domingo, 25 de novembro de 2012

O cinema e a imagem em movimento


Irmãos Lumiére

O CINEMA E A IMAGEM EM MOVIMENTO

Clóvis Campêlo

De onde vem o cinema?
Como essa estranha máquina inventada por austeros cientistas transformou- se numa engenhoca de contar histórias para grandes plateias?

O MALABARISTA E O CANGURU

Alguns historiadores consideram que as primeiras imagens da história do cinema foram conseguidas pelos irmãos alemães Max e Emil Skladanowsk que, em novembro de 1895, apresentaram no teatro de novidades de Wintergarten as cenas de um malabarista e de um canguru boxeador.
As controvérsias, porém, não param por aí: Robert W. Paul e Birt Acres, na Inglaterra, e os irmãos Latham, nos Estados Unidos, por esse mesmo tempo, também executaram projeções públicas com ou sem bilheteria. Também nos Estados Unidos, Thomas Edison começava a exibir e a faturar com os filmes feitos para o seu cinetoscópio: a clientela incipiente pagava 25 centavos de dólares para apreciar cenas de danças e acrobacias.
Pode-se considerar, portanto, que o cinema teve vários pais e surgiu na esteira do desenvolvimento e da pesquisa científica da época.
No entanto, foram os irmãos Lumiére - burgueses mistos de químicos, industriais e inventores - que constaram para a posteridade como os pioneiros a apresentarem o cinema como um espetáculo. Desenvolvendo uma boa máquina de projeção, a partir do cinestocópio de Edison, exibiram no subsolo do extinto Grand Café de Paris, no dia 28 de dezembro de 1895, para uma platéia de 35 pessoas (lotação esgotada ao preço de 1 franco), o filme "A saída da Fábrica Lumiére".
De curiosidade científica, o cinema começou, assim, sob a visão mercantilista da burguesia dominante, a ser visto como um negócio promissor.

A LANTERNA MÁGICA

A história dos antecessores do cinema começa, porém, no século XVII, com o jesuíta Athanasius Kircher, construtor da primeira lanterna mágica dos tempos modernos - equipamento capaz de projetar imagens fixas e que já era conhecido no Egito dos faraós -, concebida a partir da câmara escura do napolitano Giovanni Batista della Porta, acusado de feitiçaria justamente por sua descoberta. Em 1160, em Roma, o dinam,arquês Wangenstein desenvolveu uma lanterna mágica que utilizava luz artificial em vez de luz solar.
A invenção da fotografia, também no século XIX, abriu caminho para que o cinema pudesse surgir como uma combinação da lanterna mágica com as imagens fixadas em filme.
As pesquisas em busca de máquinas que pudessem reproduzir as imagens em movimento prosseguem durante o século XIX. Diversos cientistas procuram fixar movimentos rápidos e imperceptíveis a olho nu: o francês Pierre Janssen elabora uma "câmara-revólver" para registrar a passagem de Vênus pelo Sol, em 1873; o inglês Muybridge monta um complexo equipamento com vinte e quatro câmeras para estudar o galope de um cavalo; o francês Marey, para analisar o voo de um pássaro, inventa um "fuzil fotográfico" capaz de captar doze imagens em apenas um segundo.

ENGENHOCA BURGUESA

A máquina cinematográfica, portanto, surge como consequência de todo esse trabalho de pesquisa e reflete o auge da consolidação burguesa que, através da Revolução Industrial, transforma os meios de produção, as relações de trabalho e a sociedade.
Segundo Jean-Claude Bernadet (O que é cinema, Editora Brasiliense, 1981), "no bojo de sua euforia dominadora, a burguesia desenvolve mil e uma máquinas e técnicas que não só facilitarão seu processo de dominação, a acumulação de capital, como criarão um universo cultural à sua imagem. Um universo cultural que expressará o seu triunfo e que ela imporá às sociedades, num processo de dominação cultural, ideológico e estético".
E embora a burguesia tenha praticado a literatura, o teatro, a música e as artes plásticas, estas eram formas de arte que já existiam antes dela. A arte que ela cria e que surge a partir da experimentação científica é o cinema.
Será que alguma vez, no escurinho do cinema, você chegou e pensar nisso tudo?

(Artigo publicado originalmente no jornal SindPress nº 9, Recife, agosto de 1995)