segunda-feira, 26 de março de 2012
Na onda do marketing
NA ONDA DO MARKETING
Clóvis Campêlo
O meu amigo Renato Boca-de-Caçapa, o filósofo do povo, sempre tem razão. E tudo indica que ele acertou mais uma vez. Falo dessa pendenga entre os irmãos “sertanejos” Zéze de Camargo e Luciano. Desde o início que o ilustre pensador movido à álcool afirmou com convicção de que essa briga nada mais era do que uma estratégia de marketing. Deu certo. Em menos de uma semana, a dupla se fez presente em todos os “grandes” programas da televisão brasileira. E o que é melhor: publicidade de graça. Ninguém merece.
Nos meus devaneios dominicais diante da máquina de fazer doido, terminei voltando no tempo e lembrando da falsa notícia inventada pelo falecido Carlos Imperial, no final dos anos 60, sobre Luiz Gonzaga. O velho Lua andava por baixo na mídia, ofuscado pela novidade das guitarras da Jovem Guarda, e para colocá-lo novamente em evidência, Imperial lançou a notícia de os Beatles iriam gravar a música Asa Branca. Na época, os Fab Four haviam acabado de lançar o álbum Abbey Road e a notícia estourou como uma bomba na imprensa nacional. Só na revista Veja, foi feita uma matéria de quatro páginas falando sobre o assunto e abordando a carreira musical de Luiz Gonzaga, a sensibilidade dos Beatles, a fusão da música pop com o baião, etc. A invenção rendeu bons dividendos ao Rei do Baião que durante algumas semanas ocupou um espaço privilegiado na mídia.
Os próprios Beatles, aliás, eram mestres na arte de divulgar os seus trabalhos assim. Na capa do disco Abbey Road, acima citado, aparecem os quatro músicos atravessando a rua, com Paul McCartney de terno e descalço (na Inglaterra, os mortos são enterrados assim) e com um fusca, ao fundo, onde se lia a placa IF 28. Ou seja, uma alusão à suposta morte de Paul, que, se estivesse vivo estaria com a idade de 28 anos. Uma estratégia inteligente e uma história que hoje todo mundo conhece.
No disco Sargent Peppers, os meninos de Liverpool aparecem com roupas psicodélicas coloridas e flores nas mãos, participando do enterro dos “velhos” Beatles de terninhos comportados e cabelos bem cortados, ao lado de grandes figuras do cinema, das artes e dos esportes, admiradas pelos quatro. Nem é preciso dizer que o disco traz o renascimento musical do grupo, com a consolidação de novas propostas já esboçadas em discos anteriores. Mais uma jogada publicitária de de mestres.
Mas, infelizmente, Zezé de Camargo e Luciano não são os Beatles e não trazem, muito menos, na sua bagagem musical, a perspectiva de uma mudança significativa. O fato novo se esgotará em si mesmo, até que seja necessária uma nova jogada de marketing em busca da atenção da mídia e da emotividade do seu público consumidor. Ideias curtas, música pobre e ruim.
Será que nós merecemos isso?
Recife, novembro 2011
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2 comentários:
Jogada de marketing besta, mal feita e que irritou a quem já não apreciava o chororô e penso que não aumentou em nada a queda que já vinham apresentando.
Com as outras sacadas, nem dá para comparar: pela qualidade musical envolvida e pelos resultados que deram
Concordo com você em parte, Clovis. Não acredito que seja o seu caso, mas alguns intelectuais costumam malhar o pau em certos gêneros musicais, sem se deter antes em ouvi-los. Eu confesso a você que tenho no meu acervo DVD e CD de monstros sagrados da MPB, como Chico Buarque, Caetano, etc. Gosto de ouvir também Andrea Bocelli, Mercedes Sosa, Violeta Parra e muitos outros do gênero. Porém, tenho também DVDs de zezé de Camargo e Luciano, por entender que entre as pseudas duplas sertanejas (que gravam músicas que não contém nenhum conteúdo sertanejo), eles dois defendem composições com alguma mensagem que se aproveite, inclusive são afoitos em defenderem outros gêneros nos seus show, como em dois DVDs, onde Zezé interpreta com bastante propriedade as músicas Caruso e aquela do Hino das Olimpíadas de Barcelona-92 que fez sucesso nas vozes de Freddie Mercury e da soprana Montserrat Caballé. No seu show, zezé interpreta essa última com Silvinha (esposa do cantor Eduardo Araujo). Já em outro show ele canta HeY Jude dos Beatles. Isso também não quer dizer que a metade das músicas dele eu não escuto.
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