Fotografia de Clóvis Campêlo / 2015
Clóvis Campêlo
Consta que o homem é o único animal que se prevalece do sexo em nome do prazer. Para todas as outras espécies, serve o sexo para a manutenção da espécie. Em função disso, nas sociedades ditas modernas, estabeleceu-se uma verdadeira indústria do prazer sexual.
Antes, na era vitoriana, quando apenas aos indivíduos do sexo masculino era permitida a relação sexual fora do casamento, prevalecia a prostituição feminina, com os corpos sendo vendidos nos lupanares da vida. Às mulheres, restava apenas o casamento, quando saia do julgo econômico e social do pai, para ficar sob a responsabilidade financeira do marido. Às que ficavam no caritó, solteironas, restava apenas a fuga freudiana da histeria.
Se aos indivíduos do sexo masculino era permitida a satisfação dos desejos sexuais nos prostíbulos, às mulheres a virgindade era condição sine qua non para conseguirem um marido. Às mulheres que se “perdiam”, envolvidas geralmente por homens de pouco caráter, só restava o caminho da solidão nos conventos ou na meretrício.
No meu tempo de menino, quando os costumes ainda não haviam adquirente um nível tão alto de permissividade, cansei de presenciar moças de família, algumas até irmãs de amigos de infância, serem colocadas de casa para fora, pelo pai, por haverem se aventurado pelos caminhos da satisfação sexual antes dos contratos nupciais. A virgindade, além do dote paterno, quando era o caso, tinha um alto poder de barganha e podia servir de instrumento de ascensão social para quem soubesse ou pudesse usá-la com inteligência. Lembro, por exemplo, da existência de um grupo de meninas, essas já avançadas demais para aquele tempo, que se permitiam o sexo anal, mas mantendo a integridade do hímen, preciosa membrana de alto valor social. Essas moças ousadas e de um autocontrole admirável, eram chamadas pejorativamente de “bundeiras” e nem sempre eram tratadas com o devido respeito pela sociedade excessivamente machista da época.
As mocinhas do interior que vinham para a cidade grande em busca de emprego, e que geralmente trabalhavam como doméstica nas casas de família também sofriam com a discriminação da perda antecipada da virgindade. Para essas, invariavelmente, só restava o “caminho da zona”. Caso fossem engraçadas e fisicamente privilegiadas, podiam acabar numa pensão de melhor nível. Se fossem feias e desajeitadas, iam para as pensões de baixo nível, invariavelmente para morrer de sífilis ou tuberculose, contraídas com os parceiros que não podiam escolher e pelas noites perdida de sono, cigarros, bebida e má alimentação.
Esse foi o preço pago pelas mulheres da minha geração que, por burrice ou ousadia, tiveram a coragem de romper com os padrões vigentes.
Hoje, a situação é outra, bastante diferente. O sexo já não é considerado como algo pecaminoso ou sujo. A virgindade já não vale mais, nada sendo ridicularizada e tratada até com ironia e desdém. Às mulheres foi dado o direito ao prazer e à liberdade sexual. O comércio sexual se ampliou e permite, por exemplo, que um motel instalado em um prédio decadente da Rua da Palma, no centro do Recife, coloque no alto do seu terraço a propaganda acima, onde as pessoas de pouco poder aquisitivo poderão desfrutar de três horas de amor pelo preço módico de R$ 29,90, com direito ainda a uma latinha de cerveja gelada.
Os tempos mudaram, amigos!
Recife, julho 2015
Antes, na era vitoriana, quando apenas aos indivíduos do sexo masculino era permitida a relação sexual fora do casamento, prevalecia a prostituição feminina, com os corpos sendo vendidos nos lupanares da vida. Às mulheres, restava apenas o casamento, quando saia do julgo econômico e social do pai, para ficar sob a responsabilidade financeira do marido. Às que ficavam no caritó, solteironas, restava apenas a fuga freudiana da histeria.
Se aos indivíduos do sexo masculino era permitida a satisfação dos desejos sexuais nos prostíbulos, às mulheres a virgindade era condição sine qua non para conseguirem um marido. Às mulheres que se “perdiam”, envolvidas geralmente por homens de pouco caráter, só restava o caminho da solidão nos conventos ou na meretrício.
No meu tempo de menino, quando os costumes ainda não haviam adquirente um nível tão alto de permissividade, cansei de presenciar moças de família, algumas até irmãs de amigos de infância, serem colocadas de casa para fora, pelo pai, por haverem se aventurado pelos caminhos da satisfação sexual antes dos contratos nupciais. A virgindade, além do dote paterno, quando era o caso, tinha um alto poder de barganha e podia servir de instrumento de ascensão social para quem soubesse ou pudesse usá-la com inteligência. Lembro, por exemplo, da existência de um grupo de meninas, essas já avançadas demais para aquele tempo, que se permitiam o sexo anal, mas mantendo a integridade do hímen, preciosa membrana de alto valor social. Essas moças ousadas e de um autocontrole admirável, eram chamadas pejorativamente de “bundeiras” e nem sempre eram tratadas com o devido respeito pela sociedade excessivamente machista da época.
As mocinhas do interior que vinham para a cidade grande em busca de emprego, e que geralmente trabalhavam como doméstica nas casas de família também sofriam com a discriminação da perda antecipada da virgindade. Para essas, invariavelmente, só restava o “caminho da zona”. Caso fossem engraçadas e fisicamente privilegiadas, podiam acabar numa pensão de melhor nível. Se fossem feias e desajeitadas, iam para as pensões de baixo nível, invariavelmente para morrer de sífilis ou tuberculose, contraídas com os parceiros que não podiam escolher e pelas noites perdida de sono, cigarros, bebida e má alimentação.
Esse foi o preço pago pelas mulheres da minha geração que, por burrice ou ousadia, tiveram a coragem de romper com os padrões vigentes.
Hoje, a situação é outra, bastante diferente. O sexo já não é considerado como algo pecaminoso ou sujo. A virgindade já não vale mais, nada sendo ridicularizada e tratada até com ironia e desdém. Às mulheres foi dado o direito ao prazer e à liberdade sexual. O comércio sexual se ampliou e permite, por exemplo, que um motel instalado em um prédio decadente da Rua da Palma, no centro do Recife, coloque no alto do seu terraço a propaganda acima, onde as pessoas de pouco poder aquisitivo poderão desfrutar de três horas de amor pelo preço módico de R$ 29,90, com direito ainda a uma latinha de cerveja gelada.
Os tempos mudaram, amigos!
Recife, julho 2015
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