segunda-feira, 12 de novembro de 2012

O Graf Zeppelin no Recife


O GRAF ZEPPELIN NO RECIFE

Clóvis Campêlo

O Graf Zeppelin aportou pela primeira vez no Recife às 19h28 do dia 22 de maio de 1930. Vindo de Sevilha, na Espanha, após evoluções sobre a cidade, atracou na primitiva torre do Campo do Jiquiá. Foi recebido por uma multidão superior a 15 mil pessoas, oriunda do Recife, de cidades vizinhas e até de outras cidades do Nordeste, atraída pela nova maravilha do século.
A escala forçada no Recife, já que a rota original era ir direto da cidade espanhola ao Rio de Janeiro, foi provocada por ventos contrários enfrentados pelo dirigível ao sobrevoar a Ilha de Fernando Noronha.
Ao desembarcarem, os ocupantes foram recebidos pelas autoridades estaduais, a frente o então jovem sociólogo Gilberto Freyre, secretário particular do governador Estácio Coimbra.
Entre os passageiros estavam o infante da Espanha, Dom Afonso de Bourboun e o professor Vicente Licínio Cardoso, da Escola Politécnica do Recife, o primeiro brasileiro a viajar no belo dirigível.
A aeronave permaneceu no Recife até o dia 24, quando, pela madrugada, alçou vôo para o Rio de Janeiro, seu verdadeiro destino. Nesse meio tempo, ocorreram na cidade diversas manifestações de carinho, como recepções, almoços e jantares, além de presentes ofertados pela colônia alemã, como uma plaqueta cravejada de brilhantes.
A visita inusitada foi registrada em versos pelo poeta Ascenso Ferreira:

"Apontou / parece uma baleia se movendo no ar /
Parece um navio avoando no ares! /
Credo, isso é invento do cão! /
Ó coisa bonita danada. /
Viva seu Zé Pelin! /
Vivôoo...
"


Estes versos do poeta estão gravados na placa aposta ao pé da torre metálica do Jiquiá, pelo Governo do Estado de Pernambuco, em 15/9/1981, para perpetuar a lembrança dos 51 anos da primeira escala do Graf Zeppelin no Recife, transformando-a em monumento tombado pela FUNDARPE, após sua restauração, por se tratar da única ainda existente no mundo.
Entre os pernambucanos que viajaram no Graf Zeppelin (236m de comprimento e 30m de diâmetro), constam o Conde Pereira Carneiro, João Cleófas de Oliveira, José Pessoa de Queiroz, Lael Sampaio, Severiano Lins e J. Brito Passos.
Outro ilustre viajante foi o presidente Getúlio Vargas que, em 1933, embarcou para o Rio de Janeiro no Campo do Jiquiá, congratulando-se, na chegada, com o presideente Hindenburg, da Alemanha, "por esta forma de transporte aéreo que o gênio alemão revelou ao mundo".
A última escala do Graf Zeppelin no Recife aconteceu no dia 4 de maio de 1937, vindo do Rio de Janeiro. Daqui, voou direto para Friedrichshafen, percorrendo 7.872 Km, em 88,28 horas, numa velocidade média de 88,8 Kh/h, encerrando o ciclo dos dirigíveis.
Dois dias depois, no Campo de Lackehurst, nos Estados Unidos, o Hinderburg, foi destruído por terrível incêndio, vitimando 36 pessoas entre tripulantes e passageiros, encerrando o ciclo dos dirigíveis.
Durante a sua existência, o Graf Zepellin realizou 65 viagens para o Brasil, com 130 pousos no Campo do Jiquiá.

Recife, 2008

Fonte:
- MACEDO, Napoleão. "Os ventos trouxeram o Graf Zeppelin", in "Recife, Paixão e Tragédia". Coordenação Fernando Menezes. 2 ed. rev. e ampl. Recife: PROPEG, 2000. p. 15/17.

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