia 19 de novembro, na véspera do segundo jogo final, Tará, demonstraria o nível de convicção do time e o seu espírito de luta, afirmando enfático: “Quem venceu no “front”, enfrentando “artilheiros” muito mais perigosos, não tem medo de caretas...” No dia seguinte, marcaria um belíssimo tento, colaborando com a goleada de 4x1 e consolidando a sua crescente fama de artilheiro.
À noite, após o jogo, no Restaurante Lusitano, a equipe coral ainda teve apetite suficiente para devorar o jantar oferecido pela direção do clube, em comemoração à conquista. Naquela noite, naquela casa portuguesa, houve uma festa tricolor, com certeza...
Eis os jogos realizados pelo Santa Cruz na campanha invicta do bicampeonato:

Jogo: Santa Cruz 8x0 Israelita. Data: 10/4/32 (domingo). Local: Jaqueira. Juiz: José Fernandes Filho. Gols: Paulo (3), Carlos Benning (2), Walfrido (2) e Limoeiro. Equipes: SC - Diógenes, Sherlock e João Martins, Zé Orlando, Julinho e Zezé Fernandes, Walfrido, Limoeiro, Paulo, Lauro e Carlos Benning. ISR - não informado.

Jogo: Santa Cruz 5x1 Great Western. Data: 08/5/32 (domingo). Local: Jaqueira. Juiz: José Fernandes Filho. Gols: não informado. Equipes: não informado

Jogo: Santa Cruz 2x1 Flamengo. Data: 29/5/32 (domingo). Local: Av. Malaquias. Gols: Lauro e Carlos Benning, para o SC, e, Fébidas, para o FLA. Equipes: SC - Diógenes, Sherlock e Fernando, Dóia, Sebastião e Zezé Fernandes, Walfrido, Marcionilo, Tará, Lauro e Carlos Benning. FLA - Alberto, Joãozinho e Chico Altino, Everaldo, Hermes e Roberto, Alonso, Memeu, Fébidas, Bernardo e Pega-Pinto. Expulsões: Joãozinho e Tará, por trocarem tapas.

Jogo: Santa Cruz 4x1 América. Data: 19/6/32 (domingo). Local: Jaqueira. Juiz: Ambrósio do Rego Barros. Gols: Lauro, Marcionilo, Tará e Carlos Benning, para o SC, e, Julinho (contra), para o AM. Equipes: SC - Diógenes, Sherlock e João Martins, Julinho, Sebastião e Zezé Fernandes, Walfrido, Marcionilo, Tará, Lauro e Carlos Benning. AM - Pereirão, Palmeira e Barbalho, Lula, Carioca e Casado, Quincas, Eric, Seixas (Dodô), Ralf e Preguinho (Moacir). Obs.: Jogo não encerrado por indisciplina coletiva da equipe do América, comandada pelo arqueiro Pereirão.

Jogo: Santa Cruz 6x1 Fluminense. Data: 31/7/32 (domingo). Local: Av. Malaquias. Juiz: Octávio Morais. Gols: Paulo (2), Estevam, Walfrido, Lauro e Antero. Equipes: SC - Dadá, Sherlock e João Martins, Zé Orlando, Sebastião e Julinho, Walfrido, Marcionilo, Paulo, Lauro e Estevam (Antero). FLU - Gouveia, Zé Ramos e Gesner, Jorge, Batista e Luizinho, Pinto, Varel, Gilberto, Aldo e Gaby.

Jogo: Santa Cruz WxO Israelita. Data: 15/8/32 (2ª feira). Local: Av. Malaquias. Juiz: Manoel Pinto. Obs.: A equipe do Israelita não compareceu a campo, perdendo o jogo por WxO.

Jogo: Santa Cruz 4x3 Great Western. Data: 11/9/32 (domingo). Local: Jaqueira. Juiz: Bernardo Rosembaum. Gols: Popó (2), Marcionilo e Oscar, para o SC, e, Tino, Zilo e Tutu, para o GW. Equipes: SC - Diógenes, Sherlock e Fernando, Marcionilo, Julinho e João Martins, Walfrido, Edson, Popó, Lauro e Zezé Fernandes (Oscar). GW - Heitor, Bebé e Waldemar, Natalício, L. Costa e Cahé, Cavalcanti, Tinoco, Zilo, Tutu e Alagoano.

Jogo: Santa Cruz 3x1 Flamengo. Data: 25/9/32 (domingo). Local: Jaqueira. Juiz: João Elysio. Gols: Marcionilo, Carlos Benning e Walfrido, para o SC, e, Péricles, para o FLA. Equipes: SC - Diógenes, Sherlock e Fernando (João Martins), Marcionilo, Sebastião e Zezé Fernandes, Estevam, Walfrido, Limoeiro, Lauro e Carlos Benning. FLA - Fritz, Hermes Bezerra (Joãozinho) e Chico, Mazinho, Hermes e Everaldo, Alonso, Fébidas, Péricles, Pitota (Bernardo) e Pega-Pinto.

Jogo: Santa Cruz 3x1 América. Data: 09/10/32 (domingo). Local: Jaqueira. Juiz: Octávio Morais. Gols: Carlos Benning (2) e Lauro, para o SC, e, Ralph, para o AM. Equipes: SC - Diógenes, Sherlock e João Martins, Marcionilo, Sebastião e Zezé Fernandes, Walfrido, Humberto, Oscar, Lauro e Carlos Benning. AM - Pereirão, Palmeira e Barbalho, Alemão, Casado e Moacir, Quincas, Lúcio, Seixas, Rafael (Ralph) e Aldo.

Jogo: Santa Cruz 8x2 Fluminense. Data: 06/11/32 (domingo). Local: Jaqueira. Gols: Walfrido (4), Tará (2) e Lauro (2), para o SC, e, Amarinho e Gaby, para o FLU. Equipes: SC - Diógenes, Sherlock e Fernando, Marcionilo, Sebastião e Zezé Fernandes, Walfrido, Estevam, Tará, Lauro e Carlos Benning. FLU - não informado.

Jogo: Santa Cruz 4x1 Íris. Data: 15/11/32 (3ª feira). Local: Av. Malaquias. Juiz: José Fernandes Filho. Gols: Estevam (2), Marcionilo e Carlos Benning, para o SC, e, Guerra, para o IR. Equipes: SC - Diógenes, Sherlock e João Martins, Marcionilo, Sebastião e Zezé Fernandes (Julinho), Walfrido, Estevam, Tará, Lauro e Carlos Benning. IR - Silvino, Moacir e Reumatismo, Popó, Batista e Ramalho, Benedito, Guerra, Zeferino, Chinês e Emídio.

Jogo: Santa Cruz 4x1 Íris. Data: 20/11/32 (domingo). Local: Av. Malaquias. Juiz: José Fernandes Filho. Equipes: SC - Diógenes, Sherlock e João Martins, Marcionilo, Sebastião e Zezé Fernandes, Walfrido, Estevam, Tará, Lauro e Carlos Benning (Julinho).IR - Silvino, Walfrido e Moacir, Popó, Zé Lima e Ramalho, Benedito, Guerra, Zeferino, Chinês e Emídio.

Recife, 2010

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Me engana que eu gosto!


ME ENGANA QUE EU GOSTO!

Clóvis Campêlo

Dizem os entendidos no assunto que o homem é o único animal que dissimula. Está longe de nós, portanto, enquanto espécie, usar a verdade para a manutenção da vida em que qualquer nível. Poeticamente, parafraseando o poeta-mor da língua portuguesa, poderíamos até dizer que o Homem é um fingidor. E que o fingimento, por ser uma atitude generalizada, está legitimamente incluído entre os direitos da espécie humana.
Assim, fingimos (mentimos!) tanto para conquistar a mulher do próximo - quando o próximo não estiver muito próximo - quanto para bombardear e matar populações indefesas, atingindo indiscriminadamente velhos, mulheres ou crianças. Dependendo da carga dissimulatória dos argumentos, tudo pode ser aceito e explicável.
Quem não lembra, por exemplo, da história da estagiária Mônica Lewinsky com o ex-presidente americano Bill Clinton? Dedurada por uma das secretárias do presidente da maior potência do mundo, após ter as suas conversas telefônicas gravadas, a estagiária viu-se envolvida num escândalo que terminaria com uma ação de perjúrio contra o presidente ianque, após este negar sob juramento que tivesse tido algum tipo de relacionamento com ela.
Para desviar a atenção da opinião pública mundial, Clinton mandou bombardear simultaneamente dois países: o Sudão, na África, e o Afeganistão, na Ásia Central, com a justificativa de combater o terrorismo naqueles fins de mundo. Segundo a revista Veja, em 26 de agosto de 1998, foram disparados contra os dois alvos em torno de 100 mísseis Tomawhak. A encenação, ainda matou cerca de 20 pessoas no Afeganistão, já que no horário escolhido para o ataque de araque, à noite, a maioria dos terroristas visados deveria estar dormindo. Enfim, uma triste encenação que fez o mundo esquecer, por alguns momentos, da estagiária, dos charutos e do sexo oral do presidente.
Lembro disso agora quando o mundo inteiro se indigna com a luta desigual que se dá em Gaza. Até onde a justificativa para a matança encontra respaldo? Até onde qualquer povo ou nação tem o direito de ceifar vidas humanas em nome de um suposto perigo ou tentando destruir edificações ou túneis de existências não devidamente comprovadas?
Todos nós sabemos (e fingimos não saber) que por trás dessa encenação trágica existem interesses políticos e econômicos nem sempre éticos ou honestos.
Dentro desse contexto enganatório fica até difícil para nós, pobres mortais cuja opinião é formada (ou deformada) de acordo com os interesses do jogo político e econômico internacional, tomar uma posição justa e coerente com os nossos valores íntimos (afinal, que valores seriam esses?). Na maioria das vezes, somos impelidos emocionalmente para um lado ou para o outro, servindo de massa de manobra dentro desse jogo espúrio.

Recife, 2014

Barcos na Praia de Suape


BARCOS NA PRAIA DE SUAPE
Cabo de Sto Agostinho/PE, 1991
Fotografia de Clóvis Campêlo


quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Morrer de amor eu quero, minha amada


MORRER DE AMOR EU QUERO, MINHA AMADA

Clóvis Campêlo

Morrer de amor eu quero, minha amada,
buscando em ti o gozo derradeiro,
fazendo disso a última empreitada
e do teu colo um nobre travesseiro;
romper febril o alvor da madrugada
e encontrar um porto alvissareiro,
onde em silêncio encontre a calmaria
e veja a noite escurecer o dia.

Recife 2010