Fotografia de Clóvis Campêlo / 2016
Clóvis Campêlo
Segundo o site da Fundaj, em artigo assinado pela pesquisadora Lúcia Gaspar, fica explicado que a Rua da Concórdia, localizada no bairro de São José, teve o seu nome nascido de uma disputa entre dois dos seus moradores, Manuel José e José Fernandes. Cada um reivindicava o privilégio de ter o seu nome na rua. Em 1840, por iniciativa do presidente do Conselho Municipal, Maciel Monteiro, 2º Barão de Itamaracá, o impasse foi resolvido: lendo uma poesia de sua autoria, intitulada A Concórdia, propôs aos contendores que a rua se chamasse Rua da Concórdia, o que foi aceito por ambas as partes.Portanto, não há a menor possibilidade de discórdia na Rua da Concórdia.
Nos anos 60, durante muito tempo, a linha de ônibus Pina Rua do Sol, por ali passava, levando a mim, estudante do Ginásio Pernambucano, antes de fazer o seu terminal na Rua do Sol, ao lado da antiga Casa de Detenção do Recife, onde, entre outros, foi prisioneiro o cangaceiro Antônio Silvino e o paraibano João Dantas, assassino de João Pessoa, na época da sua morte, presidente da província da Paraíba.
É na Rua da Concórdia, também, onde mora o meu amigo Tuca Frazão, bem pertinho da sede do Galo da Madrugada, onde no sábado de Zé Pereira, dia de desfile do clube de máscaras, fazemos uma parada obrigatória. Ali, naquela residência amiga, nos idos dos anos 70, curti muita batucada e algumas cachaçadas.
Também, é no final da rua, ao lado da ponte de ferro que liga o bairro do São José ao bairro da Boa Vista, que existe uma escultura magistral do abolicionista Joaquim Nabuco. A obra é composta pela estátua do emitente homem público e por várias outras estátuas representando negros libertos e agradecidos. Hoje, uma dos negros que compõem o monumento teve o braço esquerdo arrancado e a mão direita está sem os dedos. Parece que o povo não tem mesmo memória. A obra foi inaugurada em 1915, com Joaquim Nabuco já morto, em comemoração às Leis do Ventre Livre e dos Sexagenários.
Durante algum tempo, a escultura de Quincas, o Belo, como também era conhecido, destacou-se no noticiário local por conta de um enxame de abelhas africanas que se alojou no seu ouvido esquerdo e que, vez por outra, colocava os incautos a correr fugindo das suas ferroadas.
Portanto, em um lugar histórico e democrático como a Rua da Concórdia, não me causou estranheza a camioneta acima, onde um lado estampava a figura do comandante cubano Fidel Castro, e, do outro, a imagem de Ernesto Che Guevara, o guerrilheiro argentino que um dia sonhou em libertar a América Latina do jugo capitalista.
De onde viria tal veículo? Qual o significado daquilo? Estaria ligada a algum partido político de esquerda? Ou o seu proprietário seria simplesmente um admirador retardatário daqueles homens?
Não tive tempo de lhe perguntar isso. Nem mesmo consegui fotografar o lado oposto da camioneta, onde Guevara ostentava o seu enigmático olhar. Mas, as barbas do comandante foram fixadas no campo magnético da minha máquina Sony capitalista. Afinal, fotografia hoje se faz assim, com magnetismos e oportunidades.
É exultante, para o meu lado fotográfico e utopista, perceber no mundo (e mais especificamente na cidade do Recife) identificações ideológicas e filosóficas.
Com certeza, a mim, só resta efetuar seus registros.
Recife, abril 2016
Nos anos 60, durante muito tempo, a linha de ônibus Pina Rua do Sol, por ali passava, levando a mim, estudante do Ginásio Pernambucano, antes de fazer o seu terminal na Rua do Sol, ao lado da antiga Casa de Detenção do Recife, onde, entre outros, foi prisioneiro o cangaceiro Antônio Silvino e o paraibano João Dantas, assassino de João Pessoa, na época da sua morte, presidente da província da Paraíba.
É na Rua da Concórdia, também, onde mora o meu amigo Tuca Frazão, bem pertinho da sede do Galo da Madrugada, onde no sábado de Zé Pereira, dia de desfile do clube de máscaras, fazemos uma parada obrigatória. Ali, naquela residência amiga, nos idos dos anos 70, curti muita batucada e algumas cachaçadas.
Também, é no final da rua, ao lado da ponte de ferro que liga o bairro do São José ao bairro da Boa Vista, que existe uma escultura magistral do abolicionista Joaquim Nabuco. A obra é composta pela estátua do emitente homem público e por várias outras estátuas representando negros libertos e agradecidos. Hoje, uma dos negros que compõem o monumento teve o braço esquerdo arrancado e a mão direita está sem os dedos. Parece que o povo não tem mesmo memória. A obra foi inaugurada em 1915, com Joaquim Nabuco já morto, em comemoração às Leis do Ventre Livre e dos Sexagenários.
Durante algum tempo, a escultura de Quincas, o Belo, como também era conhecido, destacou-se no noticiário local por conta de um enxame de abelhas africanas que se alojou no seu ouvido esquerdo e que, vez por outra, colocava os incautos a correr fugindo das suas ferroadas.
Portanto, em um lugar histórico e democrático como a Rua da Concórdia, não me causou estranheza a camioneta acima, onde um lado estampava a figura do comandante cubano Fidel Castro, e, do outro, a imagem de Ernesto Che Guevara, o guerrilheiro argentino que um dia sonhou em libertar a América Latina do jugo capitalista.
De onde viria tal veículo? Qual o significado daquilo? Estaria ligada a algum partido político de esquerda? Ou o seu proprietário seria simplesmente um admirador retardatário daqueles homens?
Não tive tempo de lhe perguntar isso. Nem mesmo consegui fotografar o lado oposto da camioneta, onde Guevara ostentava o seu enigmático olhar. Mas, as barbas do comandante foram fixadas no campo magnético da minha máquina Sony capitalista. Afinal, fotografia hoje se faz assim, com magnetismos e oportunidades.
É exultante, para o meu lado fotográfico e utopista, perceber no mundo (e mais especificamente na cidade do Recife) identificações ideológicas e filosóficas.
Com certeza, a mim, só resta efetuar seus registros.
Recife, abril 2016
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