Lance do jogo entre Santa Cruz e Flamengo
O Estádio do Arruda quando da sua inauguração
A INAUGURAÇÃO OFICIAL DO ESTÁDIO DO ARRUDA
Clóvis Campêlo
Em tempos de crise e de vacas magras, é sempre bom nos voltarmos para as fases áureas do clube, quando tudo parece promissor e estimulante.
Foi assim em 1972 quando o Estádio José do Rego Maciel, também chamado de Colosso do Arruda, foi inaugurado, no dia 4 de junho.
O Santinha, na época, era um senhor de 58 anos de idade e ostentava o título de tetra campeão pernambucano de futebol profissional, sob o comando do presidente James Thorp.
Na realidade, a festa de inauguração começou logo cedo, pela manhã, com a missa celebrada pelo cônego Antônio Alves, capelão da Polícia Militar de Pernambuco e torcedor confesso do Santa Cruz desde a infância, e pelo monsenhor João Barbalho, capelão do Exército e irmão de Luiz Gonzaga Uchoa Barbalho, um dos fundadores do clube em 1914.
A missa foi realizada no setor das cadeiras cativas do estádio, às 9 horas da manhã, com o altar instalado no local destinado à imprensa.
Ao ato religioso, assim como ao jogo contra o Flamengo do Rio de janeiro, compareceram Luís Barbalho, Augusto Dornelas e Alexandre Carvalho, os três fundadores do clube que na época ainda se encontravam vivos.
À tarde, às 15 horas, antes do início do jogo, o governador Eraldo Gueiros fez o hasteamento das bandeiras do Brasil, de Pernambuco e do Santa Cruz, acompanhado do vice governador Barreto Guimarães e do prefeito Augusto Lucena e se dirigiu à tribuna de honra do estádio, onde assistiu o jogo ao lado de outras autoridades civis e militares.
O jogo em si foi bem disputado, apesar dos desfalques do time do Flamengo e da ausência de Givanildo, na equipe coral, substituído com brilhantismo por Betinho.No segundo tempo, a chuva fez com que as equipes se retraíssem mais um pouco, terminando o jogo sem nenhum gol marcado. O empate em 0x0, no entanto, não fez jus ao que os dois times apresentaram no gramado.
Segundo a imprensa da época, um dos responsáveis pelo placar em branco foi o goleiro Renato, do Flamengo, ao praticar extraordinárias defesas.
O Santa Cruz, dirigido por Evaristo Macedo, atuou com Detinho; Ferreira, Sapatão, Rivaldo e Cabral (Botinha); Erb e Luciano Veloso; Cuíca (Beto), Fernando Santana (Zito), Ramon e Betinho.
O Flamengo, do treinador Jouber, jogou com Renato; Moreira (Rondinelli), Chiquinho, Tinho e Vanderlei; Zanata e Zé Mário; Vicente (Dionísio), Caio (Ademir), Doval (Fio) e Arilson.
Como se pode observar, no time carioca além da presença na lateral esquerda do atual treinador Vanderlei Luxemburgo, a presença de jogadores tarimbados como Zanata, Zé Mário, Doval, Arilson e o foclórico Fio Maravilha, que só entrou em campo no segundo tempo do jogo.
As duas equipes aplicaram sistemas táticas idênticos, o 4-2-4, com variações para 4-3-3, como era comum naquele tempo.
O jogo foi apitado por Sebastião Rufino, auxiliado por Geraldo Alves e Armindo Tavares.
Renda de Cr$ 223.884,00 para um público pagante de 57.688 pessoas.
Com o estádio superlotado, o público total de 62.185 pessoas desmentiu os comunicados oficiais que estabeleciam em torno de 80 mil pessoas a capacidade total da praça de esportes.
O acontecimento esportivo repercutiu positivamente não só em Pernambuco como em todo o Brasil e deixou eufórica a grande família tricolor, que durante dias vestiu a cidade com as cores do seu clube de coração.
Fundado na Boa Vista, o Santa Cruz perambulou por vários bairros do Recife antes de chegar ao Arruda, o que só aconteceu em 1943.
Naquele ano, alugou o terreno onde hoje está construído o estádio, a sede e o parque aquático.
O terreno pertencia ao comendador Arthur Lundgren, rico comerciante, fundador das Casa Pernambucanas. Antes, o local era ocupado pelo Centro Esportivo Tabajaras, agremiação hoje extinta.
Naquele mesmo ano, no dia 24 de novembro, com a ajuda de um empréstimo no valor de Cr$ 38.000,00 feito à Caixa Econômica Federal, foi comprada a casa de nº 1285, na Avenida Beberibe, hoje demolida, a qual durante muitos anos serviu de sede à agremiação coral.
Em 1954, o prefeito do Recife, José do Rêgo Maciel, que hoje empresta o seu nome ao estádio, deu condições para que o clube assumisse definitivamente a posse do terreno. Consta que foi por essa época, através do esforço coletivo da torcida, que surgiu o epíteto de Repúblicas Independentes do Arruda.
Em 1965, foi lançada pelo Santa Cruz uma campanha para a venda de cadeiras cativas e de títulos de sócios patrimoniais, o que permitiu ao clube arrecadar fundos para iniciar a construção do estádio.
A grande torcida coral, mais uma vez, participou ativamente desse movimento, através de doações diversas que iam de tijolos e cimento até a colaboração através da mão de obra.
A campanha dos tijolos, aliás, foi uma grande mobilização que uniu torcedores de vários seguimentos sociais (mestres de obra, pedreiros, encanadores, engenheiros civis, arquitetos e o público em geral), que, praticamente com as próprias mãos, ajudaram a construir o que hoje é considerado um dos maiores estádios particulares do mundo.
Recife, 2009
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