LIBERDADE DE IMPRENSA, RESPONSABILIDADE E ÉTICA
Clóvis Campêlo
Liberdade de imprensa pressupõe responsabilidade e ética. Não é admissível que uma grande revista nacional, na véspera do segundo turno da eleição presidencial, divulgue reportagens dúbias e afirmações não comprovadas. Mais do que isso, aliás, informações que atingiam em cheio a candidata Dilma Rousseff e que depois seriam desmentidas pelos envolvidos.
Não é de se admirar, também, que no dia da eleição tenha sido forjada na internet a notícia de que o doleiro Alberto Youssef teria sido encontrado morto no hospital onde estava internado, numa atitude de provável queima de arquivo. Essa última notícia foi desmentida pela própria fila do doleiro, que foi à imprensa afirmar que pai estava vivo e bem.
A mentira da revista Veja, afirmando que o Youssef dissera que Lula e Dilma sabiam de um possível esquema de corrupção na Petrobras, foi desmascarada pelo próprio advogado do doleiro, Antônio Figueiredo Basto. Em matéria publicada pelo Jornal do Commercio do Recife, no dia 31/10/2014, quando afirmou com convicção: “Asseguro que eu e minha equipe não tivemos nenhuma participação nessa divulgação distorcida. Acho mesmo que isso tem que ser investigado. Queremos uma apuração rigorosa”. Não é preciso que se seja um expert em contrapropaganda política para se perceber qual o objetivo da mentira e o boato. Não é mais possível que se confunda liberdade de expressão com irresponsabilidade e mentira.
Por coincidência, dois dias antes, o senador Jarbas Vasconcelos, do alto da tribuna do Congresso Nacional, pediu que haja uma fiscalização sobre a censura aos veículos de comunicação do País. O senador que não disputou a reeleição por não se sentir seguro, preferindo garantir um mandato de deputado federal na próxima gestão, entre outras bobagens, disse o seguinte: “Infelizmente a presidente da República já deu exemplos da sua postura autoritária e da sua falta de apreço pelas críticas e questionamentos. O Partido dos Trabalhadores também sinalizou claramente que pretende implantar medidas de cunho bolivariano contra a imprensa, copiando o que de pior surgiu na América Latina, nas últimas décadas”. E terminou o seu depoimento defendendo o direito da revista Veja de ir às ruas divulgando um fato categoricamente negado. Seria de se perguntar a serviço de quem está o senador.
Voltando à revista Veja, o advogado do doleiro negou que no dia 22 de outubro Youssef tenha citado Lula e Dilma, no âmbito da delação premiada, como sabedores do esquema de corrupção da estatal. Segundo ele, nesta data, nem mesmo teria havido depoimento. Convicto afirmou: “Isso é mentira. Desafio qualquer um a provar que houve oitiva da delação premiada na quarta-feira”.
Na verdade, as mentiras e os boatos não impediram a reeleição de Dilma Roussef. O povo brasileiro passou por cima disso e lhe garantiu mais quatro anos de governo e avanços sociais.
Recife, novembro 2014
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