COMO É GOSTOSO O MEU PORTUGUÊS
Clóvis
Campêlo
Existe
hoje, na língua portuguesa falada e escrita no Brasil, uma grande confusão
quanto ao uso correto das palavras perda e perca.
A
primeira, segundo o aurélio que me acompanha há décadas, trata-se de um
substantivo feminino, que significa ato ou efeito de perder, privação de alguma
coisa que se possuía, privação da presença de alguém, extravio, sumiço,
prejuízos sofridos pelo credor em consequência da diminuição do seu patrimônio,
ou mesmo morte, desaparecimento ou falecimento.
A
segunda, ainda com base na mesma fonte, nomeia um peixe acantopterígeo, de água
doce, e de carne muito saborosa. Mas, na linguagem popular e coloquial também
pode significar perda, prejuízo ou dano.
Ao
mesmo tempo, ainda, perca também pode se referir a uma flexão do verbo perder,
no tempo condicional.
Ou
seja, talvez eu me perca nesse texto ao achar que seria uma grande perda não
perceber a possibilidades dessas duas nuances.
A
rigor, porém, entendo que dentro da utilização da norma culta o termo perda
seja mais bem indicado na construção frasal. Entendo, no entanto, que sendo a
língua uma entidade viva e que se transforma ao longo do tempo no sentido de
facilitar a comunicação entre as pessoas e as instituições, nada impeça que o
segundo termo seja usado sem constrangimentos. Afinal, a língua é do povo como
o céu é dos satélites e dos intelsates.
E
foi assim, submetido aos ditamos da fala popular, misturando os dialetos locais
com o latim vulgar disseminado pelos romanos no continente europeu, que a
língua portuguesa, a última flor do Lácio, nasceu. E foi assim que ela também
se modificou, depois de formada, assimilando novas palavras e expressões nos
lugares e países para onde foi levada pelos portugueses conquistadores da Idade
Média.
E
ainda é assim, nos tempos de hoje, que ela continua a se transformar e
assimilar novas expressões criadas por quem a fala e pelas novas necessidades
oriundas das invenções e transformações do mundo moderno.
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