terça-feira, 13 de junho de 2017

A Primeira Comunhão


A PRIMEIRA COMUNHÃO

Clóvis Campêlo

Naquela época, a Primeira Comunhão não era apenas uma festa familiar. Era uma festa comunitária. Toda a vizinhança participava. Lembro da nossa casa no Pina bem cheia, repleta de amigos, parentes e vizinhos. Um freje, no bom sentido, já que naquela dia especial nem eu nem meus irmãos, Carlinhos e Mana, poderíamos prevaricar. Nem em pensamentos. E, confesso, não era fácil manter essa retidão de pensamento e comportamento. Tudo conspirava contra.
Estávamos todos vestidos de branco, simbolizando a pureza das nossas almas. O sacramento se daria à tarde, na Igreja de Nossa Senhora do Rosário, sob a batuta do Padre José, ao lado dos outros alunos do Instituto Dantas, escola que promovia o evento cristão. A festa propriamente dita seria depois, em casa, ao voltarmos da igreja. Comida e bebida, à vontade. Mas aí já estaríamos aceitos fazendo parte definitivamente da comunidade da Igreja Católica Apostólica Romana.
A Primeira Comunhão é uma celebração da Igreja Católica, onde os participantes recebem pela primeira vez o Corpo e o Sangue de Cristo em forma de pão e vinho. Para receber a Primeira Eucaristia, como também é chamada a celebração, deve o cristão saber e compreender alguns princípios e fundamentos da Igreja, como os 10 Mandamentos, os Mandamentos da Madre Igreja, suas principais orações, e os 7 sacramentos. Antes do rito religioso, o participante deve se confessar, livrando-se assim dos pecados e faltas graves cometidos.
Segundo a Wikipédia: “a Eucaristia é " o próprio sacrifício do Corpo e do Sangue do Senhor Jesus, que Ele instituiu para perpetuar o sacrifício da cruz no decorrer dos séculos até ao seu regresso, confiando assim à sua Igreja o memorial da sua Morte e Ressurreição. É o sinal da unidade, o vínculo da caridade, o banquete pascal, em que se recebe Cristo, a alma se enche de graça e nos é dado o penhor da vida eterna." (n. 271). A palavra hóstia, em latim, quer dizer vítima, que entre os hebreus, era o cordeiro, sem culpa, imolado em sacrifício a Deus”. Ou seja, exista na cerimônia toda um simbologia que deve ser entendida, pratica e respeitada pelo participante.
Não era fácil para nós, eu e meus irmãos, seguirmos tudo isso ao pé da letra. Meu pai e minha mãe não eram de frequentar a igreja e nem nos obrigavam a isso. Mas havia um misto de respeito e temor que nos fazia ir adiante sem nada questionar. Para nós, era melhor e mais seguro estar ao lado de Deus, Jesus Cristo e todos os anjos do que vagarmos indefesos e solitários sob as tentações do demônio. E além do mais, todos os nossos colegas e amigos da escola estavam ao nosso lado naquele momento e isso fazia com que nos sentíssemos seguros e protegidos. Restaria-nos depois, ao longo da vida, mantermos essa chama acesa e vibrante. Intuitivamente, sabíamos que não seria nada fácil, pois são muitas as tentações e os perigos dessa vida.
A festa em casa, ao voltarmos da igreja, foi plena e vibrante. Aos poucos, porém,a casa foi esvaziando e a família ficando sozinha. Nossas roupas brancas e nossos livrinhos foram guardados e ainda hoje se encontram entre os objetos deixados por dona Tereza, minha mãe, quando faleceu.
À noite, sozinho, quando me deitei e tentei conciliar o sono, percebi que teria pela frente uma longa caminhada a percorrer, e que nessa caminhada estaria para sempre dividido entre a virtude da retidão da crença religiosa e as tentações do mundo dos homens.


2 comentários:

Cristina Henriques disse...

Como sempre,Clovis Campelo nos arremete ao passado comum dos que tiveram infância de verdade.Tive celebração comunitária também,minha irmã mais velha junto.Ano de 1966,Colégio Santa Maria.Na foto aparecem avô paterno,avó materna,tias,pais.Festa de familia mesmo.Obrigada por compartilhar.

Zenita Falcão disse...

Lembro da minha primeira comunhão, também, mas não tenho fotos. Foi no Grupo Escolar Professor Othon Paraíso. Todos com a farda da escola, no mais, só o livrinho, e a vela com um laço. Eu já era a quarta filha, e as condições financeiras de um barbeiro, não me permitia, aquele lindo vestido estilo noiva, com o qual minha irmã Graça, a primeira filha, havia feito sua primeira Comunhão. Mas foi um dia diferente, mesmo sem entender, sabendo Apenas que eu tinha que saber rezar, não pecar, e ser boazinha com tudo e todos... Havia um certo clima de inocência, com uma mistura de curiosidade, no ar. 🤔🤗