segunda-feira, 7 de maio de 2012

Entrevista com Jomard Muniz de Britto


Fotografia de Clóvis Campêlo / 2007
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ENTREVISTA COM JOMARD MUNIZ DE BRITTO
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"Caro amigo Clóvis Campêlo:
Me ajude a me escafeder (Banda Larga Cordel). Até minha Olivetti Tropical se escafedeu... Estou na mão com minhas intuições. Resolvo então fazer mais um exercício caligráfico, tentando ser tão breve quanto o ritmo da net, mesmo contrariando, digamos, a maliciosa retórica de seu interrogatório: cloviseano, cloviseando..."
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Foi com o texto acima que Jomard Muniz de Britto devolveu-me as dez perguntas enviadas para ele via e-mail. Atencioso, mas, ao mesmo tempo, sintético e objetivo. Depois, por telefone, diria que as pessoas não gostam de ler na Internet. Apenas olham. Por conta disso, acha um desperdício os textos longos. Assim sendo, foi o mais sucinto possível nas respostas. Terminei concordando. Seguem abaixo, portanto, as perguntas e as respostas dessa entrevista relâmpago, mas super interessante (CC).
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CC - Alguém já disse que você é o guardião das tradições das vanguardas recifenses. O que acha dessa afirmativa?

JMB - Não me sinto nem pressinto guardião de qualquer coisa ou jóia! As linguagens contemporâneas e extemporâneas sempre me estimularam.
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CC - Você nasceu em maio, sob o signo de Aires. Assim sendo, é o verdadeiro ariano da cultura pernambucana. Por falar nisso, como situaria hoje essa oposição entre o Tropicalismo e o Movimento Armorial que houve na cultura pernambucana? Quem saiu ganhando com isso?

JMB - Nasci em 8 de abril, mas não acredito que esse seja o "mês mais cruel" (T. S. Eliot). Mesmo sendo do signo de Aires, minhas afinidades relacionais se debruçam sobre a pele indígena e afro-descendente. Pele significa: de corpo inteiro e abismos da afetividade. Nada a favor ou contra os arianos...
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CC - Por trás dos seus textos aparentemente simples se escondem diversas proposições filosóficas e ideológicas, que exigem do leitor vários instrumentos para decifrá-las. Você acha que o leitor comum sempre está disposto a entrar nesse jogo?

JMB - Cada leitor(a) em processo tem a potência de me entender ou DESENTENDER livreMENTE. O que significa "leitor comum"? Talvez seja um autor/co-autor de incomuns contradições entre "o olho, o piolho, o zarolho, o alho" (Gilberto Gil).
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CC -Por conta desse jogo construtivo, você já foi classificado como um autor hermético, embora se autodefina como hermenêutico. Afinal, dentro dessa sua visão, qual o papel do artista na sociedade atual?

JMB - Nem hermético nem hermenêutico: o gosto amargo e amorável de ser herético. O papel do "artista na sociedade atual"? Saudade de replicantes heroísmos salvadores da pátria? Prefiro apostar nas LINGUAGENS provocativas e provocadoras de nossas contradições, entre belezas naturais e místicas da politicidade. E, através de atentados poéticos, a tragi-comédia (com e sem hífen) de nossa cotidianidade. Poeticidades em traumas e transes.
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CC - Você teve uma participação muito produtiva dentro do ciclo pernambucano do Super 8. Até que ponto o cinema pernambucano atual bebeu nessa fonte e se deixou influenciar por suas propostas estéticas e ideológicas?

JMB - Apesar de "O Palhaço Degolado" ir-e-vir-devir, tornando-se quase um fetiche, o novo cinema pernambucano está melhor identificado com o "arido movie", expressão feliz do cineasta-pop-filósofo-jornalista Amim Stepple.
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CC - Uma das características dos intelectuais dos anos 60 e 70 era lutar pelas transformações sociais e políticas do mundo. Você foi um desses intelectuais engajados. Até que ponto a sua produção de artista multimídia foi influenciada por essa visão?

JMB - Continuo navegando em terras da incerteza: entre engajamentos e engasgamentos: patrulhas sexo-ideológicas: ditaduras mercadológicas: entrevistas super tendenciosas (como esta) e deliciosas apresentações televisuais no Opinião Pernambuco!
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CC - Você acha que o mundo realmente mudou sob a influência dessa visões ou os donos do poder se reciclaram e adotaram formas mais sutis de dominação?

JMB - Reler a pergunta como uma resposta. Só nos restam os micropoderes, atuações pontuais, gestos de solidariedade, atitudes de dúvida permanente e desejos desejantes de transformações no cotidiano. Vocês concordam?
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CC - Como você vê a literatura pernambucana atual, principalmente a poesia? Existe uma estagnação ou ela tem se renovado?

JMB - Tudo pela força revolucionária dos COLETIVOS: menos egos fissurados em narcisismos e mais vacas tossindo pelos raros Suplementos. Por todos os desgovernos.
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CC - Você já teve poemas musicados por vários compositores pernambucanos. A música pernambucana atual vive um bom momento? Até que ponto influenciamos na renovação da MPB? Ou continuamos reféns da cultura musical do sul e sudeste?

JMB - Nunca fomos "reféns". Desde os tempos eternos da bossa nova ao "mangue beat", Pernambuco permanmece desafiando, desafinado, reinventando CANIBAIS e COMUNAS. Em nome da PAP (patrulha autopromocional), o que vocês, internautas ligadíssimos, acham do cd/intersemiótico JMB em COMUNA? Procurem logo na Livraria Cultura. Não percam tempo com entrevistas...
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CC - Para finalizar, a existência de um grupo teatral como o Vivencial Diversiones foi um fato isolado na arte cênica pernambucana ou as suas propostas se fazem presentes ainda hoje na nossa produção teatral?

JMB - Aos interessados na pergunta (quem já ouviu falar em Vivencial Diversiones?). Todos os internautas de nossa teatralidade. É preciso ler o livro de Leidam Ferraz, com Ivonete Melo na capa. O Vivencial Diversiones pode ter sido a expressão mais representativa do Tropicalismo no Nordeste. Muita coisa deste Grupo está registrada em Super 8 e também se encontra no YouTube e Myspace. O que refazer? Desfazer? Vamos ao Teatro! Continuemos lendo e conversando nos bares da artevida. Abraços nas galeras que sabem das coisas e loisas.
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Recife, 2008

- Postagem revisada e atualizada em 04/01/2018


Um comentário:

Urariano Mota disse...

Jomard Muniz de Brito é o Recife.
Irreverente, crítico, criador e criativo.
Conhecedor e agente das vanguardas brasileiras
Da Bossa Nova ao Tropicalismo. Do Tropicalismo a Paulinho da Viola

Todas as vezes em que encontro Jomard na rua me vem um sentimento bom.
Não importa que ande menos ágil. O que importa é sua inteligência sempre-viva.
As suas frases faladas com ar de quem fala nada. E diz muito, como um pensador para ser ouvido depois.

Paulo Freire gostava dele. Padre Daniel gostava dele. Abelardo da Hora também.
Jomard, tu precisa saber: nós gostamos de você.

Abraço