quarta-feira, 20 de junho de 2012

O Forte do Pau Amarelo



Fotografias de Clóvis Campêlo/1990

O FORTE DO PAU AMARELO

Clóvis Campêlo

Nos anos 80, quando morava em Olinda e meus filhos eram pequenos, costumava ir com a família fazer pic-nic na praia de Pau Amarelo, ao lado do Forte. Na época, era um lugar aprazível, sem construções clandestinas. Escolhíamos uma árvore qualquer, na beira da praia, estendíamos a toalha e fazíamos a festa. As crianças adoravam aqueles momentos de lazer puro e barato. Uma verdadeira curtição.
Muitos antes de nós, porém, no dia 14 de fevereiro de 1630, segundo os historiadores, ali chegaram os holandeses da Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais. Sob o comando do almirante Hendrick Corneliszoon Lonck, ancoraram naquele local, no litoral norte de Pernambuco, com um contigente de 7.280 homens e 65 embarcações. Não vieram em busca de lazer barato, mas sim atrás dos lucros do açúcar aqui produzido. Com essa intenção, marcharam por terra e conquistaram Olinda e o Recife. Mas, essa história, todos nós já sabemos.
Embora os holandeses invasores tivessem entrado em Pernambuco pelo local, só 73 anos depois, em 15 de setembro de 1703, é que foi emitida uma Carta Régia ordenando a construção de um forte que servisse de defesa e oferecesse resistência a outras invasões.
O projeto ficou a cargo do engenheiro Luís Francisco Pimentel. A planta do prédio a ser construído foi por ele desenhada em aquarela e hoje se encontra arquivada no Arquivo Histórico Ultramarino, em Lisboa, Portugal. Em 1707, porém, o infeliz engenheiro morria afogado nas águas do Rio Doce. A fatalidade retardou o início da construção que só se iniciaria em 1719. A conclusão do Forte de Nossa senhora dos Prazeres de Pau Amarelo, seu nome oficial, só aconteceria em 1738.
Segundo a historiadora Semira Adler Vainscher, em texto publicado no sítio da Fundação Joaquim Nabuco, em 1801 a fortaleza já possuia 12 canhões de calibre10 e 40. Em 1817, esse arsenal já havia evoluído para 3 peças de bronze, 24 peças de ferro, com uma guarnição de 14 praças e um tenente no comando. Antes, porém, em 1808, quando a sua planta chegou de Lisboa devidamente projetada e calculada, o monumento passou por uma grande reconstrução.
Hoje, apesar de estar situado na cidade do Paulista, o monumento pertence a Prefeitura da Cidade de Olinda, tendo sido tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 24 de maio de 1938, sob o número 84, no Livro das Belas-Artes.
As fotografias acima, retratando detalhes dos Forte em um dos seus vértices, foram feitas por mim, em 1990.
Hoje, passados mais de vinte anos da execução das fotos, sinto a necessidade de voltar ao local para novos registros e outros pic-nics. Dessa feita, levando os meus netos.

10 comentários:

Marcus Prado disse...

Super legal,amigo.
Excelente o artigo de hoje.
Esse forte estÁ n o meu livro digital PAULISTA, A CIDADE DAS CHAMINÉIS

Anand Taza disse...

Poxa vida amigo! A história desse lixo chamado humanidade está cheia desses holandeses, ingleses, portugueses e espanhois e todo tipo de massacres nojentos. É por isso que compartilho a visao de www.osho.com !!!!!! Love

Inaldo Soares disse...

Texto magnífico, Clóvis. Juntando dados históricos com a memória afetiva, você dá a seu texto um caráter personalíssimo, provocando curiosidade no leitor que não conhece o Forte e despertando saudades desse monumento histórico naqueles que, como eu, lhe são contemporâneos e que, portanto, iam também a Pau Amarelo no idos dos anos 1970-80. Isso sem falar na belas fotos.

Valéria Casado disse...

Clóvis,
adorei a aula de história. As fotos me fizeram ficar nostálgica, pois ao fundo ainda pode-se perceber a beleza do mar sem as poluições de hoje. Como era verde o meu vale!!!

Carlos Celso Uchoa Cavalcanti disse...

Caro amigo e conterrâneo!
Na modesta pobreza dos meus conhecimentos, tenho postado textos seus, sem negar a autoria, é claro, no meu blog MOMENTOS, aberto já ha algum tempo mas tão pouco recheado das coisas que realmente representam momentos e que foi a minha intenção primeira; embora tardio, venho solicitar a sua honrosa permissão. Um forte abraço.

Aristóteles Coelho Pinheiro disse...

Construída para reprimir as invasões de navegantes europeus na época, hoje não se presta para conter os invasores contemporâneos, que seguem ocupando os espaços em áreas non aedificandi desordenadamente e impunemente, às vistas grossas do poder público, indiferente à degradação ambiental, roubando o direito coletivo ao lazer, ao sossego, à contemplação da natureza.
Não vá, parceiro, fazer seu piquenique por lá. Evite de repente pisar na merda, estender sua toalha num esgoto, aturar as carroças de cd pirata no mais alto volume "tchuum, tchumm, tchaa, tchaá", "tira o pé do chãooo,,ê Ô, ê ô".
Sugiro que faça o piquenique em Seichelles, Ilhas Salomão ou no Caribe.

Valdez Cavalcanti disse...

Bom trabalho, mestre Clovis. É o que faz a internet valer a pena.

Joaquim Macêdo Júnior disse...

Eu também, Clóvis. Bom saber a história verdadeira do forte: só foi erguido depois que os holandeses chegaram por ali. Parece que no Brasil as coisas sempre funcionam assim: providência depois de a fechadura arrombada. Morei no Janga muito tempo. Também fiz paradas em Pau Amarelo. Bacana!!!!!!

Clóvis Campêlo disse...

Meus caros, oito comentários é o suficiente para superar a conta do mentiroso (sete).
Meu caro Ari, não acertei na megasena para ir ao paraíso. Nem mesmo acertei no milhar ou ganhei 500 contos. Mas, valeu a sugestão. Gosto dos seus comentários ácidos. Eles merecem a posteridade no blog.

Tarciso Oliveira disse...

Texto muito bom. Tão bom que o repercutimos no nosso blog, http://www.paulista40graus.com.br.
Aguardamos a visita do Clóvis para nos brindar com suas novas impressões sobre o Forte do Pau Amarelo. De qualquer forma, parabéns pelo texto!