sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A Praça Maciel Pinheiro

Fotografia de Clóvis Campêlo/1989

 Fotografia de Alexandre Belém/JC
Fotografia de autor desconhecido

A PRAÇA MACIEL PINHEIRO

Clóvis Campêlo

Situada no bairro da Boa Vista, hoje a Praça Maciel Pinheiro apresenta problemas que são inerentes àquele bairro e, de uma maneira geral, a todo o centro histórico do Recife. Abandonada pelo poder público municipal e pelo poder econômico privado, já que a área hoje não apresenta mais um grande valor comercial, é ocupada por moradores de rua e pelo lixo acumulado nas suas dependência.
No que diz respeito ao abandono da praça, aliás, em 29 de março deste ano, o site LeiaJá publicou uma matéria chamando a atenção para a situação de abandono e sujeira do logradouro, bem como para a ocupação do local: “O sentimento de insegurança ao andar pelo bairro da Boa Vista, área central do Recife, não é novidade para ninguém, mas esse medo toma maiores proporções em algumas áreas específicas. Um desses locais é a praça Maciel Pinheiro, que já viveu dias melhores, mas que hoje ostenta o triste rótulo de "lugar a ser evitado". O equipamento público foi ocupado por moradores de rua, porém, deixou de abrigar apenas pessoas em busca de um lugar para se refugiar.
Os flagrantes de uso de drogas e outros produtos que fazem mal a saúde são comuns, em qualquer horário, inclusive durante o dia, principalmente cola de sapateiro. À noite, a situação é pior. O risco aumenta, junto com o consumo de crack e álcool. E com isso, vêm os crimes. "Fumam muito aqui. Tem cliente meu que deixou de vir. Meu estabelecimento já foi arrombado uma vez", revela um comerciante, que preferiu não se identificar”.
Mas nem sempre as coisas foram assim na praça, que antes viveu momentos de esplendor e de beleza.
Sobre a história da praça, aliás, assim se manifesta a pesquisadora Semira Adler Vainsencher, em artigo postado no site da Fundação Joaquim Nabuco: “ Na ocasião de sua inauguração, a Praça apresentava um grande chafariz, bonitos lampiões antigos que iluminavam todo o ambiente, muitos bancos de madeira, e o seu jardim era todo cercado por grades de ferro. Inicialmente, possuiu vários nomes: Moscoso, Largo do Aterro ou da Matriz, Boa Vista e Conde d'Eu. Nesse logradouro público, porém, foram feitas algumas modificações. Em primeiro lugar, o seu chafariz não mais existe: em seu lugar, é instalada uma fonte. Por sua vez, as grades originais são retiradas e outras, posteriormente, vêm ocupar o seu lugar. Por fim, somente muitos anos depois a Praça vem se chamar Maciel Pinheiro, em homenagem ao talentoso jornalista e abolicionista”.
E prossegue: “ Apesar de pequena, tal logradouro possui um precioso troféu: sua bela fonte de pedra contendo leões, máscaras, ninfas e uma índia. Descrevendo a fonte mais detalhadamente é possível dizer que, de sua base, foi construído um tanque redondo. Em cima dele, quatro imponentes leões jazem sentados olhando os transeuntes - como que guardando, serenos, os pontos cardeais. Sobre as cabeças desses animais é erguida a primeira bacia d'água circular da fonte. Do centro dessa bacia, em pé, podem ser apreciadas quatro ninfas seminuas, bem semelhantes à Vênus de Milo. Um pouco acima de suas cabeças, brotando da coluna central, jaz a segunda bacia circular da fonte. A coluna detalhada se eleva mais um pouco e eis que surge a terceira bacia, a menor de todas. Em cima dela, observam-se três máscaras de pedra, esculpidas sobre a coluna central, de cujas bocas abertas emanam as águas que alimentam o tanque redondo, após escorrer pelas três bacias. No topo da fonte, finalmente, representando a população nativa do País, surge uma índia monumental, munida de arco e flecha, como que reinando, absoluta, com o seu corpo voltado para a Igreja-Matriz da Boa Vista e a rua Imperatriz Theresa Christina”.
Entre os poucos sobrados que ainda existem e resistem a ação do tempo e do descaso das autoridades municipais na Praça Maciel Pinheiro, está o de nº 387, na esquina com a Travessa do Veras, onde a escritora Clarice Lispector morou de 1925 a 1937.
Segundo matéria publicada no Diario de Pernambuco no dia 7 de novembro próximo passado, a escritora, nascida na Ucrânia, mas naturalizada brasileira, escreveu inúmeros romances, contos e ensaios, tornando-se uma das escritoras brasileiras mais importantes do século 20”. Mesmo assim, o prédio encontra-se em precário estado de conservação, embora tenha sido tombado pela Fundarpe este ano. Na praça, aliás consta uma estátua da escritora, obra do artista Demétrio Albuquerque, e que faz parte do Circuito da Poesia do Recife, onde outros artistas são homenageados com esculturas colocadas em diversos locais da cidade.
No livro Trilhas do Recife – Guia Turístico, Histórico e Cultural, o escritor João Braga assim se refere ao local: “Com a construção da igreja (Matriz da Boa Vista), nasceu o Largo do Aterro, que passou a ser chamado de Praça da Boa Vista, para, em 1870, ser denominada de Conde D'Eu (Luís Felipe Gastão de Órleans, esposo da princesa Isabel, francês, naturalizado brasileiro e que substituiu Caxias no comando das tropas brasileiras na Guerra do Paraguai. Passou, em 1889, a ser chamada Praça Maciel Pinheiro, homenagem ao advogado paraibano, promotor e juiz Luís Ferreira Maciel Pinheiro, voluntário na Guerra do Paraguai. Na praça há uma fonte em referência à participação do Brasil na Guerra do Paraguai. Em 1876 foi instalado um monumento vindo de Lisboa, com leões que sustentam uma grande bacia, quatro ninfas e uma índia adornada, representando a nação brasileira”.
No livro O Recife e seus bairros, o pesquisador Carlos Bezerra Cavalcanti afirma o seguinte: “Conforme se comprova na planta geográfica, parte da área que corresponde hoje à Praça Maciel Pinheiro, já foi a primitiva Praça N. S. da Conceição da Boa Vista, em outra época também chamada de Largo do Moscoso ou Largo do Aterro. O primeiro ornamento desta Praça foi um belo chafariz, mandado construir pela Companhia do Beberibe”.


Obs.: Atualizado em 29/12/2017

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