sábado, 15 de setembro de 2012

Submerso


SUBMERSO

Clóvis Campêlo

Aos teus pés aquietei-me
como um cão com frio
em busca de calor.
E sentindo-me ao mesmo
tempo preenchido
e vazio,
adormeci.
Acordei séculos depois
quando a neve do tempo
já clareava o alto
das montanhas
e os teus cabelos.
E no entanto,
não havia mais frio.
Olhei nos teus olhos
e tive a confirmação
de que neles estavam
todos os segredos
do mundo,
a pedra filosofal,
a negação do tempo
e do espaço.
Mais uma vez
a inquietude
levou-me a escalar
montanhas,
arriscar-me em íngremes
picos vermelhos,
navegar em rios
submersos em úmidas
cavernas.
A mim,
não mais interessava
a claridade do dia,
o verde das matas,
o azul dos céus.
Apenas queria
o silêncio e a quietude
do teu corpo.

Recife, 2010

3 comentários:

Herculano Alencar disse...

Poema de concepção poética filosófica. Uma metáfora emblemática da inquietude da mente de um grande poeta.
Minha reverência, Clóvis.
Abraço fraterno,

Zenita Falcão disse...

Belíssimo e de uma grande sensibilidade!!

Angélica Teresa Almstadter disse...

Parabéns!!! Lindissimo!!