A ARTE DE ENVELHECER
Clóvis Campêlo
Envelhecer não é fácil,
amigos. É preciso se ter maturidade para enfrentar essa fase da vida
(por sinal, a fase final). Algumas pessoas não conseguem aceitar a
chegada da terceira idade e sofrem com isso. Principalmente quem usa
a cara e o corpo como instrumento de profissão. São muitos os
atores e atrizes que entram em depressão com a chegada da fase final
da vida.
Quando jovens, no entanto,
a velhice e a morte sempre nos parecem coisas distantes e
despreocupantes. As visões da velhice na juventude geralmente são
românticas e alegres. Digo isso pensando em dois grandes
compositores que marcaram a minha infância e adolescência e nas
músicas por eles compostas falando da velhice.
O primeiro é Paul
McCartney que ainda na fase dos Beatles, em 1969, no álbum Sargent
Peppers Lonely Heart Club Band, compôs a música Whan I'm
Sixty-Four. Paul, como se sabe, ao contrário de John Lennon,
veio de uma bem ajustada família de classe média inglesa. Seu pai,
nas festas natalinas ou de família, gostava de sentar ao piano e
tocar velhas e tradicionais canções inglesas. Isso Paul absorveu
bem e utilizou com sabedoria nas suas composições.
Na música acima citada,
ele faz uma indagação inocente e bem-humorada: “When
I get older losing my hair / many years from now / will you still be
sending me a valentine”. Ou
seja: “Quando
eu envelhecer, perdendo meus
cabelos
/ Daqui a muitos anos / Você ainda estará me mandando um cartão no
dia dos namorados?”
Paul
que já faz tempo passou dos 64 anos, finaliza a música com uma
proposta e outra indagação: “Send
me a postcard, drop me a line / stating point of view / indicate
precisely what you mean to say / yours sincerely wasting away / Give
me your / answer fill in a form / mine forever more / Will you still
need me / Will you still feed me / When I'm sixty-four”.
Traduzindo:
“Mande-me
um cartão-postal, escreva uma linha / Expressando seu ponto de vista
/ Explique precisamente o que você quer dizer / Com sinceridade /
Dê-me sua resposta, preencha em um formulário / Minha para sempre /
Você ainda precisará de mim? / Você ainda me alimentará? / Quando
eu tiver sessenta e quatro anos”.
Não
é preciso dizer que Paul sempre foi um homem em paz consigo mesmo,
com as mulheres que amou, com seus filhos e sua família. E essa
sensação é transmitida para seus admiradores não só nessa como
em outras músicas suas.
Com
Roberto Carlos não foi diferente. Embora tenha tido a sensibilidade
de transformar em arte e músicas os anseios e sentimentos de toda
uma geração, suas canções falam do mundo e da vida de forma
positiva e propositiva. Na
música Os
Velhinhos,
ele assim se expressa: “Quando a velhice chegar / Eu
não sei se terei / Tanto amor pra te dar / Hoje, vem amor, vem amar
/ Os meus lábios esperam / Te querendo beijar / Amanhã estaremos
velhinhos / Contaremos juntinhos / Os segredos do amor / Para os
nossos netinhos”.
Talvez
a lembrança dessas músicas e desses compositores para mim, que
também já ultrapassei a marca dos 64 anos, sirva para amenizar um
pouco a lembrança do que tempo bom que passou e que, embora não
volte mais, serviu como base para que tenhamos chegado ao momento
atual em que vivemos com nossas famílias, nossos filhos e netos.
Um comentário:
Envelhecer nos aproxima da finitude.
Nada fácil!
Abraço ao querido amigo.
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