terça-feira, 3 de abril de 2012

O dia em que Bruce Willis se perdeu no Recife



O DIA EM QUE BRUCE WILLIS SE PERDEU NO RECIFE

Clóvis Campêlo

Pois é, amigos. Como bom católico não praticante que sou, no Domingo de Páscoa dirige-me ao Recife Antigo para assistir a Paixão de Cristo. Lá, no meio de uma multidão comovida, sentindo o cheiro do povo novamente, assisti ao Drama e a prova de resistência de José Pimentel, que interpreta o papel de Cristo há muito tempo.
Setentão, Pimentel, que não aparenta a idade que tem, fez do Drama da paixão um nepotismo teatral. Toda a família participa da montagem e encenação do espetáculo, o que não lhe tira o brilho. Pelo contrário. A Paixa de Cristo do Recife abre um excelente mercado de trabalho para os atores locais, principalmente depois que a famigerada Rede Globo tomou conta de Nova Jerusalém com seus atores mauricinhos e atrizes patricinhas.
Além de tudo, como li recentemente em uma revista, numa matéria sobre o Maestro Duda, quando se trata de arte, o mais importante é a competência de cada um, parente ou não.
O mais emocionante, porém, foi quando, antes do espetáculo começar, alguém assumiu o microfone e anunciou com a voz adequadamente preocupada e preocupante, o sumiço de Bruce Willis.
Sabem como é: o povo gosta de homenagear os ídolos dando aos filhos os nomes de celebridades, atores roliudianos, jogadores de futebol e pagodeiros famosos. Juro que nunca vi ninguém nomear um filho de Machado de Assis ou Guimarães Rosas, ou mesmo James Joyce ou Jean-Paul Sartre, provando para mim, que a literatura da elite é desinteressante e chata para o povão. Bruce Willis, não o ator americano, claro, mas uma criança de oito anos de idade, trajando uma calça branca e uma camisa azul celeste, havia se separado da avó, no meio da multidão, e esta o procurava aflita sem encontrá-lo. O jeito foi apelar para a solidariedade popular e antes de Jesus Cristo entrar em Jerusalém montado em seu burrico, todos sairam aflitos e a pé em busca da criança.
Procura Bruce Willis daqui, procura dali, e o menino foi finalmente encontrado aos pés da estátua do Barão de Rio Branco, com um saco de pipocas na mão.
Anunciado o resgate triunfal, a multidão aplaudiu calorosamente o final feliz e pudemos, afinal, assistir ao martírio, a morte e a ressureição de Cristo.
Bruce Willis, quem diria, deu um colorido especial à Paixão de Cristo do Recife.

Recife, 2008


11 comentários:

Marcus Prado disse...

Pen que esse artigo não tenha saído numa rede nacional de jornais. Parabéns!

Alcides Ferraz disse...

Muito boa a crônica, fictícia ou real. Parabéns,meu amigo...!!

Dalva Lynch disse...

A sua crônica deu um colorido especial à minha noite. Amei!!!

Antônio de Campos disse...

Clóvis, ou o dia em que Bruce Wills salvou o Salvador. Valeu! Abraçanto.

Carmo Vasconcelos disse...

Gostei, amigo Clóvis! Páscoa Feliz!

Eron Freitas disse...

Meus aplausos pelo belo texto.

Flávio Tiné disse...

Sensacional. Vou postar no Facebook. Embora seja de 2008, não perde o brilho.

Conceição Pazzola disse...

Adoro esse texto!
Feliz Páscoa para todos(as)!

Alberto Félix disse...

CLOVIS, PIOR QUE TER FILHO CHAMADO BRUCE UILIS, BRED PITI.
É A MUSICA QUE JOGADOR PEDI QUANDO FAZ GOL.

Walter da Silva disse...

MUITO, MUITO BOM! vai ver foi mais um milagre de Bruce Willis, ter encontrado Cristo naquela multidão....

Eliane Triska disse...


Clóvis, adorei tua crônica.


Abraços