Clóvis Campêlo
Não é só o petróleo que é nosso. A dívida e a dúvida também. Até hoje eu me pergunto se sou credor ou devedor à história. Não só pelo que fiz, mas também pelo que deixei de fazer. Um dia, ainda tiro esse peso dos ombros, deixo de racionalizar o pensamento e trato de ser feliz. Somente isso.
Não gosto de pensar em bloco, embora toda a (des)educação que tive, ao longo da vida, leve-me a isso. Nadar contra a corrente, sempre, não é fácil. E não é só para se exercitar. É mesmo uma questão de sobrevivência, de exercício da liberdade (se é que ela existe).
Meu avô paterno era um preto metido a besta. Casou com uma mulher branca descendente de portugueses, ficou rico, foi vereador em Jaboatão dos Guararapes e contrariou todas as regras sociais do seu tempo. Um atrevido que me deixou imerso em dúvida imensa.
Pelo lado materno, sou descendentes de portugueses e espanhóis que, por seu lado, tiveram origens sarracenas. Fizeram parte das classes produtoras rurais pernambucanas, decaíram e hoje vivem, a grande maioria, numa pobreza franciscana.
Eu, para complicar ainda mais a história, completamete desorientado, casei-me com uma índia maranhense de hábitos e costumes diferenciados.
Como podem ver, um tremendo angú de caroço. Não sei se sou branco, negro ou mestiço. E meus filhos? E meu neto, um galego transgressor?
Onde diabo vamos parar?
Recife, 2010
Não é só o petróleo que é nosso. A dívida e a dúvida também. Até hoje eu me pergunto se sou credor ou devedor à história. Não só pelo que fiz, mas também pelo que deixei de fazer. Um dia, ainda tiro esse peso dos ombros, deixo de racionalizar o pensamento e trato de ser feliz. Somente isso.
Não gosto de pensar em bloco, embora toda a (des)educação que tive, ao longo da vida, leve-me a isso. Nadar contra a corrente, sempre, não é fácil. E não é só para se exercitar. É mesmo uma questão de sobrevivência, de exercício da liberdade (se é que ela existe).
Meu avô paterno era um preto metido a besta. Casou com uma mulher branca descendente de portugueses, ficou rico, foi vereador em Jaboatão dos Guararapes e contrariou todas as regras sociais do seu tempo. Um atrevido que me deixou imerso em dúvida imensa.
Pelo lado materno, sou descendentes de portugueses e espanhóis que, por seu lado, tiveram origens sarracenas. Fizeram parte das classes produtoras rurais pernambucanas, decaíram e hoje vivem, a grande maioria, numa pobreza franciscana.
Eu, para complicar ainda mais a história, completamete desorientado, casei-me com uma índia maranhense de hábitos e costumes diferenciados.
Como podem ver, um tremendo angú de caroço. Não sei se sou branco, negro ou mestiço. E meus filhos? E meu neto, um galego transgressor?
Onde diabo vamos parar?
Recife, 2010
7 comentários:
A árvore geneologica colorida do poeta Clóvis Campelo contada em duas palavras.
Uma beleza. Como sempre tudo o que ele publica nos faz ficar querendo mais e mais.
Parabéns.
Paulo.
Que crônica bela, Clóvis! Parabéns!
Um tremendo libelo contra as políticas "racistas" que querem instituir no país!"
Adorei o que acabei de ler agora.
Um abração
Pois, meu caro Clóvis. Esse negócio de "conta gotas" de sangue, de etnia, coisas que fortalecem as diferenciações sem promover conciliações, é um negócio parecido com a terra de Wallace, ao norte do rio Grande. Vejo e lamento que estejamos aprofundando fossos e não criando pontes nesse debate promovido por um setor do governo. Claro que eu também não sou credor de nada, meu pai foi cortador de cana filho de um negro do "Ventre Livre". Mas como ele, meu avô casou com uma mestiça e meu pai já nasceu branco. Casou com uma mestiça de português com índia e estou eu com os olhos meio puxados, com filhos mestiços. E Eu devo algo a alguém ou alguém do passado me deve..... sei não.
Sei que está difícil para mim ser brasileiro, pois não mais conta a mistura, mas a pureza do sangue.
e não fui deseducado, pois não nasci com educação, pois isso não é genético, não está no sangue. Minha educação tem sido confusa, como a de todos em nossa sociedade, mas não devo fazer opção por uma gora de sangue, ou port uma só tradição. Nâo quero ficar mais pobre do que sou e devedor dos meus bisnetos de meu meus avós.
Clóvis,
Eita Pernambuco Nação Cultural danado. Como são dificeis de se impantar qualquer coisa por aqui. Principalmente se você é um Cavalgado...
Mas, vamos tentando. Desistir, nunca...
Excelente, Campêlo. Nem dívida, nem dúvida. Apenas mais um brasileiro. Com muito orgulho.
Abraços,
Desculpa amigo, mas és um brasileiro... simplesmente.
belo texto...mas pra que tantas perguntas......tá ótimos como estamos...essa confusão arretada!
Postar um comentário