segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Joaquim Nabuco, um pouco da sua histórias e dos seus monumentos no Recife


JOAQUIM NABUCO, UM POUCO DA SUA HISTÓRIA E DOS SEUS MONUMENTOS NO RECIFE

Clóvis Campêlo

Nem sempre, amigos vale a pena se começar um texto ou uma história pelo começo. Quem já seu Os Sertões, de Euclides da Cunha, sabe disso. Só depois de superadas as cansativas falésias (no texto euclidiano) é que se chega aos sertões, ao cerne da narrativa, em alguns momentos eminentemente cinematográfica e compensatória.
Mas, encerremos a curta digressão euclidiana e concentremos as nossas atenções na figura de Joaquim Nabuco, chamado por muitos de Quincas, o belo.
Segundo a Wikipédia, Nabuco padecia de uma doença congênita conhecida como policitemia vera, e que lhe causaria a morte. Faleceu aos 60 anos de idade em Washington, nos Estados Unidos, onde exercia as funções de embaixador, sendo sepultado no Cemitério de Santo Amaro, no Recife.
Segundo os estudiosos do assunto, a policitemia se caracteriza pelo aumento no número de hemácias (também chamadas 'eritrócitos' ou 'glóbulos vermelhos') no sangue. Isso pode ocorrer, por exemplo, quando nos deslocamos para regiões de elevadas altitudes, onde o ar é rarefeito (contendo pequeno teor de oxigênio). Nessa condição, o organismo através da liberação de um hormônio produzido pelos rins - a eritropoietina -, estimula a produção de hemácias, num mecanismo de compensação para normalizar o transporte de oxigênio para as células. Foi isso que o matou em Washington, em 1910.
Segundo matéria publicada no jornal Folha de Pernambuco, em 1º de novembro de 2016, "no Cemitério de Santo Amaro é possível encontrar obras simbólicas que contam a história do Estado, como a que se encontra no túmulo do abolicionista Joaquim Nabuco. A escultura Emancipação do Elemento Escravo, de 13 de maio de 1888, é formada por um grupo de ex-cativos levando o sarcófago simbólico do grande abolicionista sobre suas cabeças".
Segundo artigo da pesquisadora Semira Adler Vainsencher, publicado no site da Fundação Joaquim Nabuco, "o mausoléu de Joaquim Nabuco é o mais valioso de todos: é uma obra artística do escultor Giovanni Nicolini, professor em Roma, e feita em mármore de Carrara. A obra retrata o fato mais importante na vida do famoso abolicionista: a libertação dos escravos no Brasil. Ela apresenta alguns ex-escravos que levam, sobre suas cabeças, o sarcófago simbólico de Joaquim Nabuco. Na frente do monumento, vê-se o busto do abolicionista. A seu lado, a escultura de uma mulher, simbolizando a História, que enfeita de rosas o pedestal do seu busto, onde é possível se ler: "A Joaquim Aurélio Nabuco de Araújo. Nasceu a 19 de agosto de 1849. Faleceu a 17 de janeiro de 1910".
Na base do pedestal de Nabuco, onde está presente uma coroa de flores, está escrito: "A Joaquim Nabuco, o comandante, officiais e guarnição do "Minas Gerais". Washington, 14-3-1916". E, na parte posterior do mausoléu do abolicionista, lê-se ainda: "Homenagem do Estado de Pernambuco ao seu dileto filho, o Redentor da raça escrava no Brasil".
No centro histórico do Recife, na antiga Praça da Concórdia, anteriormente também conhecida como Largo Major Codeceiras, e que hoje tem o nome do abolicionistas famoso, existe um monumento feito em sua homenagem e inaugurado em 28 de setembro de 1915, que segundo a página Recife de Antigamente, é obra de autoria de João Bereta de Carrara. O seu pedestal é cercado em pedra de cantaria, duas estátuas do mesmo material completam o monumento: uma figura de mulher, simbolizando a glória, depõe, uma coroa de flores aos pés de Nabuco; outra, um escravo com os grilhões partidos, encimado pela grande e bela estátua do abolicionista.
Ainda segundo a página Recife de Antigamente: "Aliás, é bom que se diga, Joaquim Nabuco é um dos pernambucanos mais homenageados pelo governo. Além desse majestoso monumento, é nome de praça, de rua, de escolas, de fundação, patrono da assembleia legislativa, e teve custeado pelo governo estadual o seu mausoléu, no cemitério de Santo Amaro, como constatamos pelo relatório do governador Dantas Barreto, datado de 6 de março de 1914: “ Solenemente inaugurado do cemitério de Santo Amaro e entregue à municipalidade do Recife o mausoléu mandado construir pelo Estado e destinado a guardar os restos mortais de Joaquim Aurélio Nabuco de Araujo, que ocorreu com autorização na lei nº 1009, de 9 de abril de 1910".
Convém também lembrar que em 2000 o compositor baiano Caetano Veloso musicou o texto Noites do Norte, publicado no livro Minha formação, em 1900.
Mas, voltemos ao começo da história. Segundo o site Ebiografia, até os 28 anos de idade, foi essa a trajetória do abolicionista: "Joaquim Nabuco (1849-1910) nasceu no Recife, Pernambuco, no dia 19 de agosto. De família ilustre, pai, avô e bisavô foram Senadores do Império. Filho de José Tomás Nabuco de Araújo e Ana Benigna Nabuco de Araújo, viveu seus primeiros oito anos com os padrinhos Joaquim Aurélio de Carvalho e Ana Falcão de Carvalho, no Engenho Massangana, no município do Cabo de Santo Agostinho, Pernambuco. Em 1857, foi com a família para o Rio de janeiro. Estudou em Friburgo, em seguida entrou para o Colégio Pedro II. Entre seus colegas estavam Rodrigues Alves, Afonso Pena, futuros presidentes do País, e Castro Alves, o poeta dos escravos. Ingressou na Faculdade de Direito de São Paulo, que era um dos principais centros liberais e abolicionistas do Brasil Imperial. Ainda estudante escrevia matérias para os jornais liberais "Ipiranga", "Independência" e "Tribuna Livre", fundado por ele. Já mostrava seus anseios por um regime livre da escravidão. Foi presidente do Ateneu Paulistano, associação estudantil cujo lema era Deus, Pátria e Liberdade. Em 1869, voltou ao Recife, onde continuou seus estudos na Faculdade de Direito. Formado em 1870, ingressa na carreira diplomática. Em 1876, é nomeado adido em Washington, e depois é transferido para Londres. Em 1878, com a morte do pai, volta ao Rio de Janeiro e troca a vida diplomática pela advocacia".
Ainda segundo o site acima citado, no ano de 1879 é eleito deputado pelo Partido Liberal e faz o seu primeiro discurso no câmara ratificando a postura abolicionista que já defendia na campanha eleitoral.
E prossegue o site: "Em 1880, transformou sua casa, na praia do Flamengo, em uma Sociedade Contra a Escravidão. Em 1887 é reeleito deputado por Pernambuco. Em discurso na Câmara condena a utilização do Exército na perseguição dos escravos fujões. No dia 10 de março de 1888, cai o gabinete do conservador Barão de Cotegipe e assume João Alfredo, que tinha a missão de propor a abolição. Lutando pelo projeto abolicionista, Nabuco encaminhou as medidas de urgência, até que no dia 13 de maio a Lei Áurea foi assinada".
E ainda: "Nessa fase de espontâneo afastamento, Joaquim Nabuco viveu no Rio de Janeiro, exercendo a advocacia e fazendo jornalismo. Frequentava a redação da Revista Brasileira, onde estreitou relações e amizade com altas figuras da vida literária brasileira, Machado de Assis, José Veríssimo, Lúcio de Mendonça, de cujo convívio nasceria a Academia Brasileira de Letras, em 1897.
Nesse período, Joaquim Nabuco escreveu duas grandes obras: “Um Estadista do Império”, biografia do pai, mas que é, na verdade, a história política do país e um livro de memórias, “Minha Formação”, uma obra clássica de literatura brasileira".

Para finalizar esse texto-homenagem, que já se alonga demais, gostaríamos de citar um trecho da colocação atualíssima feita pela leitora que se identifica simplesmente como Ieda, ao comentar sobre a música Noites do Norte, a parceria inusitada de Caetano Veloso e Joaquim Nabuco, e postada no site Answers Yahoo: "Ao advertir que a escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil, Joaquim Nabuco se dava conta de que o fenômeno do cativeiro havia contaminado a sociedade brasileira, dividindo-a, o que conduziria a sérias conseqüências, e estragaria as relações e a harmonia social e política no país, ao longo da história, e alcançaria o século atual. Ao assistirmos o lastimável espetáculo que, atualmente, políticos inferiores encenam, à revelia da vontade e do entendimento popular, a advertência de Joaquim Nabuco se atualiza, porque se vê o quanto a “obra da escravidão” penetrou em nossos corações e mentes".

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