domingo, 11 de dezembro de 2016
O Poeta da Vila
O POETA DA VILA
Clóvis Campêlo
Noel Rosa, o Poeta da Vila, nasceu no dia 11 de dezembro de 1910, no bairro de Vila Isabel, na cidade do Rio de Janeiro. Nasceu de um parto muito difícil, que incluiu o uso de fórceps pelo médico obstetra, como medida para salvar as vidas da mãe e bebê. Segundo a Wikipédia, nasceu com hipoplasia (desenvolvimento limitado) da mandíbula, o que lhe marcou as feições por toda a vida e destacou sua fisionomia bastante particular. Faleceu na Cidade Maravilhosa, em 4 de maio de 1937. Mesmo morrendo tão jovem, vitimado pela tuberculose, teve tempo suficiente para criar grandes canções e tornar-se um dos mestres da MPB em todos os tempos.
Aliás, é difícil falar de Noel Rosa sem cair na redundância. Muito já foi dito e escrito sobre ele e suas composições. Entre suas músicas, tenho uma predileção especial por Último desejo, não só pela interpretação marcante que lhe foi dada por Araci de Almeida, como também por ser a música preferida de dona Tereza, minha mãe, que a cantava na cozinha da nossa casa, no Pina, enquanto preparava os bifes para o almoço.
Consta que a música foi por ele composta para Juraci Correia de Morais, a Ceci, jovem dançarina que Noel conheceu no Cabaré Apolo, e por quem se apaixonou. Segundo o site Revista de História, "começaria aí um dos casos de amor mais líricos da história da canção popular brasileira".
Aliás, existe na MPB uma outra música, criada por Antônio Almeida e Ciro de Souza, contemporânea da composição de Noel Rosa, que também fala de uma Juraci (Desde o dia em que te vi, Juraci, nunca mais tive alegrias...) e que talvez faça referências à mesma pessoa.
Segundo o site Eternas Músicas, Último Desejo foi composta no ano de 1937 quando Noel Rosa com tuberculose já em estágio bastante avançado, e sentindo que não viveria muito tempo, compôs em homenagem ao seu grande amor. A composição teria sido uma espécie de despedida do poeta em relação à sua amada. Foi sua penúltima composição cuja letra foi entregue a Ceci por um amigo comum pouco antes do falecimento de Noel Rosa. A outra Juracy foi composta em 1941.
Último Desejo, aliás, que tem a sua primeira parte em tons menores, parece-nos um melancólico lamento. A segunda parte, em tons maiores, menos triste e mais propositiva, mostra-nos a disposição do poeta em impor de maneira firme e decidida a imagem que pretendia deixar como lembrança.
Ainda segundo a Wikipédia, Noel teve ao mesmo tempo várias namoradas e foi amante de muitas mulheres casadas. Em 1934, casou-se com Lindaura, moça da alta sociedade carioca. Mas era apaixonado mesmo por Ceci, a prostituta do cabaré, sua amante de longa data. Era tão apaixonado por ela, que escreveu e fez sucesso com outra música Dama do Cabaré, inspirada em Ceci, que mesmo na vida fácil, era uma dama ao se vestir e ao se comportar com os homens, e o deixou totalmente enlouquecido pela sua beleza. Ele dava-lhe presentes, joias,
perfumes e ela o compensava com noites inesquecíveis de amor.
Segundo o pesquisador Givando Paiva, o nome Noel foi escolhido pelo seu pai, primeiramente pelo fato de o filho ter nascido no mês de dezembro, mês natalino (Noel, em francês, significa Natal) e também por ser o Sr. Manuel (o pai) um apaixonado pela França.
Ainda segundo Paiva, antes de decidir-se pela música o compostor frequentou por seis meses a Faculdade de Medicina, além de estabelecer uma polêmica musical com o compositor Wilson Batista, que gerou, entre outras, obras como Palpite Infeliz e Feitiço da Vila.
Segundo os biógrafos, Ceci não era uma prostituta, vez que na época a palavra Cabaré era a denominação de casas de shows noturnos, onde a maioria das mulheres atuavam como bailarinas. Claro que se tratava de mulheres jovens, livres e independentes, donas de seus próprios narizes. Mas não dependiam de praticar o meretrício para sobreviver. Tanto que, depois que Noel, por ciúme doentio, ter rompido o namoro, o poeta Mário Lago chegou a namorar Ceci.
O romance de Noel com ela começou mesmo numa noite de São João, conforme ele cita em Último Desejo, música cuja gravação não chegou a ouvir, pois já havia falecido.
Um dado curioso com relação a essa música é que, com exceção de Araci de Almeida e Sílvio Caldas, todos os demais cantores que a gravaram, inclusive Nélson Gonçalves e Beth Carvalho, além de todas as pessoas que a cantam em qualquer ocasião e em qualquer lugar, erram a letra. Noel escreveu ...diga sempre que eu não presto, que o meu lar é o botequim..., porém as pessoas cantam assim: ...diga sempre que eu não presto, que o meu lar é um botequim... Ou seja, entram de parceiro com Noel.
Dentre as composições que ele fez pra Ceci, destaca-se também Pela Primeira Vez, um belo samba gravado por Orlando Silva, que estava despontando para o sucesso.
Com certeza, a música popular brasileira deve a este amor boêmio, algumas das suas grandes composições.
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3 comentários:
Bem lembrado, Clóvis. Os golpes que temos recebido são tão feios, que a gente esquece do maior compositor da música popular brasileira.
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