quarta-feira, 21 de março de 2012

Imaginação


Desenho de Gil Vicente
-
IMAGINAÇÃO

Clóvis Campêlo

Numa atitude de coragem,
atirei no presidente
(na vitrola, Bob Marley
atirava no xerife).

Neste sangrento cenário,
entre heróis e patifes,
as balas do imaginário
alimentavam meu rifle.

-
Como você mesmo sabe,
não sou malandro malvado
e, como Kid Morengueira,
hoje estou regenerado.

Porém, se a autoridade
declina do seu papel
de acabar com a impunidade
mando-lhe pro beleléu.
-

E não tenho piedade
dessa gente sem moral
pois o povo brasileiro
merece um grande final.
-

Acordei sobressaltado,
findando a revolução
pois o combate travado
fora na imaginação.


Recife, 1995


6 comentários:

Cyl Gallindo disse...

Clóvis
Você vai se transformar num Bocage moderno, pela ironia poética.

Antônio Leal Campos disse...

Clóvis,

Melhor deixá-lo vivo, preso até o último dia, na mesma cela,
junto com:

Sarney, Collor, Lula, Dilma & Temer: o Sexteto da Corrupção.

abraçanto

Clóvis Campêlo disse...

Na verdade, amigo poeta, a intenção de matá-lo foi do Gil Vicente.
Aliás, na sua série, Gil Vicente matou muita gente, fez uma limpeza ideológica e ética.
Eu quis apenas matar o presidente simbólico, o cargo, o poder que dele emana.
Mas, sua proposta está sendo encaminhada para o pintor.
Abraços

Antônio Leal Campêlo disse...

Caro colega Clóvis,

Espero que o Gil transforme minha ideia em mais 5 desenhos individuais
e 1 coletivo com a turma dos 6 aloprados na mesma cela.

Às vezes, penso em torturá-los (aliás tenho várias torturinhas a eles destinadas,
a mais recente, deste mês, é a do cacho de coco):

deixá-los soltos, ganhando um salário mínimo, estabelecido por lei,
para o resto da vida, sem as benesses
e corrupções do poder.

Esse Gil é dos meus.

abraçanto

Clóvis Campêlo disse...

Sua pena é muito branda, amigo.
deveriam ir para a Sibéria quebrar pedras...

Antônio Leal Campos disse...

É porque você não conhece a tortura do cacho de coco, inspirada
nuns 20 cocos que vi pendurados na barraca dum vendedor aqui de Olinda,
a uns 4 metros do chão:
pareceu-me próprio para os anões do Orçamento, dos quais Geddel, o anão mais sabido, escapou..

Ontem imaginei a tortura do soro da verdade:

cada político que negasse a delação
do companheiro, teria as veias injetadas com ele, até confessar,
depois seria colocado no polígrafo e em seguida teria um sessão de regressão hipnótica.
Isso no programa daquele da Goldsmidt, transmitido pela Globo, tendo em vista sua boa audiência.

Concordo com você quanto a Sibéria.

Só acho que para lá deveriam ser remetidos tão--somente os companheiros da esquerda da direita,
geralmente supostos estalinistas,
para saber como Tio Stálin procedia com seus desafetos apenas por dizer que tinha bigode de barata,
como nosso colega, o poeta Mendelstam, assassinado de fome.

Mas tudo isso é mentira (invenção da direita, da prostituta mãe) e está faltando soro no mercado.

Também poderíamos, com o mesmo propósito, reabrir as clínicas psiquátricas
do bondoso Tio Bigode, pros companheiros entenderem o que vem a ser a suposta ditadura do proletariado,
ou antes, sobre o proletariado, como dizia Tio Trotsky.

abraçanto