domingo, 18 de novembro de 2012

Duas ou três coisas que eu sei sobre elas


Fotografia de Clóvis Campêlo 2008

DUAS OU TRÊS COISAS QUE EU SEI SOBRE ELAS

Clóvis Campêlo

Como pessoa do sexo masculino, muitas vezes não me sinto à vontade para discutir ou opinar sobre questões que dizem mais respeito às mulheres do que aos homens.
O aborto, por exemplo. Eu pessoalmente sou contra, mas admito que que cabe às mulheres decidirem sobre o que fazer com o seu corpo e com o que ele abriga.
A minha posição contra o aborto, porém, não se prende a nenhuma questão moral ou religiosa.
Diz respeito apenas às amplas possibilidades que as mulheres têm hoje de evitar a gravidez.
Deixar-se engravidar, portanto, pode ser um ato de extrema irresponsabilidade completamente evitável. Pode ser uma aposta na esperteza e na impunidade.
Uma outra questão séria para mim, e essa me envolve diretamente como marido, pai e avô, é a questão da divisão do trabalho na família.
Para mim, caros amigos, a divisão do trabalho no lar reflete simplesmente a divisão do trabalho na sociedade em que vivemos.
Reflete a estrutura vertical do poder instituída no aparelho estatal, nas entidades privadas e até mesmo nas sociedades religiosas.
O poder é privilégio de poucos. Assim sendo, repetimos o adágio popular: "Manda quem pode e obedece quem tem juízo".
Não é só dentro do lar que as pessoas têm a sua força de trabalho explorada.
Assim sendo, embora tenha sido permitido às mulheres, ao longo dos últimos tempos, por uma imposição do capitalismo que sempre precisa se reciclar para continuar lucrando, ocupar determinados espaços que antes eram só dos homens, não se repensou a questão da divisão do trabalho na família simplesmente por que isso não interessa ao sistema.
Penso que é de pleno direito as reclamações e questionamentos femininos. Penso também que nós, homens, precisamos nos reciclar e adotar posturas mais participativas na divisão desse trabalho incessante e necessário.
Quando as mulheres têm dinheiro e poder, porém, transferem essa carga de trabalho a outras mulheres ou mesmo homens, pagando por isso e repetindo o esquema do sistema.
Toda essa visão de exploração do outro esta entranhada em nós, imposta pela educação que recebemos dentro e fora do lar. Assim, as próprias mulheres também são culpadas por isso.
É preciso mudar. Sempre.
Já se disse que o preço da liberdade é a eterna vigilância. Eu digo que o preço do equilíbrio é o eterno movimento e o preço da justiça é a eterna concessão. Quem ama concede e compartilha. Quem não consegue amar, explora o outro e se justifica pelos modelos disponíveis.
É claro que conceder e partilhar também implica em perder.
Não se pode querer tudo ao mesmo tempo agora.
Nós, homens, não somos cachorros para sermos amestrados como tal. Somos seres pensantes e temos o direito de questionar e modificar os costumes de forma consciente e humanizada.

Recife, 2008

7 comentários:

Glória Braga Horta disse...

Clóvis, eu acho que a estão do aborto cabe aos homens também. Às mulheres coube pela natureza dar à luz, mas os homens também participam desse processo, fertilizando o óvulo. O corpo que se desenvolve no útero de mulher não é o corpo dela, mas de um outro ser. Se ela optou por não ser mãe, existem vários meios de evitar isso, como você mesmo diz em seu texto. É o que penso.

Angélica Teresa Almstadter disse...

Deveria haver mais cabeças pensantes e com a mesma compreensão sua. Li quase sem acreditar que partia de uma pessoa do sexo oposto.
Concordo plenamente, mas infelizmente é o tipo de coisa que não se impõe, ou as pessoas compreendem e englobam em suas vidas ou melhor deixar pra lá, pq qualquer outra tentativa vira discussão.
Quiçá um dia vejamos mais exemplos de atitude dessa natureza.

Iara Abreu disse...

Bom dia Clóvis Campelo.
Belíssimo texto. Você escreveu o que eu gostaria de dizer às vezes.
Repasso aos amigos.

Iara Abreu disse...

Bom dia Clóvis Campelo.
Belíssimo texto. Você escreveu o que eu gostaria de dizer às vezes.
Repasso aos amigos.

Iara Abreu disse...

Bom dia Clóvis Campelo.
Belíssimo texto. Você escreveu o que eu gostaria de dizer às vezes.
Repasso aos amigos.

Ubiratan Souza disse...

Prezado amigo Clóvis, prezados amigos.
Fica a pergunta:por que a mulher tem direito de fazer o que quer com um inocente? Que faça com o seu corpo o que quiser, menos com um outro ser humano indefeso, principalmente assassinar...isto é uma questão de DISCERNIMENTO e não de religiosidade ou de moralidade...

lucelena disse...

Olá, Clóvis. Li o seu texto e gostei muito de saber a sua opinião sobre alguns itens forçosamente ditos como de responsabilidade das mulheres. Não me foi surpresa sua colocação, afinal, em suas conversas você sempre se mostra um ser pensante e correto. Sou sua fã. bjs Lu.