A primeira vez
O
GALO DE TODOS
Clóvis
Campêlo
Amigos,
em relação ao Galo da Madrugada, exercito um misto de admiração e crítica.
Ambos os sentimentos, confesso, alimentados por opiniões de quem também ama o
Galo e o queria diferente, e de quem gosta do Galo do jeito que o Galo é hoje.
Todos
nós sabemos que o Galo da Madrugada nasceu nos anos 70 como mais um grupo de
máscaras criado para animar o carnaval do Recife. Desfilou pela primeira vez,
em 1977, pelas ruas do bairro de São José, com apenas 17 integrantes. Difícil,
naquela época, imaginar que se tornaria uma multidão incalculável. Mas,
tornou-se.
Os
que o criticam (como uma parte de mim), entendem que ao longo dos anos, ao cair
nas garras da indústria do entretenimento, o Galo foi abaianado, com a
introdução de trios elétricos e a chegada de artistas que nada – ou quase nada –
tinham a ver com o nosso carnaval. Contraditoriamente, porém, foi isso que
permitiu a sua sobrevivência e o enfrentamento e a concorrência com o carnaval de
Salvador, que, comercialmente, durante anos superou e ameaçou o carnaval do
Recife. Assim, o Galo da Madrugada provou do acarajé da Bahia para se
fortalecer e sobreviver. Os amantes da tradição carnavalesca recifense, porém,
nunca o perdoaram. Apesar disso, o Galo se impôs e cresceu, com o respaldo dos
recifenses que, ano a ano, vão às ruas engrossar as suas fileiras e projetá-lo
mundo a fora. Não é a toa que hoje, no Rio de janeiro, o também tradicional
Cordão da Bola Preta venha se esforçando para superá-lo e ocupar o seu lugar no
livro dos recordes e nas manchetes da mídia mundial.
Por
isso e muito mais, em nome da glória e da tradição do carnaval do Recife, a
invasão do bairro de São José no sábado de Zé Pereira se justifique e seja cada
vez mais necessária. Se é multidão o que a mídia (e a indústria do
entretenimento) querem, é multidão que vão ter.
Por
outro lado, os que condenam a “modernização” do Galo (como a “outra” parte de
mim) e defendem a tradição das orquestras de frevo no chão com o povo atrás
frevando, saudosistas de um tempo em que talvez houvesse mais harmonia e
civilidade entre os foliões, não deixam de ter razão. Porém, do mesmo modo que
isso acontece no Recife Antigo, onde a democracia do carnaval se exercita
diuturnamente no período momesco, também pode e dever acontecer no bairro de
São José. Ao povo o que é do povo! Nas ruas laterais do bairro, nas entrelinhas
do Galo, também cabem orquestras de frevo desfilando e tocando para que o povo
freva e desopile.
O
Galo merece. Hoje, o Galo é muito maior do que possa perceber a nossa vã filosofia.
E independentemente do vil metal que a tudo constrói e corrói, sobrevivera no
coração e na alma do povo do Recife. Saravá!
- Postagem revisada em 05/02/2018
Nenhum comentário:
Postar um comentário