A MENTIRA, O DESEJO E O SONHO
Clóvis Campêlo
Havia um ângulo de tensão em seu olhar
e nós estávamos embaixo do viaduto
respirando os primeiro raios do sol.
O velho caudilho havia morrido ontem
e, no entanto, estava mais vivo
do que nunca.
Um mendigo dormia
imune à eletricidade da manhã
e eu buscava uma razão
para quebrar a inércia.
Você arrotava cuba-libre,
eu tinha medo da solidão,
metia as mãos nos bolsos
e coçava os testículos.
O dia nascia impune
na praia do Pina
iluminando as nossas
caras cansadas
e eu sentia pena
das putas do Bar da Central.
O meu coração era um fio de nylon
e a cidade bocejava preguiçosa.
O professor havia ido embora
sem conseguir nos iludir
com a sua falsa alegria tropicalista,
péssimo ator que era.
Emmanuel estava conosco
e o diabo também.
Éramos os bobos da corte
e não queríamos ser degolados.
Éramos a personificação
da mentira, do desejo e do sonho.
Recife, 1985
e nós estávamos embaixo do viaduto
respirando os primeiro raios do sol.
O velho caudilho havia morrido ontem
e, no entanto, estava mais vivo
do que nunca.
Um mendigo dormia
imune à eletricidade da manhã
e eu buscava uma razão
para quebrar a inércia.
Você arrotava cuba-libre,
eu tinha medo da solidão,
metia as mãos nos bolsos
e coçava os testículos.
O dia nascia impune
na praia do Pina
iluminando as nossas
caras cansadas
e eu sentia pena
das putas do Bar da Central.
O meu coração era um fio de nylon
e a cidade bocejava preguiçosa.
O professor havia ido embora
sem conseguir nos iludir
com a sua falsa alegria tropicalista,
péssimo ator que era.
Emmanuel estava conosco
e o diabo também.
Éramos os bobos da corte
e não queríamos ser degolados.
Éramos a personificação
da mentira, do desejo e do sonho.
Recife, 1985
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