SOFRÊNCIA!
Clóvis
Campêlo
Oriunda
da zona da mata sul do Estado de Pernambuco, a minha mãe, durante muitos anos,
manteve um pequeno sítio na zona rural da cidade de Rio Formoso. Era um lugar
maravilhoso, resultante do desmembramento do Engenho Carrapato, onde ela vivera
quando menina. Um local repleto de árvores frutíferas, repletas de pássaros
canoros, cortado por um pequeno riacho, repleto de peixes e muçus.
Ainda
menino, gostava de estar ali nas férias. Mas, sempre nos finais de tarde,
apesar de curtir o local, era acometido de uma tristeza inexplicável, uma
depressão que se desfazia na manhã seguinte, quando o sol a tudo iluminava.
Nunca entendi direito esse sentimento negativo que me acometia a alma no final
do dia.
Sempre
imaginei que apenas eu, nesse mundo repleto de pessoas boas e más, fosse o
depositário dessa emoção. Até que um dia, entrevistando o escritor Edson Nery
da Fonseca, no belo sobrado onde morava, na cidade de Olinda, ouvi-o dizer a
mesma coisa: não gostava dos entardeceres bucólicos dentro do mato. Preferia os
fins de tarde à beira-mar, curtindo a sinfonia dos ventos e sentindo os últimos
raios do sol que se ia. Éramos companheiros, portanto, naquele sentimento
estranho e supostamente solitário.
Também
nos dias de chuva, sinto-me alterado por uma tristeza inexplicável. Como bom
sagitariano que sou, preciso do calor e da luminosidade do sol para me
energizar. Não conseguiria, portanto, morar em um local onde o céu não seja
aberto e azul, e o dia claro como deve ser um dia feliz.
A
explicação para isso encontrei no livro de homeopatia do dr. Nilo Cairo, onde
ele mostra que o aumento da pressão barométrica nos dias de chuva pode
influenciar de modo negativo algumas almas mais sensíveis. Do mesmo modo, o
aumento da umidade relativa do ar, fazendo com que os fungos proliferem também
pode afetar os maníacos depressivos como eu, e deixar-lhes de baixo astral.
Quando
menino, no inverno chuvoso do Pina, quando a praia e o mar desapareciam no
ambiente púmbleo e invernoso, imaginava-me como um pato selvagem dos desenhos
animados da televisão, migrando para o sul em busca do sol quente.
Enfim,
a vida é isso. Somos animais que reagem química e fisicamente aos estímulos
externos. Adaptar-se é preciso para sobrevivermos. Acho que consegui.
Recife,
janeiro 2015
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