Fotografia de Clóvis Campêlo/1994
DONA MARIA, UMA BRASILEIRA
Clóvis Campêlo
Descobri Dona Maria em Mirandiba, vendendo comida perto da feira. Era um dia de sexta feira e nós estávamos na cidade movidos pela curiosidade e pelo inusitado.
Mirandiba fica no sertão de Pernambuco, a 423 quilômetros do Recife, na região do Rio Pajeú, desgarrada da rodovia BR-232. Com pouco mais de 13 mil habitantes, entrou para a história política do Estado por ter sido a primeira cidade pernambucana a eleger um prefeito do Partido dos Trabalhadores.Na época, eu fazia parte da Secretaria de Imprensa do Sindicato dos Previdenciários de Pernambuco e acompanhado da jornalista Wedja Gouveia e de Manoel, motorista, fomos em busca da matéria para o nosso jornal, o SindPress.
Queríamos entender como "o modo petista de governar" havia sensibilizado o povo daquele grotão perdido nos confins do Estado, em 1994. O que haveria mudado para que isso acontecesse?
O prefeito eleito pelo PT, Nelson Pereira, hoje deputado estadual pelo Partido Comunista do Brasil, era oriundo do PMDB e chegara ao poder depois de uma briga regionalizada onde o que menos interessava era a sigla partidária. Ou seja, mudara tudo e não mudara nada. Continuava tudo na mesma.
Tentamos conversar com Dona Maria sobre isso, mas para ela a vida era ir à feira e vender os seus quitutes. Não tinha nem ilusões e nem desilusões. Já se acostumara com a alternância dos coronéis no poder e instintivamente sabia que nada disso modificaria a sua vida.
E na verdade, a passagem do Partido dos Trabalhadores pelo poder, naquela pequena cidade do sertão pernambucano, em nada transformou o seu perfil ou a qualidade de vida do seu povo. O modo petista de governar era muito mais um refrão do que uma nova perspectiva de realidade.
E Dona Maria, uma brasileira, continuaria a sua rotina de fazer e vender comida na feira esperando que um dia o futuro finalmente chegasse a Mirandiba.
Recife, 2010
Um comentário:
Caro amigo,
Dona Maria parece que nasceu sabendo das coisas e loisas, abismos da brasilidade e não apenas da política petista. Será mesmo que nada mudou? Não deixe de ir ao GRITO DOS EXCLUÍDOS no dia 7 de setembro, lá nos encontraremos. Antes dele teremos A LETRA E A VOZ. Mais uma possibilidade de encontro. Abraços, Jomard
Postar um comentário