quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Desconstrução


DESCONSTRUÇÃO

Clóvis Campêlo

Para que serve um grupo virtual de relacionamento?
Antes de mais nada, eu diria, para encurtar distâncias reais.
O mundo virtual, aliás, desconhece isso. Nele, distância é um empecilho que não existe.
No entanto, encurtar distâncias para que?
Aí surge um segundo momento de dramático insighting.
Poderíamos afirmar, sem medo de errar e de ser feliz, que o encurtamento das distâncias nos permitiria a criação e manutenção de novas amizades. Tudo bem.
A criação e a manutenção de nova amizades, porém, pedem a existência de pontos em comum, de áreas de interseção onde essa identidade possa se exercitar e se fortalecer. Ótimo. Se somos poetas ou literatos ou mesmo se temos arremedos de filósofos, podemos estabelecer aí esse ponto de identidade e de fortalecimento das relações na virtualidade.
Podemos estabelecer, a partir daí, que a comunicação se dê, aconteça e se efetive.
A comunicação, no entanto, está diretamente relacionada ao envio e recebimentos de mensagens, ao entendimento dos seus conteúdos, a dissipação dos ruídos eminentes e prováveis, e, principalmente, ao prazer que tudo isso pode proporcionar a seus emissores e receptores. Nada pior para a comunicação do o silêncio efetivo e constante, constrangedor, castrador, neurotizante. A comunicação se desconstrói a partir do silêncio. O silêncio, no entanto, comunica. O silêncio é a percepção da eminência dos limites. Não falo, logo desisto.
O silêncio também pode significar a maturação do desencanto: não me vejo no que o outro diz, logo, me calo, desisto.
O silêncio também pode significar que tudo já foi dito. Essa premissa, porém, demonstra uma profunda arrogância: se tudo já foi dito é porque somos sábios e já não precisamos das palavras do outro. Somos perfeitos, divinos e devemos ser alçados às nuvens, nefelibatas, seres flutuantes acima do bem e do mal. O silêncio nunca será uma provocação.
O silêncio nega, extermina, desapropria, rouba, angustia, mata.
O silêncio cheira mal, degrada. O silêncio é caquético.
Sejamos, pois, o barulho do trânsito desenfreado, dos carnavais frenéticos, das procissões feéricas, das crianças na hora do recreio escolar, dos cachorros vagabundos fazendo sexo na rua.
O barulho é um chamamento, o fogo, a chama na palha.
O barulho alimenta a alma e nos deixa a convicção de que ainda precisamos um do outro.


Recife, 2009

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