-
Fotografia de Mário Carvalho
-
O FREVO E O PASSO ME ENGANARAM-
Clóvis Campêlo
-
Para Elane Tomich
-
-
Tenho um amigo que mora em São Luís do Maranhão e diz que só descobriu a importância histórica e cultural da sua cidade natal quando conheceu outras capitais brasileiras mais modernas.
A mesma coisa aconteceu comigo em relação ao frevo e ao passo. Embora tenha nascido, crescido e sobrevivido ouvindo o frevo e vendo o povo executar a sua dança, o passo, como autênticas manifestações musicais e culturais do povo pernambucano, apenas na década de 70, após ouvir Caetano Veloso reinventar o gênero, com a música “Atrás do trio elétrico”, é que passei a considerá-los com a devida importância. Ali, o frevo que nascera pernambucano, ganhava um sotaque pop e baiano.
Antes dessa catarse, eu queria era a modernidade do rock, a eletricidade das guitarras, a novidade do iê-iê-iê, e que tudo mais fosse para o inferno. Como todo bom subdesenvolvido, queria ser estrangeiro de mim mesmo e da minha terra. Queria ser o outro, why not?
Mas, sobreviver é reconsiderar, reverter conceitos, redescobrir verdades absolutas e relativas e redirecionar as nossas vidas em função disso. Sempre!
E o frevo e o passo haviam me enganado. Nascidos no meio do povo, misturando ritmos musicais alienígenas e os gingados da capoeira africana, o frevo e o passo surgiram como sínteses inéditas e ousadas. Na minha sede de fugir de mim mesmo, de negar as minhas origens terceiro-mundistas, não havia percebido isso, não havia captado a alegria sincera do povo dançando a sua música e executando a coreografia do passo.
O frevo nasceu lumpen, com os pés no chão e logo se transformaria em legítimo representante de vários segmentos sociais e de classe, com o surgimento dos clubes ligados a grupos de trabalhadores (lixeiros, lenhadores, varredoures de rua, carvoeiros, etc.). O passo, mais democrático, serviria a todos indiscriminadamente, sem perder as origens da sua “marginalidade”.
As ruas centenárias do Recife foram testemunhas do meu erro e do meu equívoco histórico. O futuro, no entanto, libertou-me e absolveu-me.
Antes tarde do que nunca.
Recife, 2011
A mesma coisa aconteceu comigo em relação ao frevo e ao passo. Embora tenha nascido, crescido e sobrevivido ouvindo o frevo e vendo o povo executar a sua dança, o passo, como autênticas manifestações musicais e culturais do povo pernambucano, apenas na década de 70, após ouvir Caetano Veloso reinventar o gênero, com a música “Atrás do trio elétrico”, é que passei a considerá-los com a devida importância. Ali, o frevo que nascera pernambucano, ganhava um sotaque pop e baiano.
Antes dessa catarse, eu queria era a modernidade do rock, a eletricidade das guitarras, a novidade do iê-iê-iê, e que tudo mais fosse para o inferno. Como todo bom subdesenvolvido, queria ser estrangeiro de mim mesmo e da minha terra. Queria ser o outro, why not?
Mas, sobreviver é reconsiderar, reverter conceitos, redescobrir verdades absolutas e relativas e redirecionar as nossas vidas em função disso. Sempre!
E o frevo e o passo haviam me enganado. Nascidos no meio do povo, misturando ritmos musicais alienígenas e os gingados da capoeira africana, o frevo e o passo surgiram como sínteses inéditas e ousadas. Na minha sede de fugir de mim mesmo, de negar as minhas origens terceiro-mundistas, não havia percebido isso, não havia captado a alegria sincera do povo dançando a sua música e executando a coreografia do passo.
O frevo nasceu lumpen, com os pés no chão e logo se transformaria em legítimo representante de vários segmentos sociais e de classe, com o surgimento dos clubes ligados a grupos de trabalhadores (lixeiros, lenhadores, varredoures de rua, carvoeiros, etc.). O passo, mais democrático, serviria a todos indiscriminadamente, sem perder as origens da sua “marginalidade”.
As ruas centenárias do Recife foram testemunhas do meu erro e do meu equívoco histórico. O futuro, no entanto, libertou-me e absolveu-me.
Antes tarde do que nunca.
Recife, 2011
10 comentários:
Maravilha de texto depoimento, Clóvis.
Até há pouco, quando me perguntavam qual o meu tipo de música favorito, o Frevo entrava na lista nos últimos lugares. Hoje, não hesito em colocá-lo em primeiro.
Abraço
PS. E por falar nisso, cadê o Paço do Frevo, que não abre, né?
Eu adoeci quando o infeliz ex-deputado Cadoca trazia trio para o falecido Recifolia em Boa Viagem.
Sou estilo nazi-racista FREVISTA.
Clóvis, esta foto é antológica. É do meu amiigo Mário Carvalho, pai do Paulo, outro grande amigo...
Ainda bem que você foi salvo. Pelo e para o Frevo.
Clóvis,
que belo o seu mea culpa. Parabéns. Antes tarde do que nunca.
Ainda hoje há jovens morrendo nas fronteiras do México, na busca de um primeiro
mundo.
Ainda jovem eu declarei que o meu primeiro mundo era Buique. Ali está a minha
Pátria-umbigo.
Abraços,
Clovis, nunca é tarde pra se arrepender.
Mestre Capiba falava que se o frevo pernambucano fosse divulgado como deveria ser, tomaria conta do mundo. Muito boa a sua crônica.
Prezado Clóvis:
Gosto muito dos seus textos e quero agradecer o constante envio para o meu endereço eletrônico. Não respondo um a um porque sua produção é extremamente fecunda, o que me delicia. Parabéns pelos escritos.
Cordialmente,
Muito bem!
E eu só descobri Gilberto Freyre quando morava, quando vivi muito tempo em Porto Alegre.
E descobri sozinho, por curiosidade, pois não foi tocado nos meus 4 anos nas Ciências Sociais-UFRGS.
abç,
Lindo texto.
Parabéns mais uma vez.
Abraço
Hoje teria tudo para não ser um ótimo dia, devido à saúde de dois familiares muito próximos.
Mas , eis que recebo esta maravilha com dedicatória, assunto que adoro e penso: Anjos existem em forma de amigos como você, Clóvis.
Obrigada, anjo.
É, acho que muitos jovens ainda passa por esta confusão.... Eu, gostava de músicas internacionais só para dançar, mas curtia mesmo era a nossa MPB, o forró de Lula Gonzaga, e o negro gato do Roberto, o abacatero do Gil e por aí vai........
Postar um comentário