DO POVO, COM O POVO, PARA O POVO
Clóvis Campêlo
É notório nas entrelinhas dos textos dos nossos historiadores que o futebol chegou no Recife no bojo da República e do positivismo. Coisa de Primeiro Mundo.
O Náutico, que sempre foi Capibaribe, surgiu em 1901 como um desdobramento do Recreio Fluvial, clube criado para comemorar o massacre de Canudos. Isso não foi dito por mim. Está inserido nos grande textos sobre as origens do nosso futebol.
O Sport nasceu no seio da burguesia mercantil recifense, cujos rapazes saudáveis e felizes tiveram a sorte de ir estudar na Inglaterra e se interessar pelo esporte bretão. Nada mais simbólico de que tenha sido criado nos fundos de uma loja de modas, na Rua da Imperatriz.
Quando o Santa Cruz veio à luz, em 1914, o novo brinquedo da elite recifense já havia se popularizado e seduzido a classe média. Os meninos que o fundaram eram alunos do Colégio Salesiano do Sagrado Coração e que moravam nas imediações da Igreja da Santa Cruz, no bairro da Boa Vista. Ou seja, já nascemos no seio do povo, criados pelo e para o povo. O Santa Cruz já nasceu mais querido. Nada mais democrático.
Mas, além dessa contravenção social, o Santinha também foi o primeiro clube a aceitar nas suas fileiras o negro Teófilo de Carvalho, o Lacraia. O futebol se amorenava, criava manhas, esquecia os ingleses e a nossa vergonha de sermos o que de fato éramos.
Mas Lacraia também não foi apenas o primeiro jogador negro a iluminar os campos do Recife com a sua arte de jogar o futebol bem jogado. O negro Lacraia, inserido no seu lugar de direito, foi quem concebeu o escudo do Santinha: uma âncora devidamente cravada no coração do povo. A paixão tornava-se irreversível.
Hoje, quando completamos 98 anos de uma vida feita de lutas e superações constantes tudo isso nos parece muito simbólico. E o povo tricolor do Recife, uma cidade que sempre foi agente das suas próprias (r)evoluções, mostrou que o futuro se constrói na perseverança do presente e na base sólida do passado.
O projeto coral para o ano do nosso centenário, em 1914, é mais um desafio a ser conquistado com o ferro e o fogo das certezas que se eternizam em realizações concretas e definitivas.
Parabéns, Santa Cruz!
Parabéns , torcida coral!
Salve as Repúblicas Independentes do Arruda!
Recife, 03/02/2012
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