Fotografia de Clóvis Campêlo / 1992
A NAVE
Clóvis Campêlo
O desenho acima poderia ser visto como uma nave espacial, ou mesmo como uma água-viva, uma caravela singrando algum mar de algum planeta amarelo. Afinal, por que não dar asas à imaginação?
Além do mais, se a fotografia nasceu de um delírio dos pintores renascentistas de quererem reproduzir fielmente o mundo em que viviam, por que não podemos subverter essa ordem e e dar "vida" a grafia subversiva dos pichadores de paredes urbanas?
Formalmente, assim a Wikipédia descreve o ato de pichar paredes: "Pichação (amiúde grafado incorretamente com x: pixação) é o ato de escrever ou rabiscar sobre muros, fachadas de edificações, asfalto de ruas ou monumentos, usando tinta em spray aerossol, dificilmente removível, estêncil ou mesmo rolo de tinta. No geral, são escritas frases de protesto ou insulto, assinaturas pessoais ou mesmo declarações de amor, também utilizada como forma de demarcação de territórios entre grupos – às vezes gangues rivais".
Perguntamos nós: da transgressão dos pichadores pode nascer a arte? A fotografia acima a isso se propõe, juntamente com todas as outras fotografias da série Paredes: fazer uma leitura positiva das pichações e tentar ver nelas composições dignas de registros.
O enquadramento do fotógrafo, aliás, definindo o que deve ficar dentro da moldura da fotografia e o que ficará fora, já é uma leitura possível e uma interpretação criativa do rabisco.
Esse desenho que foi flagrado em uma rua qualquer da cidade do Recife, possivelmente não mais existirá. A necessidade de padronização e de limpeza é uma constante na mente do homem urbano moderno, numa tentativa inútil de tornar a urbe mais agradável.
Ficou, no entanto, o seu registro fotográfico real e fiel,e ao mesmo tempo aberto para as mais diversas interpretações, mostrando que a fotografia também pode sugerir novidades.
Nem todos pensam assim, porém. Segundo o Blog do Jamildo, em postagem do dia 16/3/2017, diz o seguinte: "Com o intuito de inibir a ação de pichadores no Recife, o vereador Romerinho Jatobá (PROS) deu entrada para instaurar O Programa de Combate à Pichações na capital pernambucana. Em São Paulo, ações do prefeito João Dória (PSDB) para acabar pichações que acabaram também grafites têm provocado polêmica e renderam ao tucano o apelido sarcástico de "Doria Gray". A ação no Recife também visa o enfrentamento à poluição visual e à degradação paisagística, causados pelas pichações nos espaços públicos e privados. Porém, ficam excluídos dos programas os grafites realizados com o objetivo de valorizar o patrimônio público ou privado mediante manifestação artística, desde que consentida pelo proprietário e, quando couber, pelo locatário ou arrendatário do bem privado. No caso de patrimônio público, é necessária autorização do órgão responsável pela preservação e conservação do patrimônio histórico e artístico".
E você, caro leitor, o que acha desse assunto?
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